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Ainda antes de festejar o vigésimo aniversário já Sérgio Cassini era milionário, de novo.
Inteligente e corajoso, agressivo e sem escrúpulos, não hesitara em utilizar os inúmeros contactos com que crescera na mansão da Bela Vista.
Desde o início das suas novas actividades, contara com o apoio precioso de Miltinho do Pagode.
Quando, na sequência dos despedimentos do motorista, governanta e demais pessoal, transmitira a este a impossibilidade de continuar a pagar os salários e a manter o mesmo estilo de vida, Miltinho, de rosto fechado, murmurara, com o seu forte sotaque de nordestino:
“- Não faz mal, patrão quando poder paga salários em atraso”.
Sérgio não soube como negar, engoliu um dos seus últimos momentos emotivos e afirmou com segurança:
“- Pode estar certo, que lhe vou pagar em dobro”.
A partir daí, estabeleceu um corredor de abastecimento de droga entre os fornecedores das favelas e os seus amigos famosos, e não tanto, da Zona Sul.
Não havia festa sem um contacto prévio com Serginho, como era conhecido na gíria local, para que este abastecesse de coca e haxixe, de primeira qualidade, toda aquela gente ansiosa por sensações novas, por viver a vida no limite.
As poucas vezes em que surgiram problemas, foram utilizados os velhos contactos políticos ou militares, mesmo que alguns já não tivessem a mesma importância do antigamente.
Para isso e sempre que tal era necessário, Sérgio recorria à chantagem, descobrira álbuns interessantíssimos entre os despojos do pai, ao suborno e, à medida que a sua rede se tornava mais forte, até à ameaça física.
Miltinho fora o primeiro a abrir-lhe as portas dos morros, a apresentar-lhe os donos das favelas, os maconheiros, os barões da droga.
A simpatia natural, a inteligência e a facilidade negocial, fizeram o resto.
Uma das primeiras mudanças que a entrada de dinheiro fresco provocou foi a de endereço.
A família Cassini mudou-se, então, para um amplo apartamento de cobertura, na Delfim Moreira, com vista para o mar.
As duas irmãs encalhadas, tornaram-se noivas e casaram rapidamente com dois herdeiros de apelidos sonantes e contas bancárias no vermelho.
Um tal Moreira Salles, completamente agarrado à cocaína, deu o sim depois de ter a promessa do cunhado, de abastecimento com carácter de perpetuidade.
O outro, vindo duma família quatrocentona de São Paulo, mas debaixo de fortes suspeitas acerca da sua masculinidade, acedeu em passar para o rol das pessoas casadas para conseguir uma fachada de respeitabilidade que, de outra forma, uns filmes comprometedores realizados numa centro de massagens gay e, por acaso feliz, nas mãos de Sérgio Cassini, poderiam deitar abaixo.
Este último, para além da penthouse comprara uma pequena ilha em Angra dos Reis onde centralizava os seus negócios, entretanto ampliados com a entrada de um sócio sérvio, para mercados europeus e norte americanos.
Era nesse local paradisíaco, para onde viajava de helicóptero, que recebia as suas inúmeras conquistas da alta sociedade ou do mundo do espectáculo, que gostava de perverter, viciar e, depois, abandonar como uma camisa velha.
Foi então que, numa viagem de negócios a Milão, conhecera Gabriela Torres.
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terça-feira, 22 de setembro de 2009
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A descrição dos personagens já nós temos...
ResponderExcluirCheira-me a que a partir de agora os acontecimentos vão-se suceder...
Eu por acaso até acho que já aconteceu muita coisa, só com a descrição dos personagens.
ResponderExcluir"Os Crimes do Galo"primeiro volume da colecção de policiais deste blog. Acertei?
ResponderExcluir"Menino do Rio"
ResponderExcluirCalor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção, corpo aberto no espaço
Coração
De eterno flerte
Adoro ver-te
Menino vadio
...............................
Eu canto pra Deus proteger-te
Já cá está o meu "amigo", grande amigo da minha"amiga"...Que saudades !!!
ResponderExcluirQuanto ao folhetim, estou a gostar bastante...mas convem não esquecer os links paar podermos ir ver os episódios anteriores.
MTH, a ironia fica-te quase tão bem quanto o luto àquela tipa com um nome grego...
ResponderExcluirQuanto penthouse e à pequena ilha em Angra dos Reis, eu trocaria isso tudo por uma casota qualquer em Mariana (MG), Brasília (DF) (mas ao pé de 'Gilberto Salomão'...) ou São Gonçalo do Rio das Pedras (ainda MG, ao lado do meu amigo Martin).
Venham mais crimes,
A.