domingo, 31 de maio de 2009
Por causa disso...
Mas desta vez acreditaram e por causa disto o senhor Januário e a dona Josefina venderam a mercearia, venderam a casa, venderam o carro.
O senhor Januário tentou vender a dona Josefina, mas ninguém a quis comprar.
Mais discreta a dona Josefina tentou trocar o senhor Januário por um submarino.
A dona Josefina sempre fora uma entusiasta do mar, sempre gostara das profundidades e que melhor para as profundidades do que um submarino?
Mas a verdade é que ninguém queria o senhor Januário, e também não havia submarinos para a troca.
Interrogou-se a dona Josefina “ mas o que fizeram àqueles submarinos que um ministro comprou?”
Se já na altura não pareciam ter muita utilidade agora que o mundo ia acabar é que não serviam mesmo para nada.
Bom, mas em boa verdade se diga o senhor Januário também não parecia ter grande préstimo. Para que o quereria quem pudesse ter um submarino para a troca?
Baixinho, de bigode, burro que nem um cepo, que serventia poderia ele ter?
Mas era precisamente aqui que a dona Josefina apostava, se era verdade que o senhor Januário não tinha qualquer préstimo, também não era menos verdade que o submarino também não.
Em boa verdade, o problema central nem sequer estava nos argumentos de troca, o problema estava no submarino, porque não havia ninguém que tivesse o submarino.
Não havia ninguém, não é bem verdade, a marinha tinha pelo menos um submarino, mas só tinha um e se o submarino era velho e sem préstimo, como é que a marinha, mesmo em tempos de fim de mundo, ia dizer à Comunicação Social, que tinham trocado o submarino por este senhor.
Temos, assim em vez de um submarino…um Januário.
Não podia ser.
E assim o tempo foi passando e a dona Josefina não conseguiu trocar o senhor Januário por um submarino (porque não havia quem tivesse submarinos para a troca).
O senhor Januário não conseguiu vender a dona Josefina.
O mundo não acabou, o que acabou foi o dinheiro da venda da casa e da mercearia, do automóvel… mas isso já é outra história.
Contos do Feeling Estranho
Obama "também" no Egipto
Nesta visita, em que pretende recomeçar as negociações de paz no Médio Oriente, Obama espera encontrar-se com a célebre Contessa, a banhos no Nilo.
O Presidente já declarou aos jornalistas "Espero encontrar a Contessa e perguntar-lhe se esteve presente na inauguração das Pirâmides...".
Por razões óbvias, o "Galo" não tece qualquer comentário.
4 Vidas = 4 Filmes
O talento de Steven Spielberg, já amplamente demonstrado,
ao serviço de um dos homens mais importantes
da História Contemporânea.
A biografia filmada do autor de I Have a dream.
sábado, 30 de maio de 2009
Hoje no Expresso
O "Galo" deixa aqui um cheirinho...
Sobre Marinho Pinto
Reviu a entrevista com Marinho Pinto?
Não, nunca revejo nada.
Sei o que fiz e não gosto de me ver em televisão.
Tenho horror.
Reconhece que houve falhas?
Não.
Tenho plena consciência que fiz aquilo que devia ser feito.
O bastonário dispara para o ar e eu confrontei-o de forma directa, como ele costuma fazer.
Mas quando diz ao bastonário "então o senhor é um bufo".
..Porque é uma constatação.
Ele acabava de dizer que não sei quem, ao fazer isto e aquilo, era bufo.
Estava a retratar-se...
Disse mais: "Não está a fazer muito pela sua classe", "fez um frete ao Governo"
...Não o faço de forma traiçoeira!
Estou a confrontá-lo e ele pode responder.
Não estou em frente a um bebé indefeso.
Foi bom o resultado?
Não foi mau.
Confesso que não gosto de ter à minha frente alguém que se expressa como um carroceiro. Mas como entrevista foi bom.
Sobre José Sócrates
O que acha de José Sócrates?
É complicado para um jornalista responder.
É ver a informação em Portugal.
Se não fosse tão subserviente, o primeiro-ministro não podia fazer aquele número inacreditável, dirigindo-se ao país para criticar um jornal da forma como fez.
O que é que isso diz dele?
Tenho alguma dificuldade em caracterizar, porque achei que aquilo nunca poderia acontecer... (silêncio) Algumas atitudes assustam-me.
O PM processou-a e foi processado por si. Tem isenção para dar notícias sobre ele?
Claro que tenho.
Mas agora sinto que tenho de ter mais cuidado.
Estou muito mais limitada. Sinto-me condicionada.
O Teste da Banheira
Os Simpsons e a Publicidade
Ora aqui temos o nosso velho amigo Homer Simpson a fazer publicidade ao MasterCard.
E esta hein ?
MPI - Movimento Pela Igualdade
A lista do Movimento Pela Igualdade (MPI),
que defende a legalização do casamento
entre pessoas do mesmo sexo,
tem figuras de praticamente todos os quadrantes.
