Capítulo 1
Confesso que passava pelas brasas, quando o intercomunicador me despertou, de sopetão.
“ - Posso mandar entrar esta…senhora?” perguntava-me a minha secretária Deolinda Simões, com aquele tom agreste na voz que os elementos do sexo feminino usam para falar das outras mulheres que não têm peso a mais, varizes, peito flácido ou celulites variadas.
Chamar secretária à minha colaboradora Deolinda é algo que não tem nada a ver com a realidade.
Deolinda Simões, nada e criada no Massamá, é pau para toda a obra – telefonista, cobradora, arquivista, fotógrafa, investigadora, relações públicas e, até, confidente, quando o nível da garrafa de aguardente de medronho desce aos mínimos exigíveis e o sentimentalismo bacoco que, por vezes, me invade, atinge os seus valores máximos.
Nessas alturas, é a Deolinda, que mesmo correndo o risco de perder o último comboio para Massamá, onde divide a casa com a família numerosa, me escuta as mágoas de amor, financeiras ou profissionais que, na maioria dos casos, se atropelam, interligam e misturam, sem se perceber bem onde começam umas e acabam as outras.
É também ela quem faz uma limpeza ligeira, muitas vezes menos que ligeira, ao escritório, onde se amontoam pastas de arquivo de casos antigos, recortes de jornal, álbuns de banda desenhada ( a minha leitura preferida), embalagens de fast food dos restaurantes da zona, cassetes de filmes antigos, discos de vinyl, gadgets sem qualquer utilidade mas que não resisto a comprar, fotografias de ex-namoradas, postais de destinos exóticos, que sonho visitar um dia, mapas variados, enfim, uma diversidade de inutilidades, que eu persisto em guardar, sem saber bem porquê.
Mas vejo agora, que comecei a falar da Deolinda, e nem sequer me apresentei…
Chamo-me Teodorico Santana, embora todos me tratem e conheçam por Teo Santana. Sou detective particular, investigador de intimidades, especializado em adultérios e assuntos correlativos, e bota correlatividade nisso.
Sou bem apessoado, embora gostasse de ter mais uns centímetros a somar ao meu metro e setenta e cinco, cabelo encaracolado onde começam a aparecer, desde que ultrapassei a barreira dos quarenta, alguns ligeiros cabelos brancos, e tenho uma verdadeira fixação por aipo.
Por aipo, sim. Mastigo, diariamente, vários talos do dito cujo, talvez para substituir, já que não fumo, os cachimbos do Sherlock ou do Maigret, meus ídolos de sempre.
E o sempre, aqui, é mesmo real, porque, ainda miúdo de calção, já me entretinha a brincar aos detectives ao estilo do Poirot, que nunca apreciei, do Columbo, do Santo ou do Mickey Spillane, entre muitos outros.
Estava eu perdido nestas divagações quando a porta do meu estaminé, se abriu, sem ruído.
E, ELA entrou…
Confesso que passava pelas brasas, quando o intercomunicador me despertou, de sopetão.
“ - Posso mandar entrar esta…senhora?” perguntava-me a minha secretária Deolinda Simões, com aquele tom agreste na voz que os elementos do sexo feminino usam para falar das outras mulheres que não têm peso a mais, varizes, peito flácido ou celulites variadas.
Chamar secretária à minha colaboradora Deolinda é algo que não tem nada a ver com a realidade.
Deolinda Simões, nada e criada no Massamá, é pau para toda a obra – telefonista, cobradora, arquivista, fotógrafa, investigadora, relações públicas e, até, confidente, quando o nível da garrafa de aguardente de medronho desce aos mínimos exigíveis e o sentimentalismo bacoco que, por vezes, me invade, atinge os seus valores máximos.
Nessas alturas, é a Deolinda, que mesmo correndo o risco de perder o último comboio para Massamá, onde divide a casa com a família numerosa, me escuta as mágoas de amor, financeiras ou profissionais que, na maioria dos casos, se atropelam, interligam e misturam, sem se perceber bem onde começam umas e acabam as outras.
