quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fúria de viver

14

Bem que avisara seu Sérgio que aquela putinha portuguesa ia trazer problema.
De olho azul, com cara de Madonna, mas sem nada que ver com os hábitos e gostos do patrão.
Ele, Miltinho, que acompanhara bem de perto as primeiras transas do, então, adolescente, sabia que o seu gosto ia para as cabrochas cor de chocolate, para as mulatas assanhadas do morros onde iam buscar a mercadoria no início de tudo, quando ele o apresentara aos amigos, ex-colegas do reformatório, e agora bem colocados na hierarquia do pó.
Ao lembrar-se dos anos no reformatório, Miltinho do Pagode, homem sem medo dos homens, e temente, apenas, dos orixás que baixavam no terreiro da sua Mãe de Santo em Niterói, estremeceu…
Tinha sido recolhido, junto à Candelária, a viver na rua, com apenas oito anos.
O seu forte sotaque, fez as autoridades pensar que fora abandonado por alguma nordestina que procurara a Cidade Maravilhosa para mudar de vida, sem o peso de um gurí às costas.
Mas isso eram apenas conjecturas, porque Miltinho, na realidade, nada sabia dos seus progenitores.
O que se lembrava bem, era das sevícias infligidas por parte dos outros “hóspedes” que lhe fizeram uma curra, logo no primeiro dia.
A que se seguiram muitas outras noites de pavor, até ter forjado uma arma rudimentar com uma lata de conserva cortada em forma de faca, que enfiou na garganta do primeiro que quis encurralá-lo, de novo.
A Direcção do Reformatório tentou esclarecer a morte, sem êxito, já que a lei do silêncio era a única que aqueles jovens desequilibrados conheciam.
A partir daí, mesmo os mais velhos, passaram a olhá-lo com respeito e nada mais foi tentado.
Começaram, até, a dividir com ele a maconha que corria livremente intramuros e a ensinar-lhe todos os truques relativos a assaltos, venda de droga, compra de armas e outras actividades ilícitas..
De vez em quando, um casal grã-fino visitava o reformatório e escolhia um dos jovens.
Não para adoptar, nem pensar nisso…mas para ajudante de bábá, para moço de recado, para cuidar do sitio em Petrópolis…
Mas, já isso era um sonho para qualquer daqueles rapazes fechados entre quatro paredes, com condições péssimas e comendo miseravelmente.
Bichas velhas também procuravam companhia para as suas práticas viciosas e os directores da instituição fingiam não perceber as intenções daqueles coroas perfumados e de gestos amaneirados.
Porém, ele, com o seu rosto fechado, demasiado entroncado para a idade, com músculos fabricados graças ao trabalho diário de levantamento de pesos e muitas horas de capoeira, não chamava a tenção de ninguém.
Até que um dia o “Dôtor”entrou no pátio onde se jogava uma peladinha.
Enquanto muitos dos seus camaradas corriam para junto do elegante cavalheiro, que falava com um ligeiro sotaque italiano, ele deixou-se ficar no mesmo lugar, sem um sorriso.
Foi então que Salvatore Cassini, apontou para ele e disse:
“ – Você aí giovane, venha comigo !”

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5 comentários:

  1. Vão por mim, este é que é o assassino...para proteger o patrão de qualquer coisa!

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  2. putinhas portuguesas ?
    (disso não quero, 'tem mais que chuchu na serra'...)


    mulatas assanhadas dos môrros ??
    cabrochas cor de chocolate ???
    (foi uma dessas, mais o amigão dela, que me "engataram" na praia do Flamengo, gostaram de mim, e me levaram a Belford Rôxo, foi uma curte, tem bandido que é gentil...)


    Em Niterói tem de tudo, inclusive excelentes galerias de arte, conheço de experiência...


    Bem juntinho à Candelária tem o consulado tuga (quem 'tava de cônsul na altura era o Stichini, e o adido económico tb. tinha imensa graça...), tem o 'Banco Financial Português' --- creio que é a CGD mascarada --- Uma dependência "cultural" do Banco do Brasil onde há 'arte', e um monte de miudinhos dormindo pelo chão.


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    E Jaime Varela, seus contos 'tão de mais !!!
    Muitos parabéns

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  3. É engraçado ver a diferença de "calor" entre os capítulos passados em Portugal e os do Brasil, ou com brasileiros...

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  4. Para quando a adaptação ao Cinema?
    O atarantado do Travolta como detective, Monica Belluci como vamp,Sandra Bullock a secretaria,Andy Garcia o marido mafioso, Snipes o guarda costas e uns quantos mais, realização do Tarantino e já está feito...

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  5. PG, eu quereria ver um filme assim...

    :-))


    A minha única sugestão seria substituir a Bullock pela mulher do Sam Mendes --- um realizador de eleição --- que é uma actriz inglesa esplêndida, que dispensa a minha 'publicidade'.

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