Entre elas estão Saramago, Daniel Sampaio, António Costa,
Ricardo Araújo Pereira ou Miguel Sousa Tavares.
O número de subscritores já quase ultrapassou o milhar
e alguns estarão presentes amanhã,
pelas 16h00, no Cinema São Jorge,
onde decorrerá a apresentação oficial do MPI.
E a sua posição qual é ? Contra ou a favor? E porquê?
O Indiferente
Desde mesmo antes de casarem, ele nunca fora muito dado a manifestações de carinho.
Nunca lhe oferecera flores ou chocolates, como os namorados das suas amigas faziam.
As poucas vezes que a levara ao cinema, nunca lhe pegara na mão.
Nunca lhe escrevera uma única carta romântica, ou mesmo uma carta normal, que fosse.
Com o casamento, teve esperanças que algo mudasse, mas a indiferença do Gaspar mantivera-se incólume.
Nunca lhe comprara nada nos anos, nem a levara a jantar fora.
Nunca a surpreendera com umas férias num destino exótico.
Puket, Pipa, Cebu, Varadero…ou Armação de Pêra.
Nunca a beijara de forma apaixonada.
Melhor dizendo, e agora que pensava nisso, nunca a beijara, tout court…
As suas amigas da escola, as colegas de escritório, as familiares próximas e mais afastadas, começaram a ter bebés.
Umas criaturinhas rosadas, que choravam a toda a hora, mas a quem se podia comprar rocas e botinhas de lã.
E ela, nada…
Também, como seria possível? Só se fosse o Espírito Santo…
O Gaspar estava cada vez mais frio.
Dantes ainda chegava a casa, sentava-se frente à televisão e lá via o Trio de Ataque, Os Donos da Bola, e outros programas do estilo enquanto ela preparava o jantar.
Depois continuava frente ao aparelho a dar uma vista de olhos pela Bola e pelo Record enquanto, sem gosto nem entusiasmo, esvaziava o tabuleiro que ela lhe punha à frente.
Quando ela voltava, depois de ter arrumado a cozinha, já ele ressonava, há muito, enfiado no pijama às riscas que a mãezinha lhe oferecera no Natal.
E era todos os dias, semanas, meses, anos, sempre a mesma coisa.
Marizete tinha tentado despertar-lhe a atenção por todos os meios.
Lingerie erótica, dança do ventre, comida afrodisíaca, nada…
Tentara apimentar a relação, mas com resultados nulos.
O Gaspar estava cada vez mais frio…
E agora, ele que nunca fora dado a grandes higienes,
começava a cheirar mal.
Marizete, depois de tanto tempo de sacrifício e altruísmo,
tomou uma decisão definitiva…
No dia seguinte, iria mandar fechar a tampa do caixão.
Ernesto E. Minguêi
Earth
Mais um filme/documentário sobre animais, três famílias desta vez, com a chancela da Disney. Imagens de grande qualidade, comoventes e hilariantes, em certos casos.
Serralves em Festa 2009
Serralves em Festa
faz parte de uma celebração ainda maior:
os 20 anos da Fundação
e os dez anos do Museu de Arte Contemporânea.
Dias 30 e 31 de Maio.
O aniversário, a dobrar, será assinalado com uma grande exposição daquilo que Serralves tem vindo a coleccionar durante estes dez anos e é o ponto alto da 6ª edição da festa de arte contemporânea: a "coincidência temporal" entre os dois momentos - o acervo irá ocupar a área expositiva completa do museu a partir de 29 de Maio e o festival instala-se no fim-de-semana de 30 e 31 - é a "grande novidade" do evento que enche todas as artérias de Serralves com mais de 80 actividades, cerca de 400 artistas e 200 momentos de apresentação em 40 horas
non-stop.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
da Semana colocaram-me num grave dilema.
Por um lado escolher um, e um só, Comentário,
que segundo o critério do"Galo", abordasse um tema i
nteressante para a maioria dos nossos Leitores,
de uma forma clara e transgressora, se possível.
Por outro lado, fazer tábua rasa de muitos mais,
igualmente inteligentes, bem elaborados e,
igualmente, provocatórios.
Mais uma vez, La Payita escreveu alguns dos comentários
mais emocionados e sentidos, transmitindo-nos a todos
o seu temperamento e alma latina.
O Zé Manel, noutra onda, também deu o seu melhor,
assim como muitos outros comentadores habituais.
Porém, desta feita o Comentário da Semana
é da Moira de Trabalho. Aqui fica ele.
"...O que é "normal"? Quererá dizer-se "habitual"?
Quem pode julgar a normalidade pela habitualidade?
É habitual ver-se homens a cuspir no chão, para usar um exemplo preverso.
Nenhum de nós, penso, achará isso "normal".
Mas à porta de qualquer tasca, assim o é entendido por qualquer um dos frequentadores.
