Viver num Estado laico significa uma coisa muito simples, aliás explicitada pelo primeiro-ministro há um mês, em declarações aquando da cerimónia dos 25 anos da mesquita de Lisboa: "Um princípio fundamental na acção do Governo é o respeito absoluto pela liberdade religiosa e pela neutralidade do Estado face à crença religiosa de cada cidadão." Traduzindo, o Estado laico não se mete em assuntos religiosos.
Sucede que este se mete, e muito. A maior parte das pessoas talvez nunca tenha reparado que o Estado português "reconhece" confissões. A lei da liberdade religiosa, de 2001, estabelece que só confissões radicadas (estruturadas no território nacional há mais de 30 anos ou "no estrangeiro" há mais de 60) ou "inscritas" beneficiam de devolução do IVA e podem ser incluídas na listagem das entidades beneficiárias da consignação de 0,5% do IRS dos contribuintes e isentas de pagamento de IMI no que respeita a edifícios de culto, aceder ao contingente de professores de Religião e Moral, participar na Comissão de Liberdade Religiosa e celebrar casamentos com efeitos civis. Acresce que mesmo entre as confissões reconhecidas o Estado estabelece distinções. Há a Igreja Católica (IC) e há "as outras". E de tal modo assim é que com esta, na sua forma "estatal" - esse "país" chamado Vaticano, ou, para quem creia, "Santa Sé"-, o Estado até faz tratados. Que consistem em duas coisas: assumir os seus próprios cidadãos como súbditos do outro Estado e atribuir, em consonância, privilégios aos respectivos representantes.
De acordo com esta visão tão neutral "das crenças religiosas de cada cidadão" e apesar de uma Constituição que desde 1976 estabelece a separação rigorosa, o Estado mantém símbolos religiosos católicos nas escolas públicas - manutenção que o primeiro Governo de maioria socialista reiterou, desmentindo, logo em 2005, qualquer intenção de os retirar -, atribui nomes católicos a equipamentos (incluindo os que são só projecto, como o futuro hospital lisboeta "De Todos os Santos"), assegura o monopólio da assistência religiosa paga aos católicos (remoçado, ainda que sob disfarce, numa lei de Setembro de 2009) e concede tempo de antena nos media públicos, com dignidade de representantes do Estado, a dignitários católicos.
A atribuição de tolerância de ponto aos funcionários públicos aquando da visita do Papa, que de acordo com notícias publicadas em Março foi "negociada" com a hierarquia da IC portuguesa, é pois apenas mais uma manifestação da peculiar noção que o Estado português - e neste caso o Governo em funções (como de resto a generalidade dos partidos, à excepção tímida do BE) - tem do que significam "princípios fundamentais": é conforme calha. Desta vez, logo por azar (ou sorte?) calhou no ano do centenário da República. Deus não dorme.
Fernanda Câncio in Diário de Notícias
sexta-feira, 16 de abril de 2010
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Daqui vos anuncio (é ja para amanhã...) a fundação da Liga dos Amigos de Ésse Thomé, o nosso lema é ver para crer, or else não há nada 'pa ninguém, e o nosso único propósito é obter reembolsos de IVA e tolerâncias de ponto a granel.
ResponderExcluirVamos também ter uma página no fbuka, outra no twister, outra no highfive, etc, profundamente originais: tudo o que dirão é "Error 404: URL not Found" e para quem insistir uma outra que dirá "You don't have permission to view this page on this server, better luque nexte taime..."
Comprometemo-nos igualmente ao mais rigoroso anti-proselitismo, i.e., quem ambicionar ser sacrista que vá mas é prégar p'ra outra freguesia, ou ver se nós estamos ali à esquina (claro que estaremos, mas sempre na outra esquina mais à frente...)
Seremos óbviamente corruptos como toda a gente, todavia o nosso preço será sempre um cêntimo acima daquilo que por acaso estiverem dispostos a esportular...
