segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Rio alternativo

27

Sempre que estava na cidade carioca, e desde que trabalhava para o Grupo Cassini – Ustinov isso acontecia com alguma frequência, Hans Hahn gostava de percorrer a Farme Amoedo, uma rua perpendicular à praia onde se aglomeravam muitos dos gays que, naturais ou importados, se espalhavam pelos bares e restaurantes do lugar.
Não que ele fosse homossexual.
Pelo menos não se considerava como tal e, salvo uma dolorosa excepção, nunca tivera nenhuma relação física com um homem.
Como acontecia sempre que pensava nestes assuntos, recuou até aos seus doze anos quando interno num colégio para rapazes, fora sodomizado por três colegas finalistas.
A recordação da cena transmitia-lhe um misto de vergonha, excitação e raiva, que nunca soubera controlar devidamente.
Depois disso, tivera algumas relações heterossexuais, sem grande prazer nem convicção.
Mas experiências homossexuais nunca, embora sentisse um prazer lânguido ao passar junto daqueles homens musculados, vestidos com camisetas de alças que lhes realçavam os físicos bem ginasticados e ao aspirar o cheiro de almíscar e suor, que se sentia no ar.
Adorava o clima de sedução, os olhares provocantes, os gestos explícitos, que ele fingia ignorar, mas que o deixavam à beira dum orgasmo, num estado febril que, rapidamente, tinha que apaziguar.
Duches frios, massagens vigorosas, ou a simples masturbação, de olhos fechados, e a mente a recordar as imagens e as sensações, que resolviam a situação, inicialmente, foram-se tornando, aos poucos, insuficientes.
Desceu a rua, lentamente, fingindo olhar a ementa dum restaurante, o interior dum bar, como que a procurar alguém.
Jovens cariocas, com a mão na cintura de estrangeiros
mais velhos e gordos, faziam o seu coração aumentar de batida.
Figuras andróginas, com meneios femininos, misturavam-se com motards de bigodes façanhudos e bíceps esculpidos a muitas horas de ginásio, academia, como se diz por estas paragens.
Ouviam-se conversas numa mescla de inglês, português e espanhol, numa Babel, que o deixava atordoado, com vontade de fugir e, ao mesmo tempo, mergulhar naquela amálgama de corpos que o atraíam e repeliam, em simultâneo.
Nesse momento, reparou na cena que se passava no interior de um dos bares mais concorridos.
Miltinho do Pagode, escondido num canto, trocava beijos com alguém que, à primeira vista , lhe pareceu ser o Sérgio Cassini.
Mas, afinal, não. Este era bem mais novo e mais esguio.
Agora o Miltinho, quem diria? Tão durão e macho man
Tanto desejo e descoberta, o coração a rebentar descompassado, sentia as veias a latejarem.
Tinha que resolver o assunto. Não podia continuar neste estado
Devia voltar para o hotel, procurar uma casa de massagens gay, ou…?
…Optou pela última solução !

7 comentários:

  1. Vamos a isso, homem!
    Os armários fizeram-se para ser abertos!

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  2. A Farme de Amoedo é em Ipanema

    J.V., fazes-me o pequeno favor de não desfazer na praia ?

    Obrigado.

    :-)

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  3. Ah, e parabéns, excelente conto, como sempre.

    :-)

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  4. Estou confundida...
    A última solução é "ou"???

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  5. Suspense até à última gota...

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  6. Depois de um mês de ausência, já perdi o fio desta meada...
    Não seria melhor este "Jaime Varela" fazer uma edição em papel???!!!

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  7. Isso era deitar o Pinhal de Leiria abaixo!!!
    Tadinha da memória de D. Dinis...

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