O conceito de "normalidade" está, portanto, repleto de subjectividades.
O contexto social, geográfico e, sobretudo, cultural, ditam mais regras que as escritas nos compêndios.
E a "nossa casa" é um sub-contexto de tudo isso.
Provavelmente, na minha casa dá-se um exemplo de "anormalidade" para muitos.
Para a minha família, no entanto, é a normalidade que se pode arranjar.
Vivemos bem com as escolhas que fizémos e isso é a nossa felicidade.
Julgar-se um pai mais competente só porque vive em "ambiente normal" em detrimento de uma mãe gay de opções radicais políticas, distorce por completo o conceito de imparcialidade na apreciação de qualquer situação.
Não conhecemos os outros aspectos importantes dessa família e, como todos sabemos, julgar as partes não é igual a julgar um todo.
Holisticamente dá erro.
Se há coisa que, pelo menos, joga a favor dessa mãe é a sua autenticidade - o que não quer dizer que o pai não a tenha também.
E educar crianças em regime de honestidade só pode ser bom."
Moira de Trabalho
Nota do "Galo": Este Comentário refere-se ao Post, cujo link deixamos abaixo. http://ogalodebarcelosaopoder.blogspot.com/2009/05/pai-distraido.html
Uma questão de Fé
tem ainda coragem para duvidar que o Cão
seja o Melhor Amigo do Homem,
ou, pelo menos, do Rapaz?
Enviado por Zé Manel
Um pouco de História
Era uma rotina criada com o evoluir de uma guerra destruidora e avassaladora que ameaçava toda a Europa, num cortejo de horrores que se pensava nunca mais serem possíveis após a Primeira Grande Guerra.
Ledo engano.
Sintonizada a BBC ,aguardava-se a entrada no ar da característica voz do inesquecível Fernando Pessa com a sua emissão em português e que nos informava sobre a evolução do avanço dos Aliados que há algumas semanas tinham desembarcado na Normandia e assim redobrado o animo das sofridas populações desejosas de regressar aos tempos de Paz.
Recordo a tarefa de que fui jovem ajudante, colocando fitas de papel nas janelas para que na eventualidade de sofrermos bombardeamentos, minimizar os efeitos dos estilhaços dos vidros partidos e lembro-me que em algumas noites se viam circular os poucos automóveis que na minha rua circulavam tinham os então chamados “olhos de gato”, faróis tapados com papel escuro que apenas deixava passar um fio de luz na horizontal.
Um dia, alguém me levou até ao jardim próximo de casa para ver o lançamento de um balão cativo.
O Exército tinha aquele equipamento que consistia num balão que estava preso a um sistema com um guincho que com um cabo de aço, presumo eu, assim permitia a subida e descida daquele balão que se bem me recordo, teria a forma de um grande melão.
Destinavam-se estes balões cativos a defender as cidades de aviões em voos de ataque, a baixa altitude.
O sentimento de perigosa ameaça era quase palpável e do lado de Espanha, não vinham bons ventos pois traziam o cheiro a muito sangue e muita fome.
Por cá, o racionamento de alimentos e combustíveis era falado, não recordo se aconteceu.
Tempos difíceis e de muitas preocupações que hoje em Portugal, muitos desconhecem e poucos recordam.
Mas que nos países que sofreram os horrores inimagináveis daqueles anos de loucura e onde ainda subsistem marcas indeléveis, jamais serão esquecidos.
Carapau de Corrida
O pote de vidro e o café
Quando a aula começou, ele, calado, pegou num frasco grande de vidro vazio e começou a enchê-lo com bolas de golfe.
Quando não cabiam mais, perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio.
Todos responderam que sim.
O professor então pegou num saco de feijões secos e, ao chocalhar o frasco, estes iam entrando para os buracos vazios entre as bolas de golfe.
Quando não cabiam mais, ele perguntou de novo aos alunos se achavam que o frasco estava cheio.
Todos responderam que sim.
Neste ponto, o professor despejou um saco de areia para dentro do frasco.
Como é óbvio, a areia ocupou todo o espaço restante do frasco.
Quando não cabia mais, perguntou aos alunos se achavam que of rasco, estava cheio.
Todos responderam que sim.
Foi então que o professor agarrou em dois copos de café e os entornou lá para dentro.
Agora sim, não havia mais espaço.
Os alunos desataram a rir !!!
-Agora,- disse o professor enquanto as gargalhadas ainda se ouviam, - eu quero que vocês reconheçam que este frasco representa a organização da vossa vida.
As bolas de golfe são as coisas mais importantes: representam a família, os filhos; a saúde; os amigos e o que vos é mais querido, de modo a que se tudo na vida desaparecesse e só ficassem elas, a vossa vida continuava cheia!
Os feijões são as outras coisas importantes da vida: representam o trabalho, a casa, o carro;
- A areia é tudo o resto das coisinhas pequeninas.
