Os bancos com protecção de plástico, a fotografia da família
no tablier, nada dos arrebiques habituais nos colegas.
Mas, o que me impressionou mais, foi a música.
A “Gaivota” dos Amália Hoje ecoava, cristalina,
saída de um conjunto estéreo de qualidade.
“ - Grande música” atirou-me o motorista, pondo o carro
a trabalhar”cantar Amália e ficar bem na fotografia,
não é para todos”.
Perante os meus grunhidos de aprovação, o homem,
senhor dos seus sessenta anos, com bom aspecto,
prosseguiu:
” - E ela, uma mulheraça. Aqueles ombros,
aquelas tatuagens. Toda pintada…”
Entretanto, avançavamos Avenida da Liberdade acima.
“-Antigamente ia ao Luso com uns amigos,
mas nunca apreciei Fado. Era mais pela companhia…”
O semáforo vermelho. Breve paragem.
“ - Fado só a Amália. Uma senhora. E cá para nós…”
Um piscar cúmplice, na minha direcção:
“- Cá entre homens, um mulherame. Uma estatura…”
Novo arranque “- É como o Carlos do Carmo
nas “Canoas do Tejo”, só ele para cantar aquilo…”
A medo, meti “- O Camané…”
Cortou-me a frase “-Ná, talvez ao princípio mas agora, ná…”
“- A Ana Moura está a cantar melhor,
mas a Mariza e a Dulce Pontes não valem nada.
Escolheram outros caminhos.
Mas eu até nem gosto de Fado…”
Entretanto o CD chegara ao fim, mostrou-me a capa
e atirou-me: “- Comprei-o para o meu filho que está no Canadá…”
olhou com desvelo para a foto à sua frente.
Vi, então, que era de um casal jovem com duas crianças.
“- Há anos que não vêm cá. Preferem o Brasil.
Na nossa família gostamos muito de praia…”
E, com a emoção na garganta, mudou de assunto
”– No Faia havia uma gorda, bonitona, com uma grande voz…”
Chegávamos, entretanto ao cimo da Joaquim Augusto de Aguiar.
Paguei e, enquanto aguardava o troco, ainda o ouvi murmurar:
“- Mas eu cá nem gosto de Fado…”
Travis Bickle
Mas, o que me impressionou mais, foi a música.
A “Gaivota” dos Amália Hoje ecoava, cristalina,
saída de um conjunto estéreo de qualidade.
“ - Grande música” atirou-me o motorista, pondo o carro
a trabalhar”cantar Amália e ficar bem na fotografia,
não é para todos”.
Perante os meus grunhidos de aprovação, o homem,
senhor dos seus sessenta anos, com bom aspecto,
prosseguiu:
” - E ela, uma mulheraça. Aqueles ombros,
aquelas tatuagens. Toda pintada…”
Entretanto, avançavamos Avenida da Liberdade acima.
“-Antigamente ia ao Luso com uns amigos,
mas nunca apreciei Fado. Era mais pela companhia…”
O semáforo vermelho. Breve paragem.
“ - Fado só a Amália. Uma senhora. E cá para nós…”
Um piscar cúmplice, na minha direcção:
“- Cá entre homens, um mulherame. Uma estatura…”
Novo arranque “- É como o Carlos do Carmo
nas “Canoas do Tejo”, só ele para cantar aquilo…”
A medo, meti “- O Camané…”
Cortou-me a frase “-Ná, talvez ao princípio mas agora, ná…”
“- A Ana Moura está a cantar melhor,
mas a Mariza e a Dulce Pontes não valem nada.
Escolheram outros caminhos.
Mas eu até nem gosto de Fado…”
Entretanto o CD chegara ao fim, mostrou-me a capa
e atirou-me: “- Comprei-o para o meu filho que está no Canadá…”
olhou com desvelo para a foto à sua frente.
Vi, então, que era de um casal jovem com duas crianças.
“- Há anos que não vêm cá. Preferem o Brasil.
Na nossa família gostamos muito de praia…”
E, com a emoção na garganta, mudou de assunto
”– No Faia havia uma gorda, bonitona, com uma grande voz…”
Chegávamos, entretanto ao cimo da Joaquim Augusto de Aguiar.
Paguei e, enquanto aguardava o troco, ainda o ouvi murmurar:
“- Mas eu cá nem gosto de Fado…”
Travis Bickle
"Caganda" conto Travis B. !!!
ResponderExcluir:-)
E eu cá também não gosto de fado, só do Carlos do Carmo, do Camané, da Mariza, da Aldina Duarte e de mais uns poucos...
:-))
Just for you, A.
ResponderExcluirEste Bickle não te recorda ninguém?
Rebobina até ao Taxi Driver ( what else?)
Curiosa como sou, fui pesquisar o Taxi Driver.
ResponderExcluirE então não é que o Autor deste Conto ( de que gostei muito, por sinal)não é o personagem interpretado pelo Robert de Niro?
Malandrice...( como diria o Solnado).
E já agora, porque não uma série de contos inspirados em histórias de Taxis?
Ai Amália, Dona Amália faz favor, quem diria que andas a caminho do endeusamento depois de até teres chegado a ser perseguida pelos energúmenos do pós 25.
ResponderExcluirTu, o Artur Agostinho, o futebol, Fátima e por aí fora mas a História e sobretudo o tempo acabrá por colocar estes desatinos no seu devido lugar.
Taxi Driver ou o bem português taxista, revelam o saber da voz popular, rasteirinha mas sincera.A eles a minha homenagem.
E desde quando é que a voz popular acerta uma para a caixa?
ResponderExcluirEssa não, Zé Manel...
Boa ideia a da PG.
ResponderExcluirAs histórias de taxis são imensas e no geral muito engraçadas.
Não davam um livro, davam uma colecção...
É claro que me recorda, J., eu estava só nas encolhas...
ResponderExcluirE já agora, por acaso já viste
isto/ ?
Vais-te passar...
:-))
PG e Adriano
ResponderExcluirLes bons esprits se rencontrent...
É precisamente essa a ideia, a de fazer uma série de contos acerca de episódios ocorridos nos Taxis.
Foi por isso que criei um novo tag "Bandeiradas" para agrupar esses textos.
Quanto ao pseudónimo é uma piscadela de olho e, em simultâneo, uma homenagem ao Robert de Niro e à sua extraordinária interpretação no Taxi Driver.
E a piquena Foster, não se esqueçam da piquena Foster, que ela agora até é licenciada e tudo...
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