É também ela quem faz uma limpeza ligeira, muitas vezes menos que ligeira, ao escritório, onde se amontoam pastas de arquivo de casos antigos, recortes de jornal, álbuns de banda desenhada ( a minha leitura preferida), embalagens de fast food dos restaurantes da zona, cassetes de filmes antigos, discos de vinyl, gadgets sem qualquer utilidade mas que não resisto a comprar, fotografias de ex-namoradas, postais de destinos exóticos, que sonho visitar um dia, mapas variados, enfim, uma diversidade de inutilidades, que eu persisto em guardar, sem saber bem porquê.
Mas vejo agora, que comecei a falar da Deolinda, e nem sequer me apresentei…
Chamo-me Teodorico Santana, embora todos me tratem e conheçam por Teo Santana. Sou detective particular, investigador de intimidades, especializado em adultérios e assuntos correlativos, e bota correlatividade nisso.
Sou bem apessoado, embora gostasse de ter mais uns centímetros a somar ao meu metro e setenta e cinco, cabelo encaracolado onde começam a aparecer, desde que ultrapassei a barreira dos quarenta, alguns ligeiros cabelos brancos, e tenho uma verdadeira fixação por aipo.
Por aipo, sim. Mastigo, diariamente, vários talos do dito cujo, talvez para substituir, já que não fumo, os cachimbos do Sherlock ou do Maigret, meus ídolos de sempre.
E o sempre, aqui, é mesmo real, porque, ainda miúdo de calção, já me entretinha a brincar aos detectives ao estilo do Poirot, que nunca apreciei, do Columbo, do Santo ou do Mickey Spillane, entre muitos outros.
Estava eu perdido nestas divagações quando a porta do meu estaminé, se abriu, sem ruído.
E, ELA entrou…
(Continua no próximo número)
Já estou até a ouvir o saxofone em fundo,enquanto adivinho as pernas com meias de rede sob uma saia travada bem ao estilo anos 50 e ombros, chumaçados, a acompanhar.
ResponderExcluirCaracol na base do cabelo médio, acobreado, pousado sobre os ombros, boquilha por acender numa boca demasiado vermelha.
Segue-se o pedido de lume, antes mesmo das formais apresentações.
Ao levantar o queixo para o receber, ilumina-se-lhe o rosto... JESSICA RABBIT??
O conto (que já começou a mexer comigo) e o comentário da Moira de Trabalho sugerem-me que seria interessante lançar a construção de contos mistos - i.e. - alguém começa um conto e outros continuam. Certamente que teriam de ser estabelecidas regras de duração, número de palavras...! Pensem nisto!
ResponderExcluirJá vou ter leitura para os próximos tempos.
ResponderExcluirAcho a fantasia da Moira excelente, adequadíssima ao ambiente criado (confesso que tinha pensado na Lauren Baccall, mas talvez seja chique demais para o género). Só falta ver o Santana a transpirar de aflição, a afastar o último copo de bourbon e o cinzeiro cheio de beatas da mesa caótica. A pedir à Deolinda que os deixe a sós, o que esta faz com expressão de desdém...
ResponderExcluirMiss Sixty, excelente sugestão.
ResponderExcluirApelo ao Galo para que pense nessa ideia.
Agora, quanto ao Conto do Varela, a pulga aconchegou-se nas traseiras da minha orelha e de lá não desanda.
O estilo descritivo e imaginativo faz-me ou melhor, provoca-me uma desconfiança sobre o real escritor.
Ninguem mais me segue ?
Zé Manel...
ResponderExcluirSigo eu!
Este Jaime Varela não engana ninguém ou, pelo menos, alguns de nós, e também sinto a mesma pulguinha atrás da orelha...
E depois, uma pessoa afasta-se durante dez dias e, ao chegar aqui, encontra esta ave completamente renovada, com penas ainda mais exuberantes, a cantar novas canções, em novos estilos e trinados...
Onde é que a gente já viu isto???!!!
A ideia da Miss Sixty é aliciante, e quer-me bem parecer que, pelas amostras aqui em cima, até já está a ser posta em prática, e bem...
E, se calhar, até vai sair obra mais escorreita do que aqueles Mistérios de Sintra, inventados há anos por Alice Vieira, josé Fanha e Companhia...