segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Espelho

A imagem que vimos todos os dias no espelho é a nossa.
É a nossa.
E não é.

Ora reparem lá naquele sinal que têm na cara.
No espelho, surge-nos no lado contrário.
E a aliança da mão esquerda.
Lá está ela, mas...na mão direita.

Na imagem que vemos reflectida de nós próprios
somos sempre mais altos, mais magros, temos mais cabelo
e estamos muito melhor conservados
do que aquele colega da faculdade que não víamos há anos
e que está feito um caco velho.

Leiam aqueles inquéritos de Verão aos famosos
ou aos que apareceram uma vez que seja
num qualquer programa televisivo.
À pergunta " Qual o seu maior defeito?"
a resposta invariavelmente é " A teimosia "
ou " O ser confiante", " Ser demasiado amigo dos meus amigos...".

Ninguém responde " Sou corrupto", ou "Pouco inteligente", "Mentiroso", " Medíocre..."
Quando dizemos "Teimosia" queremos mesmo assim dizer que somos obstinados, convictos , lutadores de causas...
Ser confiante demonstra pureza, boa formação e ser demasiado amigo é uma redundância porque quando não se é "demasiado" amigo então somos vizinhos, conhecidos, colegas mas amigos, não, com toda a certeza.

Somos críticos implacáveis em relação aos defeitos dos outros.
E demasiado benévolos quanto aos nossos.
Nós temos qualidades e "feitios"...
Os outros, bem os outros, são um poço de deficiências.

Tenhamos cuidado com os espelhos em que nos miramos.
Pode ser o da casa de banho, ao sair do chuveiro.
O do elevador ao descermos para a rua.
O do retrovisor do carro ou o que está na pastelaria, ao correr do balcão.

Só não pode, não deve, ser um daqueles deformantes
que tantas gargalhadas provocam
numa qualquer Feira Popular perdida algures.

Um comentário:

  1. As minhas qualidades e defeitos vivem em comunhão de bens. Há muito. Não se têm dado mal! Talvez porque não valorizo muito nem umas, nem outros...E de vez em qd é mesmo bom dar uma boa gargalhda a propósito de nós próprios, como se defronte de um espelho de feira estivessemos!

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