quarta-feira, 14 de abril de 2010

Amores antigos

Muito do nosso Presente é reflexo do nosso Passado.

Somos a consequência da educação que tivemos, do ambiente em que fomos crescendo, dos livros que partilhámos, das viagens que fizemos, dos nossos amigos, do trabalho que realizámos.

O facto de estarmos, agora, apaixonados pela próxima ida ao Nepal não impede que recordemos com agrado um fim-de-semana passado em Veneza.

Aproveitarmos todos os bocadinhos para a leitura do último livro do Mia Couto não nos faz esquecer a trilogia de Nova Iorque.

O Fiel Jardineiro não nos varre da memória o Vertigo...

Ganhamos com a experiência, ficamos cada vez mais ricos e conhecedores, podemos utilizar todo esse capital na actualidade.

A antiguidade é um posto, diz a sempre pronta voz popular.

Então e com os Amores antigos?

Porque é que com as Mulheres, os Homens, que foram (...são?) tão importantes nas nossas vidas isso muitas vezes não acontece?

Porque é que temos a necessidade de varrer afectos que foram 'eternos enquanto duraram' para debaixo da cómoda ou do tapete?

Virar as molduras, em que ostentamos o sorriso meio apatetado dos apaixonados, com a imagem para baixo...

Porque é que evitamos partilhar os mesmos locais com as pessoas com quem partilhámos sonhos e projectos?

Pessoas que fisica e intelectualmente não tinham segredos para nós e que se tornam ilustres desconhecidos.

Seres que, muitas vezes, foram coautores connosco de outras vidas humanas, passam a miseráveis que não queremos sequer mencionar.

O tal sinal do Solnado passa, de imediato, a verruga. A distracção poética a estupidez, a convicção converte-se em agressividade mórbida e a sedução transforma qualquer um(a) num símbolo de promiscuidade.

Guardamos os livros em bibliotecas, os discos em discotecas, os vinhos em enotecas, em boas condições de conservação para que, em qualquer momento, possamos ter acesso a essas memórias, informações, sabores...

...Então, e para quando as Amortecas?

6 comentários:

  1. Pois é, quando encontrares uma traz para mim também, money is no object...

    :-)

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  2. Lamentável sugestão, não concordo com amortecas !
    Na memória meus caros, na memória até ao ultimo suspiro, sem deixar vestigios que acabem por ofender os que ficam.
    Assim seja !!!!!!!

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  3. Felizmente conheço pessoas que tratam antigos amores com delicadeza e até, ternura.
    Acho que, no capítulo de antigos amores, os jovens nos dão lições.
    No "meu" tempo, amor passado era de mau tom recordar...

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  4. Há quem diga que o amor e o ódio andam de mãos dadas, pois são sentimentos com igual intensidade. Mais do que se desprezar e odiar os amores passados, o que a mim me faz realmente impressão é a indiferença. Tal como diz o texto, pessoas com quem partilhávamos tudo, física e psicológicamente, e que se tornam estranhos para nós. Passamos por eles na rua, só com um cumprimento, passamos anos sem comunicar, vidas inteiras sem voltar a falar.. e tudo depois de termos partilhado tudo o que somos. Enfim.. o ser humano é um bicho estranho mesmo ;)

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  5. Raquel, considere o seguinte :

    Uma vez que é suposto a vida continuar e que o 'desinvestimento' emocional não é uma coisa que se faça por carregar num botão, em calhando aquilo de que fala funka como funkam os coletes anti-balas em kevlar, a ideia sendo uma pessoa não se aleijar demasiado.

    Get me ?

    :-)

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