segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sair do altar de marfim - Ferreira Fernandes

A frase do cardeal Bertone ("há uma relação entre homossexualidade e pedofilia") lá obrigou a Igreja Católica a voltar àquele que parece ser agora o seu desporto preferido: explicar o que disse.
O cardeal falava só dos padres pedófilos e, nestes, a homossexualidade estaria mais relacionada com a prática do crime do que o celibato.
É discutível, mas, dito assim, retira à frase aquela abusiva ligação directa "homossexualidade-pedofilia".

Antes, fora a frase do pregador da Casa Pontifícia que comparou as acusações de pedofilia da Igreja com as perseguições aos judeus.
A inevitável explicação também veio: o pregador citava a carta de um amigo judeu.
Este exercício "o que eu disse, mesmo, foi..." há-de continuar porque, entre outras razões, não é impunemente que se passam tantos séculos a falar sem precisar de dar explicações terrenas. Uma organização que se permite, com toda a coerência da sua estrutura de pensamento, dizer que alguém é infalível estar agora a explicar-se todos os dias poderá parecer que fraqueja.

Mas, de facto, é hoje, e não ontem quando não estava para se questionar, que a Igreja Católica está a fazer uma notável prova de vida.
E ser Bento XVI, o "doutrinário", a abrir-se ao mundo não é a menor das surpresas.

Ferreira Fernandes in Um ponto é tudo ( Diário de Notícias)

Um comentário:

  1. É uma época difícil, esta que a Igreja Católica atravessa! Ao penitenciar-se e assumir, publicamente, os seus mais hediondos crimes dá a outra face, como Cristo nos incumbiu (aos crentes, claro)! Por outro lado abre brechas enormes por onde entrarão flechas que a pretendem ferir de morte. Cerrar fileiras é uma das palavras de ordem! Punir os criminosos e não deixar, nunca mais, que manchas negras sujem a sua missão é outra.

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