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No exacto dia, 19 de Janeiro de 1969, em que era inaugurada
a grande igreja católica de Medugorje, Velic Ustinov,
jovem de treze anos, cometia o seu primeiro crime grave.
O estupro de uma jovem vizinha, que seduzira
com palavras doces e o seu sorriso eslavo de lobo esfaimado.
Enquanto a rapariga chorava a um canto do palheiro, de dor
e vergonha, o jovem Velic sacou da navalha de lâmina afiada,
que sempre o acompanhava, e encostando-a ao trémulo pescoço
da assustada vítima, ameaçou-a baixinho,
de sequelas terríveis para ela e restantes membros da família,
caso repetisse alguma vez o que acabara de se passar.
Depois acabou de vestir-se e saiu a assobiar, em direcção
à igreja onde decorria a primeira missa.
A igreja, considerada por muitos demasiado ambiciosa
para os 500 habitantes da pequena vila, viria, mais tarde,
com o pretenso aparecimento da Virgem de Nazaré,
e os 2 milhões anuais de peregrinos que se seguiram,
a ser de extrema utilidade
para o desenvolvimento de toda a região.
Para Velic, o roubo, logo na primeira semana, de um par de
castiçais em talha dourada, permitiu-lhe, com o produto da venda,
a que juntou uns talheres de prata existente na casa dos pais,
viajar até Saravejo.
Aí formou-se na escola da rua, em roubos, brigas, assaltos,
violações e até o espancamento até à morte
de um velho vagabundo,
que o incomodou, numa noite menos feliz.
Já com Milosevic no poder e em plena luta fratricida,
que mataria cerca de 200 000 bósnios e sérvios,
Velic Ustinov, alistou-se no exército,
para dar asas ao seu sadismo tresloucado, que o fez alcanças
as divisas de sargento em poucos meses, especializando-se
em pilhagens, matanças generalizadas, torturas e confissões,
arrancadas à força.
O fim da guerra e a sua condenação sumária à morte,
fê-lo repensar o futuro.
Tendo subornado dois guardas, conseguiu fugir da prisão
onde se encontrava, recolheu o dinheiro, ouro e jóias,
amealhados entretanto, e fugiu, por mar,
pelo único porto existente no país – a cidade de Neum.
Só se ouviria falar dele, anos mais tarde, em Moscovo,
em plena dissolução da União Soviética,
já com grandes ligações à Máfia local e especializado
nos negócios de armamento.
A sua associação a Sérgio Cassini começou com a venda
de duas centenas de Kalashnikoves AK-100
e outras tantas HK 416, com que Sérgio
queria presentear os barões dos morros cariocas.
Uma empatia imediata surgiu entre os dois, aliada
ao modo profissional e eficaz como decorreu o negócio
e ao posterior convite para que Velic
viajasse até ao Rio, permanecendo
quase um mês na sumptuosa ilha de Angra dos Reis.
Com todas as mordomias que incluíam mulatas fabulosas,
droga sem limites, jogo até de madrugada, shows lésbicos,
enfim, todo um mundo de cor e sensualidade,
o sérvio ficou subjugado aos encantos do Brasil.
Foi durante essas férias, as primeiras da sua vida,
que Velic recebeu, e aceitou, a proposta de se associar
a Sérgio Cassini,
na expansão internacional dos seus negócios…
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