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Nos Anos 80, as principais mudanças em relação ao Rio dos nossos dias, falando apenas da Zona Sul, que é afinal a única que os turistas conhecem, é que a cidade ainda não se expandira na direcção do Recreio dos Bandeirantes, chegando apenas até São Conrado, e as casas de Ipanema e Leblon não apresentavam os gradeamentos hercúleos, que agora circundam todos os edifícios.
Também as favelas, com a Rocinha na dianteira, não tinham a pujança actual.
O resto, praias e avenidas marginais, principais edifícios, praças e jardins, continua imutável, como era à época.
Tudo isto o olhar sôfrego de Miltinho, então ainda sem ser do Pagode, apreendia, enquanto o esguio cabriolet do “Dôtor” Salvatore Cassini percorria as ruas em direcção ao Alto da Boa Vista, onde se situava a mansão Cassini, por muitos apelidada de Cassini Royal, pois ali se podiam ganhar fortunas nos negócios engendrados nos jardins, onde as mangas impregnavam o ambiente dum leve cheiro a gás, cortado pelo forte perfume francês das senhoras presentes.
Quando o jovem pé descalço entrou naquela casa de escadarias de mármore, quadros pendurados nas paredes, elevador entre os pisos, salões imensos, piscina, sauna e ginásio, pensou estar a chegar ao Paraíso.
De seguida, indicaram-lhe o quarto, que iria partilhar com o ajudante de jardineiro, um tímido, mas sorridente, parabaiano, e o banheiro onde tomou o mais demorado e saboroso banho de toda a sua vida, com água quente…
Depois de lavado e vestido com uma camiseta e uns calções novos, sentou-se à mesa da cozinha e engoliu um pernil com arroz e feijão que lhe fez chegar as lágrimas aos olhos.
Mais tarde, foi apresentado ao adolescente mais bonito que alguma vez vira.
Sérgio, alto, moreno, esguio, mas já bem musculado, sorriu-lhe e estendeu-lhe a mão, em sinal de boas vindas .
“- Então é você o cara que vai ser meu anjo da guarda?”
Miltinho, encabulado ficou sem resposta, mas percebeu ter encontrado a sua razão de viver – proteger aquele moço, mesmo arriscando sua vida, ser fiel aquela família que o tratava como um ser humano, pela primeira vez em toda a sua existência.
O crescimento de ambos deu-se em simultâneo.
Enquanto Sérgio tinha aulas, Miltinho dava um salto, com a cumplicidade do motorista, até às favelas dos arredores, onde era sempre bem recebido.
Quando estavam juntos, jogavam box, praticavam judo e capoeira, faziam tiro ao alvo.
Apesar de mais destro nas lutas corpo - a - corpo, Miltinho tinha o cuidado de deixar que o seu jovem patrão ficasse com a sensação de ter vencido.
Sérgio, frontal e amigo, era também capaz dos maiores ataques de violência se fosse contrariado ou derrotado, no que quer que fosse.
Eram estes pensamentos do passado que ocupavam a mente de Miltinho do Pagode, enquanto fazia a sua marcha matinal, de todos os dias.
Distraído, quase foi de encontro a um branquelas com ar de turista, que olhava para ele, parado no Calçadão.
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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Eu que até não gosto de novelas, não perco um folhetim. Cada vez mais emocionante...
ResponderExcluirE que tal, no final, publicar uma brochura com os Crimes do Galo?
ResponderExcluirVão ser quantos capítulos?
Eu gosto de rapazes maus...dão mais luta.
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