sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Cidade que, nem sempre, é Maravilhosa

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A notícia abriu o Jornal Nacional, telejornal da Globo.
“Garota de programa encontrada assassinada num motel da Barra…”
Ia cuspindo o pedaço de picanha que, até alguns segundos atrás, me estava a saber maravilhosamente bem.
“ Junto ao corpo, um pequeno galo, conota este crime com outros já efectuados em várias capitais europeias…”
Ao reparar que a Deolinda dividia os olhares entre o televisor e a minha expressão, certamente alarmada, levei o copo de cerveja à boca, na tentativa de disfarçar.
“ Para alguns policiais o galo é uma miniatura do famoso Galo de Barcelos português, o que levanta suspeitas de que o assassino possa ser algum português ou alguém com relações com esse país.”
Pedi ao garçon, mais uma rodada.
“ Lembra-se que uma das outras vítimas foi morta barbaramente em Lisboa…”
Engoli o chôpe de penalty.
“ A jovem, natural de Ribeirão Preto trabalhava, também, como go go girl numa discoteca da Cinelândia…”.
Vi que a minha secretária não iria aguentar a curiosidade, por muito mais tempo.
Paguei, saí para a rua e chamei um táxi, novo fusca, a quem pedi que nos levasse até à Cinelândia, no Centro.
Só então expliquei a minha vigilância frustrada à Gabriela, o ter-lhe perdido a pista na zona do crime, o que era uma estranha coincidência, o tê-la visto regressar ao Copacabana Palace muitas horas depois, quando montava, de novo, vigilância ao mesmo, e o aceno melancólico e exausto que ela me fizera, dispensando-me até ao dia seguinte.
Deolinda contrapôs com as suas descobertas.
O facto do gangue do Miltinho ter um galo como símbolo e dele estar presente na data dos assassinatos, nas cidades onde estes ocorreram.
Tal facto, em vez de me descansar, alertou-me, ainda mais, os sentidos.
“-Então se ele estava também é provável que a Gabriela estivesse, ou não ?”
Vi pela expressão da Deolinda, que esta hipótese acabara, também, de lhe ocorrer.
“- Não sei, tenho que investigar…mas é natural”.
Entretanto tínhamos chegado à Cinelândia.
A Cinelândia, no início da Avenida Rio Branco, é uma zona híbrida.
De dia, é o local onde desaguam milhares de pessoas que trabalham no Centro, o equivalente à Baixa lisboeta.
Ao fim da tarde e noite, as inúmeras e famosas esplanadas, sendo a mais conhecida
O Amarelinho, enchem-se de imensos cariocas para festejarem o fim de mais um dia de trabalho ou o início de mais uma noite de farra.
E são múltiplos os bares com bailarinas que fazem strip, casas de massagens, discotecas de alterne, tudo o que a imaginação carioca, sem limites, consegue inventar.
O local onde Claudette, a vítima, trabalhava chamava-se Paradise Nights.
Quando nos aproximámos da discoteca, uma limusine parou à nossa frente.
Do interior, um sorridente Sérgio Cassini convidou-nos a entrar:
“- Posso dispor de cinco minutos do vosso precioso tempo?”

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2 comentários:

  1. Este folhetim e as referencias ao Rio, têm-me aberto o apetite para dar lá uma saltada no Reveillón.
    Talvez encontre o Jaime Varela...ou a Gabriela Torres.

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  2. Seu Varela, tô ficando arripiada.
    E quando fico assim, não sei, não...

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