domingo, 18 de abril de 2010

As Mãos

Com um aperto de mãos se sela um negócio de milhões.
Com um murro se põe KO o campeão do mundo.
Com uma festa no rosto, um afago no cabelo, se inicia um romance.
Com gestos ritmados dirige-se uma orquestra.
E com outros mais autoritários comanda-se o trânsito.

São as mãos que seguram o bisturi que salva vidas,
o pincel que pinta uma obra prima,
a régua com que se projecta um novo edifício,
a colher com que se mexe a sopa,
a agulha com que se cose a roupa,
a esferográfica com que se escreve a redacção,
a espingarda com que se vai para a guerra.

Com as mãos amassamos o pão e o barro.
Com as mãos fazemos magia e roubamos carteiras.
Com as mãos rezamos e fazemos o V da vitória.
Com as mãos viajamos à boleia e ilustramos palavrões.
Com as mãos pedimos a conta ou outra rodada.

Com as mãos fazemos Amor.
Com as mãos podemos dar Vida, e dar Morte.
Prazer e sofrimento.
Prémio e castigo.

Com as mãos produzimos trabalho.
Mas, também, destruimos.
Limpamos e sujamos.
Despedimo-nos com um aceno.
Escondemo-las nos bolsos.
Chamamos a atenção.
Injuriamos os outros condutores.
Assinamos cheques.
Damos esmolas e coçamos a orelha.

Sem mãos não haveria pirâmides nem lutas.
Não se plantariam flores nem se colheriam os frutos.
Não telefonaríamos aos outros, nem folhearíamos um livro.

Sem mãos, não existiria Humanidade.

3 comentários:

  1. Mãos

    Côncavas de ter
    Longas de desejo
    Frescas de abandono
    Consumidas de espanto
    Inquietas de tocar e não prender

    (Sophia de Mello Breyner)

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  2. E o que as mãos podem dizer sobre as pessoas...

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