Campanha Eleitoral

Fiquei espantado quando vi a cara do meu vizinho do 2º direito entre o cartaz de um António Costa sorridente e o olhar matador de um Santana Lopes, com calvície precoce.
Não sabia que o Asdrúbal estava na Política…
Mais à frente, na Praça de Espanha, um barbudo incitava ao voto no BE, enquanto a alva dentição do Portas parecia murmurar” dois dígitos, dois dígitos”.
Mas era o Asdrúbal que ocupava o maior destaque com dezenas de pequenos cartazes espalhados pelos postes de iluminação, nos abrigos dos autocarros, um pouco por todo o lado.
Como se chamaria o Movimento que ele dirigia?
Eu sempre achara que ele era um homem de valor.
…E tão modesto !
Nem uma vez o ouvira mencionar a Política. Nem o Partido, onde ele, via agora, era cabeça de cartaz.
De que ele era inteligente e tinha bons contactos já eu me apercebera.
Por isso, passara-lhe para as mãos todas as minhas economias e as da minha sogra, viúva abastada, com certificados de aforro e acções várias, que adorava as queijadas de Sintra que o Asdrúbal lhe levava, à hora do chá.
Simpático, sorriso de orelha a orelha, mas simples como poucos.
O dinheiro, melhor o dinheirão, contando com as massas da velhota, iria começar a render 10% ao mês , tão depressa chegassem os dividendos do Dubai…
Eu, realmente, estranhara que depois de ter recebido o dinheirame, o Asdrúbal nunca mais tivesse sido visto no bairro.
Percebia, agora, que andava em campanha…
A percorrer os mercados e as feiras, nas arruadas pela cidade, em manifestações e comícios.
Sem sequer poder ir dormir a casa…É dura a vida de um Político.

Estacionei o carro.
Ao longe conseguiam-se ler os slogans dos outros – “ Atitude temos nós”(?), “Podemos fazer melhor”,” Uma sociedade mais justa”, blá, blá, blá…
Mas o texto do cartazes do Asdrúbal não se conseguia ler.
Sempre modesto, o rapaz.
Aproximei-me.

“ Asdrúbal Sampaio
Perigoso Burlão – Procura-se
Dão-se alvíssaras a quem souber do seu paradeiro.”