Saí da carpintaria no meu andamento bamboleante disposto a dar um passeio pelo belo jardim da Estrela, aquele que fica em frente à Basílica e que como sabem nasceu no século XIX.
Não vou aqui descrever a variedade das suas árvores nem o encanto dos seus lagos e áleas frondosas
Só sei porque tinha escutado uma conversa onde alguém que eu não conhecia, contava em bonitas palavras que por ali passeavam crianças e pessoas mais velhas aproveitando o que parecia ser um oásis no meio do barulho das ruas que o rodeavam.
Pois bem, para ali me dirigi com a vaga sensação de que despertava a curiosidade de quem por mim passava mas era coisa a que eu já estava um pouco habituado, acontecia sempre que na carpintaria entrava pela primeira vez, algum novo cliente.
Sobretudo as crianças soltavam estridentes risadas e galhofavam nas minhas costas mas eu seguia o meu caminho, imperturbável , alheio a todos mas concentrado no verde mais verde que eu alguma vez tinha visto em toda a minha ainda curta existência.
Entrara pelo portão oposto à Basílica onde mal dera alguns passos, admirei uma bonita escultura esculpida na madeira de uma árvore e quase parei porque me pareceu sentir que talvez tivéssemos alguma coisa em comum.
Curiosamente até me pareceu ver uma Moira agarrada a uma paleta, pintando algo que não consegui descortinar.
Por assim dizer, foi ziguezagueando e no meu desengonçado andar que cheguei ao
outro lado do jardim, batiam as onze badaladas naqueles sonoros sinos de tão belo timbre.
Virei à esquerda e comecei a descer uma rua de transito cerrado, com a sensação de ter sobre mim cravados os olhares de transeuntes, inclusive uma senhora de porte aristocrático e agarrada a uma grande boquilha não se coibiu de soltar sonora gargalhada.
Presumi que tanto poderia ser comigo como por causa de um seu amigo que a acompanhava e que tinha ares de galo conquistador à laia de bom malandro.
Segui caminho.
Foi então que um pouco mais abaixo quando passava junto a uma bela vivenda rodeada de altos muros e grades verdes, um façanhudo policia se dirigiu em passo acelerado para mim e sem mais rodeios gritou, alto e bom som:
- Seu desgraçado, vai já preso !
Como se atreve a vir gozar com o senhor Primeiro Ministro, com esse nariz enorme?
- Mas senhor policia, que culpa tenho eu, de ser o Pinóquio?
Carapau de Corrida
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domingo, 10 de maio de 2009
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Parabéns Carapau !
ResponderExcluirP.S. O jardim e a Basílica são uma perdição... :-)
Este Carapau leva-nos a passear acompanhado, tanto quanto me pareceu com a Moira do Trabalho,Contessa e o própio Galo !
ResponderExcluirMalandro...eu já tal tinha pressentido!!!
Mas o melhor está no final.Boa.
Divertido!Gostei do lado ficção a ligar bem com o real.
ResponderExcluirE não é que eu estive mesmo neste fim de semana no Jardim da Estrela?
ResponderExcluirE não fui de Burqa!
O Melhor Conto vai ser difícil de encontrar mas o Pior...
ResponderExcluirO melhor comentário vai ser dificil de encontrar mas o pior..
ResponderExcluirMoira...
ResponderExcluirBem me pareceu que a conhecia, mesmo sem o Galo ao colo!
Quanto ao pencudo, devia ser um Amigo meu que, um dia destes, foi confundido com o Senhor Engenheiro Sócrates...