domingo, 3 de maio de 2009

Gosto / Não gosto ( em jeito de confissão...inacabada)

1 – Gosto de facas e canivetes…e beterrabas, não gosto de candeias

2 – Gosto do azul do céu, das camisas, das calças, das gravatas, gosto do azul dos teus olhos.
Não gosto dos castanhos, normalmente, mas há excepções.

3 – Gosto do Natal, da consoada, do peru assado no forno, dos sonhos e das filhoses.
Não gosto do bacalhau com brócolos, nem dos beijos das tias velhas com verrugas que me enojam a noite.

4 – Gosto das férias, do sol, do mar, das mulheres que amei nas praias do sul, na areia dourada, nas dunas quentes onde ninguém nos via.
Não gosto da praia de Carcavelos e de todas as praias de Carcavelos do mundo.

5 – Gosto declaradamente de mim, mais do que de qualquer outro ser vivo.
Não gosto de perder tempo a olhar-me ao espelho, a pensar que é de mim que mais gosto.
Há coisas mais engraçadas onde perder tempo.

6 – A morte, não gosto da morte.
Talvez porque ainda não morri e não imagino o que será estar morto.

7 – Não gosto de deixar uma mulher que amei e que ainda me ama.
Gosto de me apaixonar e começar um novo amor.

8 – Gosto de nunca me ter arrependido de nada.
Há coisas que gostaria de ter feito, e outras que gostaria de não ter feito, mas nunca me arrependi, do que fiz ou do que não fiz...ainda que às vezes sinta que estou perto de me arrepender por não ter feito uma coisa, mas depois não me arrependo porque não fiz essa coisa porque fiz outra e dessa nunca me arrependerei, ainda que ela já não exista.

9 – Gosto de me imaginar herói rodeado de belas mulheres e mesmo que não sejam belas no aspecto que o sejam na alma.
Não gosto de sonhar acordado, de pensar em coisas que nunca vão acontecer.
Gosto de realizar aquilo que sonho e quando não é realizável apago o sonho.

10 – Não gosto de fins.
Não gosto de despedidas.
Não gosto daquele momento do adeus em que tudo parece ir acabar.
Não gosto de estações de comboio quando se diz adeus.
Gosto de encontros, gosto de chegadas, gosto do brilho do olhar do que chega quando os seus olhos recebem e dão com o brilho do olhar do que espera.
Gosto daqueles segundos infinitesimais em que mais nada existe a não ser os dois.

11 – Não gosto de escolhas.
As escolhas obrigam sempre a uma desilusão, a uma tristeza.

12 – Desenhar.
Adorava saber desenhar, mas não sei e tenho pena.
Gosto de desenho clássico, perfeito, proporcionado.
Não gosto de bonecos mal feitos em histórias mal contadas.



Contos do Feeling Estranho

7 comentários:

  1. Não gosto do Natal, nem excessivamente de mim.
    Já me arrependi de muita coisa e gosto de fazer escolhas. Sou portanto muito diferente do autor, mas gostei da poesia e do humor subjacente a muitas das frases.

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  2. Já outros o disseram antes de mim, mas o Feeling Estranho é o autor mais variado entre todos os contistas.

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  3. E eu, abaixo do Marau e do Alvega.
    Sobretudo na constatação:
    "Gosto declaradamente de mim... não gosto de perder tempo a olhar-me ao espelho..."
    Feeling Estranho, ou o Poder do Texto!

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  4. Margarida Ferreira dos Santos3 de maio de 2009 às 21:09

    Não assino quanto às escolhas, poder escolher é uma liberdade que temos!
    Mas gosto do texto em jeito de manifesto, good feeling! Beterraba? Já ouvi falar...

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  5. "Gosto de me apaixonar e começar um novo amor" e quem não gosta? Ainda por cima com estes dias com sabor a Sol, Sal e Sul ?
    Várias frases para pensar e meditar...
    Gostei

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