quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Beliscando um salgadinho

25

O local, não podia ter sido mais bem escolhido.
Marcos Tupinambá sugerira-lhe o Barril 1800 e ela,
sem sonhar o que é isso significaria, dissera-lhe que sim.
Depois de informada na recepção, começara a caminhada,
que nem era longa, entre os dois pontos.
O Barril 1800 é uma cervejaria com mais de trinta anos de existência,
no início da praia de Ipanema, perto do Arpoador,
e , quem em tempos, ladeava o mítico Castelinho,
antes deste ter sido deitado abaixo para dar lugar a um alto edifício
com um apartamento de luxo por andar.
Conta-se, até, que Marcos Tamoyo, à data Prefeito do Rio,
tinha recebido como luvas para autorizar o facto,
o apartamento de cobertura do referido imóvel.
Sem saber nada desta história, Deolinda Simões entretinha-se
a petiscar o seu pratinho de Queijo à Milanesa,
acompanhado duma Coca Cola estupidamente gelada.
Começava a entrar no espírito da cidade e a apreciar aquele
dolce fare niente que fazia a sua Massamá natal parecer uma coisa
feiosa e cinzenta, que na realidade era.
Recordou a noite anterior, ela no meio daqueles homens,
todos sinistros de maneiras variadas, as histórias ouvidas,
principalmente a do sérvio, e as palavras finais do anfitrião, Sérgio Cassini.
“- O papo tá muito bom, mas tenho que trabalhar” disse, debruçando-se
na direcção da dupla lusitana “mas antes deixo um aviso.
Divirtam-se no Rio, vão visitar uma favela, assistir a um ensaio
duma Escola de samba, ao Corcovado e ao Pão de Açúcar, mas nunca,
e este nunca é mesmo um nunca, se voltem a cruzar no meu caminho.
E agora divirtam-se, a despesa é por minha conta”.
E com um gesto largo que incluía as sambistas mulatas e os músicos,
que actuavam, no momento,
levantou-se, seguido dos outros, sem mais palavra.
Enquanto Miltinho fuzilava Teo, com os olhos,
Velic passou a mão ao de leve pela face de Deolinda
“- Que pena se tiver que retalhar este lindo rosto. E o resto, claro…”
Ainda hoje, no meio daquela gente toda, que se divertia, cantando,
bebendo, tocando e comendo, Deolinda sentiu um arrepio.
Aquele homem tinha o condão de a assustar.
E ela não era muito dado a sustos, tendo crescido no meio
de gangues dos subúrbios lisboetas, habituada às viagens de comboio
onde deflagravam lutas por dá cá aquela palha e, até, aos bêbados
e drogados da Praça da Alegria, onde trabalhava.
Mas bastou-lhe espraiar os olhos pelas actividades
que se desenrolavam à sua frente, na praia,
para se descontrair, de imediato.
Jogos de vólei, samba ritmado em caixas de fósforo, cuícas e pandeiros,
vendedores de chá mate e limonada, de saídas de praia,
os fios dentais e as paqueras, o queijo fundido, o milho frito e a água de coco...
tudo acontece numa praia carioca,
principalmente, se essa praia se chama Ipanema.
Foi nesse momento que lhe tocaram no ombro.
Estremeceu, involuntariamente.
“-Assustei, você, Deo ?”
Marcos Tupimanbá, sorria-lhe
enquanto puxava uma cadeira, para se sentar.

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7 comentários:

  1. Continuo a minha viagem virtual ao Rio de Janeiro, graças ao Galo...

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  2. Muito BEM, fizes te me lembrar as excelentes férias no Rio de Janeiro, o ensaio da escola de samba....inesquecível

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  3. E o Rio de Janeiro continua lindo...

    Magnífica a criação do ambiente, até senti os cheiros do Rio !

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  4. Nem o melhor guia turístico!!!!!!!!!

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  5. foi mesmo no Arpoador que fiquei quando estive no Rio...

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  6. Isto até pode tornar-se numa endless story, hein Galo!?

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