:-)
O importante não é a visita deste Papa, do qual não gosto desde sempre mas sim o prejuizo que o País vai ter neste ano tão dramático.
ResponderExcluirSão centenas ou milhares de horas em que a pouca produtividade vai ser reduzida a zero.
O Governo estará a sofrer de alguma doença mental?
O pinóquio quer ter o perdão de Deus e fugir ao Inferno depois de tantas mentiras ?
Alguém que me explique se isto não é de manicómio....................
Sugiro uma assim como que "coligação nacional alternativa de estupidaralhação nacional" constituída com o seguinte:
ResponderExcluir. O Sackana Loppchez, mal por mal antes um gajú que é especialista em Chopin, ficamos sempre mais pobres, mas mais "cultos"...
. O would-be-king, serve sempre para reposicionar factos, ir a Timor, ou inventar qualquer outra inanidade de m#$%&a, ou wtf.
. O Pachêcovsky, a ver se a gente o desesteriquiza de vez , lhe herdamos a p#$$a da biblioteca da Merdoleira, e de quebra, a secretária 'boazona', e os arquivos sobre "o comunismo", ou lá o que é...
. O gajinho das feiras, precisamos de meninos da defffezza (sei lá, para nos defendermos dos amiguinhos do irmão dele ?? ou do Kim-il-Ahmmaddinehjjaddsky ??) e de muito mais submarinos e mais umas universidades exdrúxulas, ah, de soundbytes e ditos-de-espírito à fartazana...
(o gajú pode levar aquela fulana com a cara-de-cavalo e tudo, a ver se a gente percebe finalmente como escapar aos impostos).
. Aquela loirérrima do Blokkum, para nos psicanalizar com'ó camandro quando estivermos todos (ainda mais) infelizes.
. Aquele "jovem" Berardinú, só para colorir o pot-pourri e dar uma caução de sobrevivência (de esquerda ?? ROFL !!) à coisa.
. O Alpert Johnny, só para chatear todos os demais e de passagem sacar mais umas m"#$%&s para umas auto-estradas com 4 km's e 25 metros de comprido.
. Eu e vós todos , mas a gente vai lá só para ver se saca também uns trocaditos.
. Todos os outros que se quiserem juntar ao regabofe.
:-))
E esta, FC desde que deixou de ser "namorada" do primeiro, desatou aos tiros. Ver no DN a coluna anterior a esta.
ResponderExcluirÉ assim a vida Quimera.Também a namorar aquele fulano....que falta de gosto !
ResponderExcluirEstou de acordo Marau, mas como jornalista a credibilidade fica muito comprometida.
ResponderExcluirHá qualquer coisa que me diz que, mesmo com a tolerância de ponto, esta visita não vai correr nada bem a sua santidade...
ResponderExcluirNuvens muito turvas (e não são as da Islândia), lá para os lados do Vaticano, a merecerem uma "greve" dos fieis, na Cova da Iria ...
Joseph Cardinal Ratzinger, now Pope Benedict XVI, was from November 25, 1981 Prefect of the Congregation for the Doctrine of the Faith, formerly known as the Holy Office , and, especially in the mid-2nd millennium, as the Roman Inquisition (Santa Inquisição, para os mais distraídos).
ResponderExcluirHe was named to that post by Pope John Paul II .
:-(
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Outras pessoas, doutra extracção:
Dom Pedro Casaldáliga, ex-bispo de S. Félix do Araguaia .
Dom Paulo Evaristo Arns, ex-cardeal e arcebispo de São Paulo .
Dom Hélder Pessoa Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife .
Leonardo Boff, franciscano, professor de Ética e Filosofia da Religião na UERJ
Eu podia continuar a fazer name-dropping mas de repente deixou de me apetecer...
Posso ser completamente ateu, mas não ando exactamente para aqui céguinho a bater com a cabeça nas paredes, e existem diferenças entre as pessoas, mesmo dentro da mesma instituição, para que conste.
:-)