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Ainda me parecia estar a sonhar, ao olhar pela centésima vez para o calçadão que se estendia à minha frente.
Pedra portuguesa, preta de e branca, em ondas simétricas que se tinham tornado um dos ex-libris do Rio de Janeiro.E mais à frente, junto ao Hotel onde estávamos hospedados, a Deolinda e eu, os desenhos tornavam-se abstractos, acrescidos de pedra rosa, em magníficas composições do arquitecto Burle Marx, como me informaram na recepção do Othon.
Mas recuemos cinco dias atrás, ao jantar italiano em Lisboa, onde Gabriela Torres, sem papas na língua, foi directa ao assunto.“- Quanto é que você factura por mês, na sua Agência de Detectives?”
Limpei a boca, para ganhar tempo e respondi , multiplicando a realidade por três ou quatro vezes.“- Para aí uns dez mil euros” menti eu, com todos os dentes que tenho na boca.
Gabriela, sacou do livro de cheques, preencheu um e passou-mo .“ – Tem aqui um valor que cobre o exclusivo do seu trabalho, durante três meses, embora eu tenha esperança que tudo se resolva em muito menos tempo” e acrescentou “claro que as viagens e estadia, para si e para a sua…secretária, serão pagas à parte”.
“- Viagens?” perguntei eu, sem saber bem o que fazer àquele pedaço de papel que representava mais do que eu ganhava, habitualmente, num ano.
“- Óbvio, vocês têm que partir para o Rio, o mais rapidamente possível. Quero que não me perca de vista a partir de agora, e a sua colaboradora também poderá ser útil, embora ainda não saiba bem para quê…”
Senti-me na obrigação de defender a Deolinda “- Ela é uma excelente investigadora, tem contactos em todas as Polícias, e na do Rio também, com toda a certeza”.
“- Então está combinado” disse ela, levantando-se e estendendo-me a mão” tratem de tudo e vamos mantendo o contacto”.
E assim foi. Uma correria para tratar dos passaportes ( o meu estava caducado e a Deolinda nunca tivera tal coisa ), telefonemas a avisar os nossos clientes mais habituais, que eram poucos, das nossas férias inesperadas, alguns contactos com colegas do outro lado do Atlântico, umas roupas frescas metidas numa mala e, pronto, estávamos preparados para a aventura.
No entretanto, nunca mais estivera com Gabriela pessoalmente, mas trocara impressões com ela através do telefone e assim soubera que o dinheiro com que ela me pagara viera das poupanças conjuntas que tinha com a mãe, já que ela não tinha acesso às contas do casal e que a sua viagem seria poucas horas antes do nosso voo, embora através de uma outra companhia.Como ia viajar acompanhada por um acólito do marido, um tal Miltinho, não queria que ele tivesse qualquer contacto visual connosco.
Aproveitei os poucos tempos livres para estudar a ficha do passarão, arranjada por Deolinda, graças a um dos seus amigos da Judiciária.
Cara de pitbull, cicatriz na testa…nunca iria esquecer uma cara como essa, tão pouco amigável.
E, de repente, em pleno calçadão vi o famigerado Miltinho a caminhar…direito a mim.
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Gostava muito de vir a conhecer Copacabana.
ResponderExcluirÉ provável que seja uma ideia errada mas, sempre que penso no Rio, vem-me à cabeça a imagem, sonhada, desta zona.
Mas como a esperança é a última a morrer...talvez um dia.
Pois eu, MTH, já estive várias vezes no Rio e penso que Copacabana, se um dia realizar esse seu sonho, o que espero venha a acontecer, vai ser uma desilusão.
ResponderExcluirSó o calçadão e a orla marítima são dignos de nota, porque todo o interior de Copacabana é sujo, feio e sem graça.
Mas existem, no Rio, muitos outros pontos de interesse que certamente a compensarão dessa desilusão...
Digo eu.
Isto está a tomar forma...
ResponderExcluirInsisto MTH, vá até Copacabana e não se arrepende.
ResponderExcluirMesmo o lado sujo com os seus botecos, mesmo o seu aspecto feio, tudo tem o encanto que o povo brasileiro sabe introduzir com a sua natural alegria e prazer de viver.
Por ali apenas algo que preocupa, a violencia gratuita.Afinal aquilo a que lentamente nos vamos habituando por cá, é certo que em escala proporcional ao número de habitantes e à dimensão do País.Inegável e inimaginável até há poucos anos.
MTH, perdeste o teu tempo.
ResponderExcluirCopacabana é uma merda, tem para aí um mercadinho 'hippie' aos fins de semana e um montão de "piquenos miúdos" dos môrros que vão lá dar cabo de turistas 'coños' como tu.
Volta não volta, a Polícia Federal (se não estiver em conflito com o governo do estado...) instala uns postos no calçadão...
Pois, serve-te de imenso na praia... 'tás feita ao bife, turista, eles conhecem-te num abrir e fechar de olhos...
A parte mítica foi-se toda: por exemplo, o bar onde Vinicius (e João Gilberto ??) compôs "A Garôta de Ipanema" é uma merda que não se pode e o resto anda lá perto.
Se eu fosse a ti, ia para o interior dos estados, e como praia... talvez em Alagoas, ou Rio Grande do Norte, ou Florianópolis, ou Santa Catarina, ainda podes ver o que o arq. Jaime Lerner fez por lá, e se surfares, talvez encontres o Guga (Gustavo Kuerten) e ele te dê um autógrafo e tudo. Como ele ganhou Roland-Garros, talvez seja mesmo de aproveitares...
:-)
P'ra mim fica feio, porque eu amo esse país, de coração !
Carambas que vcs estao num ataque violento ao Rio!!!! Nao posso emitir opiniao pq nunca la fui.......mas tenciono!
ResponderExcluirAgora quanto ao texto........girissimo e gostava de ver o desenrolar da historia......o que acontece com o Miltinho? sera que ele descobriu que estava a ser seguido? sera que ele confronta o nosso amigo detective?
Amigo Alv ega, vai uma grande confusão nessa cabeça.
ResponderExcluirO mercado hippy de que fala é em Ipanema na Praça General Osório, assim como o bar referido ( onde foi criada a célebre canção do Vinicius e do TOM JOBIM, e não do João Gilberto) e que agora se chama Garota de Ipanema, na rua com o nome do Poeta, continua um must para a movida carioca.
Copacabana está, realmente, feio e sujo, mas o Rio tem dezenas de outros maravilhosos pontos de interesse...