Se encherem primeiro o frasco com a areia, já não há espaço para ofeijão nem as bolas de golfe.
O mesmo se passa com a vida.
Se gastarem todo o tempo e a vossa energia com as pequenas coisasnunca vão ter espaço para as coisas verdadeiramente importantes.
Prestem atenção às coisas que são essenciais à vossa felicidade.
Brinquem com as crianças. Tirem tempo para ir ao médico, talvez fazer um check-up.
Saiam para um jantar romântico. Vai haver sempre tempo paraarrumar a casa, para despachar um trabalho que só falta um bocadinho.
Tomem conta das vossas bolas de golfe primeiro, das coisas que têm mesmo importância.
Tenham prioridades. Para o resto vai sempre haver espaço.
Não encham o vosso frasco primeiro com a areia, pois as bolas de golfe não vão caber no fim.
Um aluno perguntou: - E o café o que é?
- Ainda bem que perguntas. Eu ia agora mesmo dizer-vos.
...É que mesmo que sintam que a vossa vida está cheia,
há sempre espaço para beber um café
com um amigo.
Enviado por Mário Ortet
O Monstro - Vasco Pulido Valente
Nota do "Galo"- Para melhor leitura, clicar em cima do texto.
E já agora, está de acordo com o VPV? Ou, pelo contrário, pensa que soluções musculadas não nos levam a lado nenhum? Ou opta por uma terceira via, de nem tanto ao mar nem tanto à terra, no meio é que está a virtude, e por aí fora? Mais autoridade, com a expulsão dos elementos perturbadores? Deixa estar, que assim está muito bem? Temos que encontrar outra solução? E neste último caso, qual ou quais ?
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Os 40 Semi Finalistas
A diferença entre um Yes e um No. Entre lágrimas de Tristeza e lágrimas de Alegria. As nuances que separam expressões do Continuar de um Sonho às de um Morrer da Esperança. Dezenas de talentosos amadores, Avós e Netos, Grupos de Amigas ou de Vizinhos de Bairro, Donas de Casa de Província, e toda a irreverência, loucura e sentido de humor ( english, entenda-se) que só os súbditos de Sua Majestade possuem.
Estes são os 40 seleccionados para as semi finais do BritainsSoTalented 2009. Vá lá, emocionem-se um bocadinho. Não faz mal a ninguém...
" E o que fazes nos anos ?"
Esta frase do Vinicius que tinha recebido de um colega por e-mail, andava a deixá-la inquieta, ainda mais que a sua data de aniversário se aproximava.
Sérgio havia de que querer preparar-lhe uma festa animada, com muita gente, amigos e conhecidos, muitos copos!
Divertirem-se até de manhã…
As colegas não lhe iam perdoar se não houvesse jantarinho e saída só de mulherio!
A ela não lhe apetecia nem uma coisa nem outra!
Tinha pensado em convencer Sérgio a terem um jantar só a dois.
Um sítio simpático, boa conversa, boa música…até já sabia qual seria o restaurante!
No fim-de-semana seguinte dar-lhe-ia o prazer da noitada.
Mas a frase de Vinicius não lhe saía da cabeça e começava a dar conta da angústia que se impunha cada vez mais.
A parte da frase de todos os seus amores assentava-lhe, mas nunca enlouqueceria pela morte dos seus amigos, porque pura e simplesmente não os tinha.
Não tinha o que pudesse chamar de amigos seus, ou eram amigos do Sérgio ou de algumas colegas, ou passageiros ou de circunstância.
De facto, e não sem mágoa, essa parte da vida tinha-lhe passado ao lado.
Irrequieta, angustiada, decidiu de impulso festejar o seu aniversário tal como sempre desejara, mas sem nunca o conseguir: sair, festejar apenas consigo, sem que ninguém pudesse insistir para comemorar em conjunto!
Depois logo trataria das consequências…
Pois ia a Londres, as passagens nem eram caras e sempre tinha querido ir de fim-de-semana para lá de Madrid ou Barcelona.
Sérgio não ia entender, as colegas também não, e ela bem sabia que era uma fuga a situações indesejáveis e, sobretudo, ao confronto recorrente com festas para amigos que não eram seus.
Ia ter a sua festa, sozinha, de facto!
Começava a sentir uma leve excitação com o que de repente tinha decidido e já estava disposta a achar que não podia haver qualquer retorno.
Era Londres, sim! Era uma fuga, também!
Mas ao fim e ao cabo também nunca tinha conseguido fugir aos seus incontornáveis dias de anos.
Quin
A presto, Contessa
Lá dentro, para além da pouca roupa - as temperaturas são muito elevadas, nesta altura do ano - a urgência do reencontro com aquela terra de fascínio, quase toda deserto, e o fio de verde daquele Rio, que já não avassala as margens, para a estação das grandes colheitas.
Durante anos, resisti ao desafio de amigos, para fazer a viagem...
