terça-feira, 6 de abril de 2010

LXII - A chegada da 'cavalaria'...

Foi então que Cristina, 'Foxy Lady', Laura Palma, todas elas ou a que preferirem, se levantou de sopetão e iniciou um discurso acalorado que apanhou Mercedes de surpresa.
" Como sou uma rapariga bem educada e sei de há muito das tuas perturbações psicológicas e da tua mitomania exacerbada, tenho-te deixado falar sem interrupções, mas agora chega..." e sem fazer caso das anteriores ameaças avançou até aos cigarros, acendendo um e expelindo o fumo com prazer evidente.

Pelos vistos nem a cigarreira nem o isqueiro utilizados eram qualquer novo gadget do Mr.M do 007...

Depois de mais uns segundos para nova fumaça, a dona de casa prosseguiu a sua alocução num tom de voz bastante mais elevado que o seu habitual " Portanto vamos lá pôr os pontos nos iiis..."
Comecei a aperceber-me da estratégia planeada. Cristina estava a tentar ganhar tempo para que a 'cavalaria' chegasse ( ...e quem seria o 'herói'? O tal Gavião?).

" Eu nunca tive qualquer paixoneta, platónica ou de outro tipo por ti ou por outra mulher. Respeito essas opções, tenho boas amigas nessa 'onda', mas não faz o meu género...Eu sou mais 'homens', determinado tipo de homens, claro está..."
A Mercedes Trujillo parecia um balão a esvaziar-se. Toda a arrogância e agressividade com que chegara estavam a desaparecer. Os ombros descaídos e o braço pendente com a pistola a apontar para o chão ilustravam bem essa imagem de desânimo. Mas a Cristina não desarmava... "Muitas vezes acedi a ouvir-te, a escutar-te as mágoas, porque sabia que mais ninguém tinha paciência para te aturar, que todos os nossos amigos gozavam com o teu radicalismo primário, com a tua óbvia admiração por mim..."

E voltando as costas à sua 'admiradora', Cristina dirigiu-se até à janela de onde ficou a contemplar a rua lá em baixo enviando argolas de fumo para o ar como se não tivesse uma desequilibrada extremista e armada nas suas costas.
Nesta última, o momento de desalento dera lugar a um estado de cólera que começava a reflectir-se-lhe no rosto.
A pistola tremia-lhe na mão e por várias vezes vi-a apontada na minha direcção. O desenrolar da história não se encaminhava , segundo me parecia, para um final feliz....

Não era essa, contudo, segundo parecia, a opinião de Cristina. Satisfeita com algo que vislumbrara da janela, voltou a sentar-se mostrando, de novo, uns bons palmos de perna, com o nítido objectivo de cativar a atenção da auto proclamada defensora da união ibérica.

Nesta, as mudanças de estados de alma contraditórios sucediam-se. Agora adoptara um tom de voz suplicante " Mas Cris, tu sabes bem que eu seria capaz de tudo para te fazer feliz, muito mais do que todos estes..." a pistola apontou-me "...que só pensam em levar-te para a cama!"

" E quem é que te disse que eu me importava com isso?"
Foxy Lady,' a Provocadora, voltava a atacar. Algo se passara que lhe restituíra a confiança que, durante alguns minutos, tinha desaparecido.

O ligeiro ruído, que só eu ouvi, na entrada da porta deu-me a resposta. Cristina, da janela, vislumbrara os reforços que agora entravam em casa.

Mesmo estando prevenido, a pancada seca no pescoço da Mercedes, que a fez cair no chão da sala, enrodilhada como um saco vazio, apanhou-me de surpresa.
A ocupar toda a ombreira da porta, Miguel Gavião do alto do seu metro e noventa, olhava-nos com um sorriso irónico...

2 comentários:

  1. Isto está-se a complicar... será que esse 'tio' do metro e 'nonante' é o deus ex-machina da Cristina Laura Foxy Palma e desta estória, ou fará apenas de 'prop'/adereço, ou de côro grego, género p'ra dar umas info's de 'contexto' no meio da acção ??

    O mistério adensa-se e o pelote ticansse...

    ;-)



    :-)

    ResponderExcluir
  2. As minhas preces foram ouvidas (ou lidas...)Ainda por cima com esse de Gavião a entrar em cena. Bravo!

    ResponderExcluir