sexta-feira, 22 de maio de 2009

É brilhante este Brilhante

Festival de Cannes

"...É para já a obra maior da competição de Cannes:
"Kinatay", do filipino Brillante Mendoza.
Uma viagem ao fim da noite de Manila
que nos faz cúmplices de uma barbaridade.
Um susto de filme.


Como quem não quer a coisa, pega no espectador
mais ou menos desprevenido, mais ou menos inocente
- porque nunca se é, completamente -
e leva-o pela noite dentro até ao fim da noite.

Não há forma de abandonar a viagem,
mesmo quando começamos a encontrar na escuridão
os contornos da brutalidade.
Estamos encurralados na passividade do "voyeurismo".
E mesmo que acabemos a viagem razoavelmente imaculados,
seguros - porque nunca saímos assim, completamente,
de um filme -, nunca nada vai ser igual.

É essa a experiência do espectador de "Kinatay",
do filipino Brillante Mendoza, obra brutal,
para já o filme maior da competição de Cannes.

Nada vai ser igual a partir de agora em relação ao cinema de Mendoza,
o que não é nada que estivéssemos a pedir,
um momento de epifania com a obra deste realizador de 49 anos
que começou a fazer filmes há cinco, vindo da publicidade e do teatro,
e que esteve em concurso em Cannes o ano passado com "Serbis".
Essa viagem do espectador pelo horror é a viagem
do protagonista de "Kinatay" - em filipino, "Chacina".

Um estudante na academia de polícia de Manila, já com um filho
e um casamento na linha do horizonte mais próximo
- e Manila amanhece no início de "Kinatay"
- não se pode dar ao luxo de prescindir
de fazer trabalhinhos por fora, de pactuar,
despreocupadamente, com o "milieu" da droga.

Nada que afecte o seu projecto de inocência.
Até que entra numa carrinha - começa a anoitecer em Manila -,
onde vai passar grande parte desta viagem.
Ao lado destes "gangsters" aparentemente de trazer por casa
e de uma prostituta que não cumpriu as suas obrigações.

Já é noite em Manila quando a carrinha, o aprendiz, os gangsters
e a prostituta (desmaiou devido aos murros) chegam a uma casa.
Aí o serviço vai ser completo - o título do filme é "Chacina".
Começa a amanhecer em Manila quando um estudante
da academia de polícia regressa a casa, exausto.

Adormece no táxi. É manhã em Manila..."

Vasco Câmara, em Cannes

Um comentário:

  1. Pelo que já li acerca deste filme, o Quem quer ser...ao pé deste é um conto de fadas.

    ResponderExcluir