Ando, agora, a recuperar o tempo perdido, para um outro tempo de encontro comigo - e com os amigos, de cá e de lá - na margem daquele Rio, onde passo grande parte dos meus dias, até o sol se pôr, quando os pássaros já me esperam no jardim, já vazio dos outros, para as migalhas do pão de ló...
Ler, ler, com Paul Bowles - o eterno amante do norte de África e dos chás no deserto -
na bagagem, e a "Trilogia do Cairo", de Naguib Mahfouz;
"in loco", terá certamente outro sabor...
Já vi bastante do Egipto, mas vou repetir lugares!
"Aventura" nova, só dormir no deserto...
Não levo computador.
Levo a velha caneta.
Para escrever, já sózinha, em frente daquele Rio,
onde repousam os Reis...
Contessa
Antes e Agora
Ao ouvirmos, e vermos, os Diamond a cantarem o seu êxito Little Darling, com 40 anos de intervalo, é que percebemos a vantagem dos Beatles terem-se separado com a idade com que o fizeram...
Enviado por Contessa
Justiça à Portuguesa
O nonagenário que não desiste de mudar o Mundo
que admiro há décadas,
esteve no último fim de semana em Portugal.
Embora correndo o risco de me considerarem desmesurado, sempre declaro: Morin é, a uma escala mundial, o maior pensador vivo.
Não encontro outro espírito tão polivalente, tão inventivo, repartindo o seu imenso trabalho criador por áreas múltiplas, da biologia aos mitos culturais, dos fenómenos sociológicos como o cinema e os media à ecologia e à cibernética.
Um Leonardo da era moderna.
Passou uma boa parte do século XX a inventar as reformas indispensáveis à sobrevivência da humanidade.
Agora em Viseu (porque o colóquio em que participou teve por cenário os 30 anos do Instituto Piaget), o filósofo nonagenário concentrou-se no ensino, cuja «reforma radical» defendeu, apontando alternativas que possibilitariam aos jovens enfrentar os desafios do presente e do futuro.
«O ensino», disse, «continua separado de uma visão global do mundo exterior.
Essa visão global é indispensável à compreensão do que está a passar-se, a sociedade precisa de um saber não compartimentado, mas transversal.»
Desde cedo me seduziu na obra de Morin (em parte significativa traduzida para português) o seu pensamento planetário, as reflexões universalistas sobre a natureza e a condição humanas, o cepticismo angustiado de incertezas com que conceptualiza as contradições do mundo e, em especial, aquele olhar herético, provocador, que arrasa tudo quanto são ideias feitas.
Sabe-se que um filósofo jamais poderá gerar unanimidades.
Todavia, Morin converte essa premissa num exercício desafiantemente revolucionário, cumprido de cada vez que exterioriza uma ideia.
Até os leitores fiéis que por hábito lhe tributam uma atenção admirativa não conseguirão evitar objecções e até dissidências irremíveis.
Ou quase... Já me aconteceu que, lendo-o, em determinado passo me desvie do livro e murmure: «Oh, Edgar! Aqui não estamos de acordo! Desculpa, mas...»
Anos depois, um acontecimento de natureza diversa projecta-me para o conceito por mim renegado e transijo, penitente: «Bem, Edgar, é possível que tenhas razão. É mesmo muito possível...»
Morin está sempre na contracorrente de tudo, a começar, naturalmente, pelas "verdades irrefutáveis", as "tradições inquestionáveis", os dogmas políticos, religiosos, filosóficos...
Quem não o conheça e mostre interesse em dar uma espreitadela ao seu universo transdisciplinar poderá optar por "Os Meus Demónios" (ed. Europa-América), uma espécie de breviário de pensamentos rebeldes, de convicções e dúvidas ancestrais.
Saímos do livro com a impressão de termos percorrido um grandioso fresco histórico de uma vida, uma vida de ideias.
Ideias que, por seu turno, como assinala, têm vida própria, porque não existe simplesmente vida biológica: «É por isso que se pode viver, e também morrer, por uma ideia.»
Particularidade desta obra invulgar é a de não se tratar, em rigor, de uma autobiografia, na acepção corrente do termo.
Morin não se cansa de evocar a sua vida fabulosa mas rapidamente abandona os episódios pessoais para iluminar as ideias que os enquadram ou lhes estiveram subjacentes.
Essa rememoração quase sempre magoada principia no próprio nascimento, em circunstâncias trágicas: a mãe ou o filho, um deles teria de morrer no parto.
Milagrosamente, sobreviveram ambos, mas a mãe nunca recuperou, partiu poucos anos depois. Edgar carregaria para sempre o primordial demónio dessa sombra.
Revisita com inclemente lucidez as ideologias e combates que atravessaram o século XX («Que época! Quantas reviravoltas e cegueiras!
Quantas tempestades! Quantos mitos e desmitificações!»). Tempos de sucessivas resistências: primeiro, ao nazismo, depois, ao estalinismo.
