1º Aniversário

Verdade se diga, eu e as máquinas não temos uma relação
muito harmoniosa.
Com excepção das fotográficas, com quem tive affaires múltiplos
e variados, em vários países e continentes.
Embora, como acontece muitas vezes na vida real,
duas me tenham sido roubadas.
Depois comecei a gostar delas mais jovens e maneirinhas,
e passei a metê-las no bolso, o que me tem evitado muitos aborrecimentos.

Mas com as outras máquinas sou uma autêntica desgraça.
Do rei das máquinas – o Automóvel - é melhor nem falar…
Tirei a carta à terceira tentativa, e guiei, apenas, durante meses.

O mesmo com os sistemas de som, as televisões, as torradeiras,
as varinhas mágicas, os micro ondas, os ares condicionados…e, claro está, o computador.
Fui muito reticente ao uso do mesmo, até ter aprendido o significado de meia dúzia das teclas ( talvez menos), e depois,
a custo, lá fui trabalhando com o dito cujo,
que é mais temperamental que a Callas, nos bons velhos tempos,
ou o Major Valentim, nos dias que correm.
E um dia, a maquineta resolveu deixar de trabalhar.

Chamado que foi o engenheiro informático, este olhou circunspecto
para o aparelho e disse-me, com voz grave:
“-Temos que o deixar a correr, durante umas três horas”.
Os informáticos só utilizam a palavra ”correr” quando as coisas vão
demorar muito, por isso preparei-me para uma tarde tranquila.
Mas o Pedro, com quem sempre troquei opiniões sobre viagens,
filmes e livros , cortou-me cedo essa esperança.
“- Porque é que não faz um blog? Com todos os seus temas
de interesse, podia ficar uma coisa gira…”
E, perante o meu silêncio, estupefacto”…se quiser podemos
aproveitar o tempo em que o computador está a “correr”
para o registarmos!”.
Foi assim, que numa tarde de Setembro, em tudo igual às outras,
nasceu O Galo de Barcelos ao Poder.

O nome mostrava já as tendências do petiz – irreverência,
raízes pop, de popular, boa disposição e uma certa anarquia.
De início, para além de dois ou três amigos, escrevia para
mim próprio, já que os leitores não existiam.
E depois, a bola de neve foi trazendo cada vez mais visitantes
e, muito importante, comentadores e colaboradores de primeira água.

O blog deixou de ser uma prática solitária
(esta frase não me saiu bem) e passou a ser uma orgia colectiva
(esta ainda me saiu pior. Haverá orgias solitárias?).
E é essa orgia, de sentimentos, sensibilidades várias, culturas
e piadolas, livros de referência á mistura com pernas de starlettes,
mestres da pintura e pintores de tabuletas, óperas e operários,
pratos do dia e tiro ao prato, viagens ao exterior e ao interior
de nós próprios, que hoje comemora o seu 1º Aniversário.

A todos os que colaboraram para que, este primeiro ano,
tivesse toda a diversidade e riqueza que, na maior parte das vezes,
conseguiu alcançar, o meu mais profundo obrigado.
E, também, o do “Galo”, claro!!!

João Viegas

Nota do "Galo":
A sensacional ilustração lá de cima,é da autoria da designer Sofia Silveira
e foi a sua prenda de anos, aqui para o blog.