segunda-feira, 4 de maio de 2009

Choque Geracional

Eu nasci em casa, com a ajuda de uma parteira do bairro.
O meu filho nasceu num Hospital particular
com o apoio de uma equipa de médicos, anestesista, enfermeiras.
Eu fui sendo tratado à base de óleo de fígado de bacalhau,
clisteres e zaragatoas.
O meu filho teve médico pediatra desde pequeno.
Eu fui para a escola do Sr.Acácio e depois para uma Pública.
O meu filho esteve num Infantário
e depois num Colégio todo XPTO.
O meu primeiro jogo terá sido o “ da Glória”.
Em caixa de papelão.
O primeiro jogo do meu filho terá sido o Cars Racing
Para o Nintendo.
Eu só vi Televisão pela primeira vez aos 11 anos.
O meu filho, com essa idade, já há muito,
tinha um televisor no quarto, e a cores.
Eu passava horas a desenhar, pintar e recortar
legiões romanas com que fazia guerras intermináveis.
O meu filho passava horas a carregar, jogar e gravar
jogos de estratégia com que fazia guerras intermináveis.
Eu usava pullovers feitos em tricot pela minha Mãe.
O meu filho usa sweat shirts da Nike e da Billabong.
Eu tinha umas vagas aulas de Educação Física
em que saltava, mal, ao plinto.
O meu filho tem aulas de Natação, Ténis e Futebol.
As primeiras músicas que ouvi foi no Siera da cozinha.
Talvez o "Quando o Telefone toca" ou coisa parecida.
O meu filho tem um I-Pod com milhares de gravações.
Na pré adolescência eu já tinha lido centenas de livros
e visto meia dúzia de filmes.
Na pré adolescência, o meu filho tinha lido meia dúzia de livros
e visto centenas de filmes.
O mais longe que eu tinha ido, era até à Carreira do Mato,
perto de Abrantes.
O mais longe que o meu filho viajou foi até Carmel
perto de San Francisco.
As férias, eu passava-as na Costa da Caparica.
As férias do meu filho, já foram passadas no Rio.

Aos catorze anos, apaixonei-me à séria pela primeira vez.
Fiquei com um brilhozinho nos olhos.
E um sorriso meio apalermado.
O meu filho, aos catorze anos, apaixonou-se à séria
pela primeira vez.
Ficou com um brilhozinho nos olhos.
E um sorriso meio apalermado.

Afinal, nas coisas realmente importantes
não são tão grandes as diferenças…

8 comentários:

  1. Ora aqui está uma análise sociológica de grande calibre e que mais parece um espelho para a minha idosa pessoa.
    Outros tempos, bem mais saborosos, creio eu.
    Mas venha a discussão !

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  2. Eu penso que a ideia do autor é mostrar que apesar das diferenças, essencialmente tecnológicas, as gerações continuam a ter mais em comum, do que muitas vezes achamos. Mas esta é apenas a minha interpretação e, se estiver errada, aí está o Galo para me corrigir.

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  3. É que para as hormonas ainda não há substituto.
    Por enaquanto...quem sabe vai aparecer um programa qualquer a ditá-las.

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  4. Está muitíssimo bem visto. As coisas mudam, as emoções permanecem. O que é mais importante do que as emoções?

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  5. A noção delas?

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  6. A noção delas. Definitivamente. :-)

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  7. Galo...
    E eu que assisti a isto tudo, as gargalhadas que eu dei!!!
    E ainda bem que o teu filho tem o mesmo brilhozinho nos olhos e o mesmo sorriso apalermado!
    É muito bom sinal...
    Sobre esta "Short", a análise perspicaz do costume!

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  8. Afinal não sou só eu a fazer comparações entre o MoMA e o de Arte Antiga...

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