A excomunhão sofrida em 1951, por parte do PC francês, trouxe-lhe a aversão de muitos companheiros de jornada para os quais o marxismo ortodoxo constituía uma autêntica religião da salvação terrestre.
E foi o primeiro a teorizar sobre um inevitável colapso do império soviético.
Descrente, sempre rebelde, prosseguiu quase sozinho, permanecendo por longos anos em "hibernação política".
Outras linhas de força: o progresso civilizacional indissociável da barbárie, o túnel infindo dos antagonismos: «O pensamento, quando chega às regiões mais profundas da realidade, encontra contradições logicamente insuperáveis.»
Dilacerado por estas contradições, escreve, referindo-se à Alemanha nazi: «Como é que a nação mais culta do mundo produziu uma das piores barbáries universais; como é que o país onde nasceram a música, a poesia, a filosofia que mais me tocam deu origem às ideias que mais me repugnam?»
Cada livro de Morin submerge-nos numa avalancha de interrogações.
Sempre latente, no entanto, a ideia da mudança, da reforma das ideias, de um urgente «começar de novo»..
Aos noventa anos continua a resistir com a rebeldia de quem acredita que o pior de tudo é desistir de mudar o mundo.
Veja o seu Perfil de Eleitor
Perca, ou ganhe, cinco minutos do seu tempo e talvez tenha uma surpresa...
Enviado por Olhar do Planalto
Beyoncé - Single Ladies ( Put a Ring on it)
Pois aqui deixo, especialmente dedicado aos marmanjões que seguem habitualmente o blog, a Beyoncé, and Friends, a cantar, e a dançar, o Single Ladies ( Put a Ring on it). Melhor começo de dia é impossível...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Este é o Governo que temos
... O GOVERNO DÁ UM
...O GOVERNO DÁ A
... O GOVERNO DÁ O
... O GOVERNO DÁ O
... O GOVERNO DÁ O
... O GOVERNO DÁ O
... O GOVERNO DÁ-TO EM 3 MESES NAS
O GOVERNO DÁ-TE UMA BOLSA DE IMPOSTOS
Ex - Citação
escolhidos a dedo, por serem fiéis e competentes.
Nos últimos tempos tenho descoberto que,
afinal, são cegos, surdos e mudos."
Oliveira Costa
Ex-Presidente do BPN
Nota do "Galo": Ontem, perante a Comissão de Inquérito da Assembleia Nacional, Oliveira Costa leu durante cerca de três horas um texto bem elaborado e minucioso, atirando as culpas do fracasso do seu Grupo,para alguns Accionistas, o Grupo dos 10 ou dos 4, e para Dias Loureiro.
Querem apostar que, no final, vai ficar tudo em águas de bacalhau?
E muitos milhões dos nossos Impostos lá ficarão enterrados ad eternum.
Ser Modelo, não é fácil
Este é um dos modelos que a Moira de Trabalho usa, habitualmente, nas suas aulas. E, agora, que tal tentarem descortinar qual dos outros participantes do vídeo é a própria Moira... Já descobriram?
O Voto contra do Galo
Futurama
A parede ecran mudou a imagem do céu estrelado para uma manhã de sol radioso com pássaros a cantar.
Não estando para Primaveras, apontei o dedo telecomando para a parede e fui vendo os cenários possíveis – montanhas geladas, fundos de oceano, florestas tropicais, a imaginação dos designers não tinha limites.
Acabei por parar numa ampliação gigante de pele queimada pelo sol, coberta de finas gotículas.
Inspirada nos tempos remotos em que ainda havia sol e a epiderme das pessoas podia estar exposta no exterior das favélias, os actuais agrupamentos de favos individuais ou colectivos onde os , cerca , de 380 000 sobreviventes da Grande Explosão ou Big Bang/Bang, vivem.
A minha, com os seus 25m2, pode considerar-se enorme,
mas o lugar de Conselheiro Onírico e Presidente do Conselho
de Sonhos e Situações Afins, dá-me certas regalias
que a maioria das pessoas não tem.
Olhei-me no Imagem 3D e escolhi a espuma protectora que iria usar hoje.
Optei por um padrão com bolas azuis e coloquei-me debaixo do Regador Óptico.
Dois segundos depois estava vestido da cabeça aos pés e protegido das radiações, que ainda impregnavam as artérias de New Rebolleyr, a capital do Mundo Livre.
Entrei no tubo transmissor M23Speed800 que, no canto direito da divisão, tinha começado a piscar uma luzinha azul, indicativa de que a hora de partida se aproximava.
Tive ainda tempo de engolir uma cápsula de baguette com aroma de frango e despejar, boca abaixo, uma saqueta de essência de algas marinhas.
O trajecto no tubo demorou os 14 segundos habituais.
Às seis em ponto, sentado no Grande Auditório comecei a ver a projecção dos sonhos de toda a população.
