segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Modelo de virtudes?

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Deolinda Simões relia, pela terceira vez, a notícia em que Nereide afirmava não ser Ronaldo grande ponta de lança na cama, quando o guarda vento que ligava as instalações de Teo Santana – Investigações Sigilosas ao escuro corredor onde se perfilavam um Cabeleireiro Afro, um Estúdio de Tattoo, um gabinete de Massagens, dirigido com sucesso por duas simpáticas brasileiras, que atraíam uma numerosa clientela masculina e, lá ao fundo, um mini mercado de comida macrobiótica, quando o guarda vento, dizíamos, se abriu, deixando entrar aquela que iria alterar a vida de todos, Deolinda incluída.
Com aquele sexto sentido que as mulheres accionam quando as pernas das concorrentes são longas e as saias curtas, o peito e o decote avantajados, e a cabeleira loura esvoaça em câmara lenta, Deolinda sentiu o sinal de alarme apitar.
Dali não vinha coisa boa…
Ainda pensou dizer que estavam fechados para férias ou balanço, enquanto deixava escorregar a Caras para o chão.
Ela conhecia bem Teo Santana.
Amigo do seu amigo, e muito mais das suas amigas, honesto q.b. mas sem exageros, inteligente na maior parte das vezes, mas um mulherengo incorrigível que deitava tudo a perder perante um rabo de saia e, ainda mais, quando a saia servia mais para mostrar do que para ocultar, o que quer que fosse.
Deolinda, agora com quase vinte e cinco anos, trabalhava com Teo desde que aos dezanove anos interrompera o estudos.
Conhecia bem a figura, as suas paixões eternas de quinze dias, as ressacas quando as coisas não corriam a contento, as declarações de que agora é que era, os seus entusiasmos juvenis, o brilho nos olhos, a imbecilidade na expressão, quando olhava a próxima vítima, deusa, musa, o que lhes quisermos chamar.
Todos estes pensamentos se desenrolaram na mente de Deolinda, enquanto a outra atravessava o cubículo de dimensões reduzidas, como se percorresse uma passerelle.
Era isso, era certamente modelo. A altura, o cabelo, a segurança no olhar, o pisar, as roupas…Deolinda recordou automaticamente os seus muitos anos de leitora assídua das VIP , Caras, da Nova Gente
Dezenas de rostos e corpos passaram-lhe pela mente.
Cláudia Vieira, Sofia Aparício, Diana Chaves, Fiona, Marisa, Isabel Figueira…Gabriela Torres, bingo.
Era mesmo a Gabriela Torres, que abandonara o mundo da moda, alguns anos atrás, para casar com um ricalhaço qualquer, que estava mesmo à sua frente presenteando-a com um sorriso radioso.
Mais madura, mas ainda mais atraente, tinha que reconhecer, mesmo contrariada.
“- Sim…? ”perguntou num misto de excitação e receio.
“- Boa tarde, preciso de falar com o Teo “ a voz correspondia à embalagem.
E acrescentou, distante”- Sou a Gabriela Torres “
Foi então que Deolinda ligou pelo intercomunicador.
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3 comentários:

  1. E...? E...?
    Vamu lá! 'Tou em pulgas!

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  2. Isto está a começar a ficar parecido com o "Body Heat", versão lusa?

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  3. E isso é mau?

    Já repararam que a voz da Jessica Rabbit, de que a Moira falava no outro dia, e a actriz do Body Heat, de que a Quimera fala hoje, são uma única - a Kathleen Turner?

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