Sim senhor, o 1º Prémio de MicroContos terminou, as Vencedoras já foram anunciadas, a maior parte dos prémios entregues e a feitura do livro, decorre a bom ritmo. Mas isso não impede que continuem a escrever as vossas histórias e a enviá-las aqui para o blog.
Nós iremos publicando-as ( com o tag Contos do Arco da Velha, uma homenagem às Noites do FM Stéreo, que fiz com o António Santos) e depois logo se verá o que iremos fazer com elas. Um novo Prémio, um novo Livro, who knows?
Em tempo, como muitos dos nossos seguidores mais assíduos acham que, sempre que surge uma nova assinatura é de mim que se trata, quero desde já deixar claro que o(a) Portugês Suave não tem nada a ver comigo.
Português já fui mais, de Suave tenho pouco, e até nem fumo...
O(a) Autor(a) pediu que lessem o Conto ao som da música abaixo. Artistas...
A festa
Nessa tarde optou por dormir uma sesta, sono retemperador para uma soirée que se previa longa e animada. Foi acordado pelo despertador por volta das 18h, tomou um duche demorado para amolecer bem os pêlos da barba e desfê-la com afinco assim que saiu da box.
Perfumou-se com o seu perfume de eleição – um enorme frasco de Ralph Lauren – que complementou com o desodorizante e o creme hidratante da mesma marca.
Aparou as patilhas um pouco abaixo do lóbulo mas mantendo a sua largura, o que lhe dava um ar másculo e confiante. Ao cabelo bastou-lhe passar uma loção hidratante e deixá-lo secar ao ar com o seu natural tom blasé. As suaves ondulações grisalhas nunca o tinham deixado ficar mal, mesmo noite fora depois de muita música, fumo e suor a pontuarem-lhe a testa.
Ligou a música e começou a vestir a roupa previamente escolhida, cuidadosamente disposta sobre a cama. Herb Albert era a banda sonora ideal para aquele momento, para si mágico.
Sobre uns boxers brancos muito justos colocou as calças negras pontuadas de alto a baixo por uma discreta mas indispensável faixa de cetim da mesma cor. Apertou a intrincada cintura com botões e fivelas e não pôde evitar olhar-se ao espelho, ainda em tronco nu. Apesar do intenso trabalho dos seus dias, conseguia arranjar tempo para duas ou três visitas semanais ao ginásio e isso era evidente pelo despontar de alguns abdominais mais atrevidos. Gostou do que viu, o que reforçou com um sorriso malandro de canto da boca.
Prosseguiu na indumentária. Com meia camisa vestida, inclinou-se sobre a cómoda e pôs a música um pouco mais alto. Estava nitidamente entusiasmado. Talvez a perspectiva de novos contactos de trabalho ou o olhar de uma loira o esperassem essa noite. E nessa convicção optimista, lá foi colocando a sucessão de vestes.
A camisa rematou-a com uns botões de punho quadrados. Também o laço tinha o seu quê. Não era daqueles comprados feitos; era uma longa fita de tela e cetim, ondulada, que com à vontade apertava em torno do colarinho até se tornar num irrepreensível papillon. O casaco cobriu o resto do corpo; assertoado, de botões muito negros e corte impecável.
Olhou-se novamente ao espelho. Sacudiu as patilhas, chupou os dentes, enrolou os lábios para os humedecer e sorriu.
Fechou a porta atrás de si e partiu, confiante, no seu carro até ao local da festa.
Como habitualmente, optou por entrar pela porta das traseiras.
Pegou na bandeja e começou, então, a servir os flutes aos convidados.
Portugês Suave
vou tentar com a música...
ResponderExcluirAs Noites do FM Stéreo eram uma delícia, só comparáveis com o velhinho 'Em Órbita' (RCP) e com aquele programa da Renascença que era feito por um dos primos meus, e portanto do cujo nome convenientemente me esqueci...
ResponderExcluir(Lier, lier, pants on fire !)
Do Ralph Lauren prefiro as T-Shirts, o cheiro dele não é a minha côr...
Seja como fôr acho que quem prossegue na indumentária merece vestir os 'pólos' lá do homem, não exagere na água-de-colónia, o cheiro é ligeiramente enjoativo (No pun intended, J.) :-))
Parabéns, Portugês Suave, estou com falta de 'flutes'...
Boa estreia.
ResponderExcluirUmmmmmm !
ResponderExcluirSe este não é o nosso Galo então é gémeo no alinhar das palavras e na imaginação.
Mas palavra de Galo é sentença definitiva.
Encaixo com dificuldade mas que remédio...
Obrigad@ pelo cumprimento, Zé Manel!
ResponderExcluirSer comparad@ ao Mestre Giovanni é sempre um elogio.
Mas encaixe, encaixe que é verdade.
Nota: para os mais distraídos, "@" é uma modernice para designar em simultâneo o masculino e o feminino de um vocábulo. Tem piada, não tem? Sempre é um ázinho dentro de uma bolinha...
Parabéns mais uma vês pelo conto, Português Suave, e obrigado pela info sobre a arroba modernice. :-))
ResponderExcluirBem....com Herb Albert à mistura até eu vestia o meu vestidinho de noite!!!
ResponderExcluirBelo conto. Uma estreia? Começa a ficar difícil escolher entre tantos Galináceos...
Parabéns!