Embora grande parte fosse vista na aceleração máxima, tinha muito trabalho pela frente.
Bocejei, de tédio, antevendo o dia aborrecido que se aproximava...
A campainha rouca do despertador acordou-me, fazendo-me saltar na cama.
Espreguicei-me, cansado da noite mal dormida e por ir passar mais um dia sem história, na Fábrica Manel dos Pneus .
Fiz a barba, cortei-me, tomei banho e demorei algum tempo até encontrar uma camisa lavada e uns jeans decentes.
Bebi um café frio, fumei dois cigarros e mastiguei à pressa uma coxa do frango frito, que sobrara da noite anterior.
Depois foi o correr, do costume, para apanhar a camioneta .
Quase duas horas depois chegava à Fábrica, em Braço de Prata.
Já na linha de montagem olhei o relógio, sem esperança.
Bocejei, de tédio, antevendo o dia aborrecido que se aproximava…
Isaac Simak
Posts relacionados:
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terça-feira, 26 de maio de 2009
Capa do The New Yorker, em iPhone, por Jorge Colombo
da revista norte-americana "The New Yorker"
traz uma novidade a nível do design gráfico:
o desenho do ilustrador Jorge Colombo
foi totalmente desenvolvido no seu iPhone,
com o acessório Brushes.
Colombo passou uma hora em frente ao museu de figuras de cera Madame Tussaud, em Nova Iorque, "pintando" a cena no seu iPhone.
O designer português, que iniciou a sua carreira no "Independente" e já se encontra nos Estados Unidos há mais de duas décadas, destacou, na entrevista dada ao blog da "The New Yorker", a vantagem de poder desenhar em um ambiente sem luz.
"Antes, a não ser que tivesse uma lanterna ou um chapéu de mineiro, não conseguiria desenhar no escuro."
O iPhone também permite que o artista desenhe sem ser notado, já que a maioria dos transeuntes pensa que ele está checando o e-mail.
Para Jorge Colombo, o facto da ilustração ter sido feita no iPhone não é nenhum problema, nem diminui o seu trabalho.
Um outro acessório do iPhone, o Brushes Viewer, permite acompanhar passo a passo o desenrolar da ilustração por Colombo.
Post relacionado:
http://ogalodebarcelosaopoder.blogspot.com/2009/02/jorge-o-colombo-que-descobriu-america.html
O Carro que até Voa
Está atrasado(a) para uma reunião, para a estreia de um espectáculo, para um encontro íntimo ?Nada mais simples de resolver, basta alargar as asas, pé no acelerador e erguer-se nos ares como um falcão... Depois, o problema será encontrar lugar para aterrar.
Enviado por Contessa
Hi, Brother...
Toda a gente se preocupou por Michelle Obama ter tocado na Queen, mas ninguém reparou neste cumprimento entre o Presidente americano e o Bobby de serviço.
Agora, digam-me lá se uma Imagem não vale mesmo mais
do que 1000 Palavras ?
Enviado por Olhar do Planalto
Elogio ao Amor - Miguel Esteves Cardoso
Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade.
Já ninguém quer viver um amor impossível.
Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito.
Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa.
Por causa da cama.
Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado.
Os amantes tornaram-se sócios.
Reunem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível.
O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há!
Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "Tá! Tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banalidades, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona?
Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha.
Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.
Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores.
O amor fechou a loja.
Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor.
A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino.
O amor puro é uma condição.
Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não dá para perceber.
O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar.
A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.
A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.
A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre.
Ama-se alguém.
Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente.
O coração guarda o que se nos escapa das mãos.
E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber.
É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.
E valê-la também.
Miguel Esteves Cardoso
A Procissão
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O Bastonário da Bastonada
Hoje fica, aqui, o cartoon de Henrique Monteiro, com a sua interpretação pessoal do acontecido.
Curia Palace Hotel - Contessa a Banhos
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Redacção
que obteve a vitória num concurso interno
promovido pelo professor da cadeira
de Gramática Portuguesa.
"...Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida.
O artigo, era bem definido, feminino, singular.
Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir.
E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se.
Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente.
Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva.
Ele, completamente voz activa.
Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa.
Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício.
Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história.
Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo.
Era um superlativo absoluto.
Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos.
Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história.
Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva. "
Fernanda Braga da Cruz
Password Rejeitada
a configurar o computador e perguntou-lhe que password ele queria utilizar.
O homem, tentando atrapalhá-la, disse :- Pénis.
Ela, sem dizer uma palavra e sem dar parte de fraca, introduziu a password.
Mas não conseguiu resistir e quase se desmanchou a rir
quando o computador deu a resposta:
" PASSWORD REJEITADA:
NÃO TEM TAMANHO SUFICIENTE"...
Enviado por Maria Moura
Ser Massagista é uma maçada
A Humanidade avança por causa da insatisfação. O sermos ambiciosos é que nos trouxe até este patamar altíssimo de Civilização.
