terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Tareco

Aquela velhota vivia sózinha desde que enviuvara
há doze anos atrás.
Por isso, quando viu o pobre gatinho indefeso,
tiritando de frio no meio da rua,
sentiu uma onda de ternura subir por ela acima.
Pegou no bichinho e levou-o para casa.
Deu-lhe um pires com leite e bolachas torradas
com pedaços de atum.
O pequeno animal ronronou, satisfeito.
Nessa noite dormiu no aconchego do quente édredon de penas
da bondosa senhora.
No dia seguinte, a velhota foi comprar comida para o tareco.
Trouxe um saco cheio de vitaminas, boiões, latas importadas
e todos os acessórios para a higiene e conforto do animal.
O bicho foi crescendo e, em poucas semanas,
ultrapassava já o tamanho de qualquer gato da vizinhança.
A velhinha continuava a enchê-lo de acepipes
e paparoca importada.
Mas o animal cada vez comia mais...
Os dentes eram, agora, aguçados
e belas riscas pretas cruzavam-lhe o dorso musculado.
O felino estava tão grande que os vizinhos
começaram a sussurrar...
Quando o carteiro da zona desapareceu,
vindo a encontrar-se o chapéu à porta da velhota,
os murmúrios transformaram-se em fortes suspeitas.
O Gatinho, maior já do que um burro,
continuava a devorar toneladas de comida.
Dois polícias visitaram, então, o apartamento da velha senhora.
Nunca mais foram vistos.
Foi nessa altura que um vizinho vivaço
resolveu aproveitar-se da situação,
e mandou o cobrador de impostos até ao andar da viúva.
Como os outros, desapareceu, sem rastro.
Um outro, do terceiro esquerdo, mandou lá a sogra odiosa.
O contabilista da cave, o famigerado patrão.
E a vizinha de cima, encaminhou até à porta
o tio riquíssimo, do qual era a única herdeira...

...e só então, finalmente,
aquele belo Tigre de Bengala, foi adoptado pelo prédio todo!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário