quinta-feira, 8 de abril de 2010

LXIV - Enredo mexido com chouriço

A converseta durou imenso tempo.
Pelo meio, fomos comendo uns ovos mexidos com chouriço que a Dona Rosa faz de forma divinal.
Passo a resumir o enredo, porque sem os tais petiscos a coisa tornar-se-ia bem mais penosa.

Cristina e Miguel eram colegas na Interpol, onde este último fora instrutor da 'Foxy Lady', primeira classificada no seu curso.
Desde o início, que se criara um clima de romance entre os dois mas que só se viera a concretizar muito mais tarde numa história que metia vigilância a uns argentinos que, meses depois, viriam a explodir no Rio de Janeiro, e umas empadas de galinha...

Como facilmente se conclui é melhor passar por cima destes pormenores porque senão nunca mais chegamos a lado nenhum...
Há já algum tempo que, a dupla que se encontrava sentada à minha frente, estava encarregada de seguir a evolução do movimento radical que pretendia uma União Ibérica elitista e dada a
extremos, tendo como líder o tal coronel Sousa, figura metida em negócios de armamento, treino de mercenários e outras actividades menos próprias.

Outra das peronalidades gradas, porém mais moderada, era o Comendador Salcedas de quem a 'Foxy' se aproximara sob o pretexto de trabalhos como head hunter para as diversas empresas em que o milionário tinha interesses.
Fora por essa altura que surgira o tal manuscrito do Hemingway e a necessidade de selecção de alguém capacitado para concluir da veracidade do mesmo.

Depois de elaborada uma short list, tínhamos sido escolhido apenas dois - o malogrado Major e eu próprio.

Como pelo lado da Interpol havia dúvidas acerca das nossas convicções políticas, Cristina optara por me vigiar durante meses, abrindo a minha correspondência, verificando quem me visitava, gravando as chamadas telefónicas que eu recebia, enquanto o Gavião desenvolvia trabalho equivalente em Sintra ( daí o facto de o termos encontrado, quase que em simultâneo com o António C. o Major, no dia do almoço no 'Cantinho').

O facto de eu me ter enrolado com a mulher do coronel, a tal Beatriz, tinha ainda tornado tudo mais suspeito e prolongado a representação da 'Laura Palma', com os seus óculos de fundo de garrafa e os roupões disformes.
" Penso mesmo que terei sido a única mulher que não lhe despertou pensamentos libidinosos..." aproveitou a sempre acutilante ' Foxy' para alfinetar, nesta passagem do enredo.

Só quando se convenceu da minha ingenuidade e inocência em todo este imbróglio é que a Cristina se aproximara, finalmente, levando-me ao tal palacete de Sinta e ao encontro com os 'chefões' do Movimento.
A morte súbita do Major apressara a necessidade de fugirmos para longe, rumo ao Douro mas, a partir daqui, já todos sabem como as coisas se passaram...

Havia, contudo, uma última pergunta que eu tinha que fazer " E dentro da tal caixa preta, o que é que estava lá guardado?"

Os meus acompanhantes olharam demoradamente, um para o outro, antes de me responderem...

3 comentários:

  1. 'Atão' não tásse mêmo a ver ??

    1ªs edições do 'Falcão' e do 'Cavaleiro Andante' anotadas e comentadas pelo próprio Hemingway...

    :-p



    junto com um punhado de Rocky Mountain oysters (thks. Jamie !) já ressequidas e impróprias para consumo.

    :-)


    Por isso (e por estarem a comer...) é que eles "olharam demoradamente, um para o outro, antes de responderem..."


    :-))

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  2. Empadas de galinha? acho que aí houve um engano, ou então é só ficção.

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  3. É que para além dos ovos mexidos com chouriço, a Dona Rosa também deve ter feito umas empadinhas...

    E onde é que anda a Rosinha?!

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