quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Viúva - Miguel Esteves Cardoso

Pensava eu – peneira minha – que nada do que acontecesse em Portugal me surpreenderia.
A coisa menos civilizada – e, por conseguinte, mais difícil de aceitar – é que haja portugueses que dão importância excessiva às eleições.
A democracia não é um dever: é um luxo, que devemos agradecer
sem ser preciso excedermo-nos
para mostrar que estamos agradecidos.

Numa edição recente do London Review of Books, o jornalista Geoffrey Wheatcroft recenseava um livro sobre o sionismo com o título On Trying To Be Portugal.
Não conseguiram. Diz ele que os primeiros sionistas queriam um país que não chamasse as atenções; que não motivasse notícias; que fosse como Portugal, no sentido feliz de não atrair notícias desde 1755.

Anteontem, em Ermelo, o candidato do PS, segundo se diz, assassinou o marido da candidata do PSD. Ficou viúva. Estou chocado. Acho que nos ultrapassámos.
Há uma violência latente na sociedade portuguesa (as questões de águas; de bairros; de racismos) que fingimos só existir excepcionalmente.
É mentira. Somos tão maus como aqueles de quem gostamos mas que achamos, no nosso termómetro da violência, mais quentes do que nós: os espanhóis; os italianos; os franceses.

Levar a política partidária a sério é um erro monumental; um lapso perigoso.
A política é como a saúde: é importante.
Mas as eleições são apenas a medição de um termómetro.
Ganhou o PS. Mas há uma viúva do PSD.
Qual é o resultado mais importante – e que mais assusta?

Miguel Esteves Cardoso
Enviado por Alv ega

10 comentários:

  1. Este MEC ainda consegue surpreender.O ter-se "retirado" para Sintra deu-lhe a sabedoria que o distanciamento traz.

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  2. Como é que rezava o ditado ?

    No news is good news.

    Ou seja, em não havendo notícias, não há novidade.

    Tomáramos nós...

    :-)

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  3. Habitualmente o MEC não é tão assertivo. Questiona opinando.
    Estou de acordo com ele, quando diz que a política é importante, as eleições são só uma medição, houve um crime...mas penso que não teve a ver com partidarismos. Neste momento a senhora viúva nem deve ter partido político. Deve estar partida, sim, mas por dentro!

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  4. Gostei do que disse Miss Sixty.
    MEC por vezes é um pouco MAC [donalds] no sentido do fast-opinion = easy-listening.
    E, partido por partido, antes a política que o coração.

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  5. Moira, ou eu tresli a coisa, ou então parece que até há 'argumentos neurológicos' que contraditam essa sua última afirmação...

    Ou seja, o 'coração' é suposto ser parte integrante da 'política'.

    (ver António Damásio, "O Erro de Descartes")

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  6. Na minha leitura, errada porventura, o que o MEC quer dizer é que vale mais uma vida humana do que a vitória numas eleições.
    Mas estou de acordo que este crime, mesmo que motivado por algumas acusações mais acaloradas em algum comício, não se pode considerar partidário.
    Poderia ter ocorrido por causa dum lugar de estacionamento, pela discussão dos limites de um terreno ou por qualquer outro motivo avulso...

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  7. Já uma vez disse que o MEC consegue juntar textos em que a genialidade impera com atitudes em que a imbecilidade toma a primazia.
    Se calhar, esse aspecto é um dos factores do seu encanto e sedução...

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  8. Juro que não é por preguiça, mas faço minhas as palavras da oradora anterior.

    Nem eu próprio diria melhor (Ah!Ah!Ah!)...

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  9. A despropósito, ou talvez nem tanto:

    The purpose of morality is to teach you, not to suffer and die, but to enjoy yourself and live.


    Tradução (muito) livre:

    Se há algum propósito na moralidade é aprendermos que não estamos para aqui para sofrer e morrer, antes para viver e ter prazer nisso.

    Alissa Zinovievna Rosenbaum, a.k.a. Ayn Rand (1905-1982)

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