sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A queda de um império

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A mansão no Alto da Boa Vista, zona nobre do Rio de Janeiro,
era uma das mais imponentes, na década de 70.
Com mais de 600 m2 de área coberta, doze quartos
e enormes salões para festas e recepções,
era ponto de encontro de militares do regime, actores da Globo,
políticos ambiciosos e com poucos escrúpulos, jogadores de futebol
e starlettes com muita ambição e pudores reduzidos.
O comendador Salvatore Cassini, de ascendência italiana,
utilizava-se da sua amálgama de conhecimentos
para ser sempre seleccionado nos concursos públicos
em que se discutia o abastecimento dos mais variados produtos,
que importava da Europa, aos Ministérios e outros serviços públicos.
O contacto com os actores e desportivos famosos mas,
principalmente, com as jovens cativantes e oferecidas,
oleavam o contacto c om os importantes convidados que, mais tarde,
correspondiam a todas estas gentilezas, e a outras enviadas em
envelopes bem recheados, com as suas assinaturas de aprovação.
Foi neste ambiente, de luxo e ostentação,
que o jovem Sérgio Cassini cresceu,
habituado a deslocar-se até ao Colégio num Bentley
com motorista e guarda costas, o jovem Miltinho do Pagode,
robusto e entroncado campeão de capoeira,
preparado para dar a vida por aquele adolescente,
colocado à sua guarda.
Não que o dito rapaz deixasse a sua honra por mãos alheias,
porque era bom de briga e depois de ter partido a cabeça e o nariz
a três ou quatro colegas tinha sido eleito, sem opositores,
chefe do pedaço.
Só não fora expulso do colégio pelas avultadas verbas
com que o pai presenteava o Colégio anualmente,
merecendo mesmo ser nome da sala onde o Teatro,
a Dança ou os espectáculos de Poesia eram apresentados, regularmente.
Até que as coisas começaram a mudar.
Após a saída do Governo do general Figueiredo e a eleição, breve,
muito breve, de Tancredo Neves, seguiu-se o período
em que Fernado Henrique Cardoso segurou as rédeas do país
e outros interesses se instalaram.
Não que a corrupção tivesse acabado, mas os participantes
e canais de distribuição passaram a ser outros.
Aos poucos o velho Salvatore Cassini, octogenário com crises
de demência, viu os seus proventos e influência,
descerem vertiginosamente.
Quando se deu o inevitável, e a mansão da família foi vendida
em hasta pública, o patriarca da família não aguentou.
Uma manhã em que a neblina carioca cobria o areal
com uma poalha húmida, entrou mar adentro
na Praia de São Conrado, vindo a dar à costa dois dias depois.
O jovem Sérgio, recem entrado na Universidade Gama Filho,
tomou as rédeas dos negócios da família.
Vendeu alguns quadros e jóias que se tinham salvo, comprou
um modesto apartamento na Avenida de Copacabana
para onde transportou a mãe, senhora aristocrata, igualmente falida,
e as duas chorosas irmãs, em idade casamenteira, mas que viram
os noivos afastarem-se, com o desaparecimento da fortuna.
Sérgio Cassini jurou a si próprio,
nunca mais passar por uma situação semelhante.

2 comentários:

  1. E quando é que saimos dos preliminares?

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  2. Temos então a Mafia instalada no Brasil. São uns sedutores os rapazes...

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