Senão ainda viveríamos em exóticas florestas, passando o dia a gravar bonecada nas paredes das grutas e a comer churrasco de javali. Ou então em praias sem poluição nem turistas, a pescar belas douradas e a comer lagosta grelhada.
Tudo, sem Impostos, nem ASAE, sem Governo, nem bichas para o emprego, sem pandemias, nem telenovelas...
Mas a insatisfação é que faz que queiramos estar onde não estamos, se formos cirurgiões plásticos desejarmos ser pontas de lança, se trabalharmos como fotógrafos querer ser bailarinos clássicos, e por aí fora.
Este massagista é bem o exemplo da insatisfação humana. Coitado do pobre...
Enviado por Moira de Trabalho
Justiça versus Jornalismo - Marinho vence Guedes por KO Técnico
Viva o Jornalismo que temos !!!
Viva a Justiça que temos !!!
Viva a Televisão que temos !!!
Viva Eu !!!
Enviado por Mário Ortet
Meditações sobre Cegonhas
Mudar fraldas, pôr bebés a arrotar, cantarolar o cancioneiro infantil, fazer papas Cerelac, negociar birras, não apresentavam grandes mistérios para mim.
E assim aconteceu.
Os primeiros anos correram sem sobressaltos, a desembaraçar-me nas grandes tarefas maternas, a improvisar nos primeiros desassossegos.
Entrámos na idade dos porquês.
À cautela, a precaver o futuro, tinha observado cuidadosamente as perguntas dos petizes e as estratégias dos pais.
Tinha rido deliciada com as aflições de uns e outros.
Estava preparada, portanto.
Rapidamente percebi que explicar a origem dos bebés seria o menor dos meus problemas, e nem sequer tive de me socorrer do velhinho expediente da cegonha.
Nas primeiras inquirições sobre o assunto, coloquei o meu ar professoral, e entre conceitos da biologia e histórias de príncipes e princesas, a coisa deu-se.
Fui premiada com um espontâneo e desconcertante – “Que nojo!!!”,
e uma providencial mudança de assunto. Tinha-me safo! Por ora…
As primeiras gotas de suor que me escorreram pela testa surgiram com as birras por um brinquedo novo.
À tradicional resposta de “não tenho dinheiro”,
a solução rápida e despachada:
“- Vai ao Multibanco que ele dá-te as notas!”.
E a explicação intrincada sobre noções básicas de economia impôs-se.
Mas se o Banco é nosso, como dizem na televisão,
é só ir lá dentro e pedir as notas, argumentava ela.
Pois, mas os bancos ficam com nosso dinheiro para que o apliquem em nosso benefício, porque assim ganha juros, dizia eu.
(Eu! A quem ensinaram sempre que não se deve mentir às crianças…)
E o debate académico sobre o funcionamento do nosso sistema fiscal prosseguia, terminando não raras vezes com a compra do almejado brinquedo…
A História de um país deve ser contada às gerações vindouras, por razões de cultura geral, mas sobretudo para que os erros do passado não se repitam.
Segura desta minha convicção, abracei a hercúlea tarefa de explicar a Ditadura e a Revolução. Quando dei por mim, dissertava histórias de ogres e fadas, polarizando a nossa História recente, num relato que se traduziu em noites mal dormidas, com pesadelos – ela – e insónias – eu.
Entre prisões políticas e cravos em espingardas, as descrições minuciosas sobre a cadeira do Salazar (teria espaldar? estava partida? e porque se lembrou ele de subir à cadeira?) e a confirmação quase sob juramento, uma e outra vez, de que está efectivamente morto.
E a grande questão colocou-se: as pessoas não podiam falar porque o Salazar lhes punha fita-cola na boca?
Ainda imbuída deste espírito, tenho levado a minha filha comigo a todos os actos eleitorais, momentos que aproveito para uma introdução aos princípios elementares da participação cidadã em democracia.
Na primeira vez, à saída da urna de voto, correu entusiasmada para a avó, aos gritos e apontando para as listas afixadas no recinto: “- A mãe votou naquele!!!”
E como explicar que um acto com consequências tão importantes na nossa vida tem de permanecer secreto?
Nos esclarecimentos sobre o “que é isso do Governo” também não fui feliz.
Declarou-se, peremptória, contra toda e qualquer instância que cometa o atrevimento de lhe dar orientações, gerais ou específicas, porque “nela ninguém manda!”.
E no final da cátedra, a tese.
Apresentada em toda a sua simplicidade axiomática, como só as crianças o conseguem fazer: “Votar é como as rifas.”
Mafalda
Beleza Micaelense
Mas os verdes, jade, bandeira, de todos os matizes
pedem meças a quaisquer outros.
E o mar, sempre presente, em reflexos de aço.
Aqui e ali, o golpe de asa de uma ave ou de uma paisagem.
E a água a dividir-se em lagoas, riachos e cascatas.
Oceano a toda a volta. Nuvens baixas por cima.