O velho padre abandonou a vila quando já estava com os pés para a cova.
Foi chamado a Coimbra, para uns últimos anos, mais confortáveis e perto da família,
que se resumia a duas irmãs um pouco mais novas,
sendo que uma era viúva e a outra solteira desde sempre.
Durante quase três semanas toda a vila viveu em pecado, sem missas nem confissões,
sem comunhões nem verbenas
O padre novo, mas não tão novo assim, chegou a meio da terceira semana.
Ao volante dum Fiat Uno, a acelerar pela rua do coreto, e a acenar às beatas,
que se foram benzendo à sua passagem.
Com uma ligeira derrapagem, parou no adro da igreja e saiu do carro com desenvoltura.
Pegou em duas malas pequenas e dirigiu-se, sem hesitações, para a casa paroquial.
Aos rapazotes que jogavam à bola por ali, entregou-lhes a chave da bagageira e eles,
no meio de grandes risadas, foram-lhe buscar um grande e pesado baú.
Mal soube da notícia, a Ti Alzira, governanta juramentada do velho padre,
foi-se apresentar ao serviço.
Cozinheira de mão cheia, mulher de limpeza, engomadeira e lavadeira.
Seria difícil resistir aos seus argumentos.
Sem grandes conversas o padre novo acertou pormenores, horários e coisas de dinheiro.
Ela começaria no dia seguinte. Aquela tarde era para ele descansar da viagem.
No Domingo seguinte, a pequena igreja rebentava pelas costuras.
O padre novo falou de assuntos misteriosos, doenças venéreas,
práticas sodomitas e relações lésbicas..
Aflorou o problema das drogas, da troca de casais e da pedofilia.
Advertiu para o perigo dos sites pornográficos e dos chats de conversação.
Excomungou os vibradores, os óleos de massagem e os cremes excitantes.
Apontou o dedo às garotas de programa, call girls e às table dances.
Vociferou contra o sexo grupal, o onanismo e o felattio.
Demorou-se no cunnilingus, salvo seja, que apelidou de demoníaco.
Quando a missa acabou, todas as senhoras da vila
O foram envolver em manifestações de carinho.
Beijaram-lhe as mãos, ofereceram-lhe um folar, flores, um missal antigo.
Mas foi a D. Violeta, a mulher do farmacêutico, quem resumiu melhor
o sentimento geral:
“- Estamos tão contentes que o senhor Padre tenha voltado a dizer a Missa
… em Latim !!! ”
Nico Lauto Lentinho
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sábado, 9 de maio de 2009
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Gosto demais do que está escrito em latim.
ResponderExcluirModernices...clássicas.
ResponderExcluirUma sátira muito bem conseguida a mostrar que as pessoas não ouvem ou não entendem o que os padres dizem mas mesmo assim continuam católicos por hábito, vício ou medo.
ResponderExcluirDiácho...não é que o raio do padreco se esqueceu de recordar que já sendo o preservativo distribuido no Secudário, há que apelar ao governo para também o distribuir nos infantários.A sátira ficaria mais abrangente!!!
ResponderExcluirAo menos no Cunnulingus e no Felattio não teve que trocar de língua... salvo seja!
ResponderExcluirUm conto bem disposto e com moral nas entrelinhas.
ResponderExcluirGostei, e não é história de "gajas"...( estou a brincar).
Não é que tenha Importância, mas tInha algo debaIxo da lIngua...
ResponderExcluirhttp://en.wikipedia.org/wiki/Cunnilingus
Nós ficamo-nos pelo felattio...
ResponderExcluirEstá visto que há pessoas com estórias para contar, e que sabem escrever em português.
ResponderExcluirParabéns :-)
Óptimo retrato de um certo Portugal... e "nick" a condizer!
ResponderExcluirO conto é, na verdade, uma bem conseguida parábola sobre comunicação. Toda ela...(a comunicação)!
ResponderExcluirQuanto ao pseudónimo é dos mais bem conseguidos que aqui apareceram!