sábado, 28 de novembro de 2009

Escândalos: vantagens e vantagens ainda maiores - Ricardo Araújo Pereira

Estar envolvido num escândalo é grave;
estar metido em vários
é uma garantia de segurança

Há mais de dez minutos que não vem a público um escândalo envolvendo o nome de José Sócrates.
Que se passa com este país?
O escândalo Face Oculta perdeu o encanto inicial, o escândalo Freeport deixou de produzir notícias, o escândalo das escutas ao Presidente da República esmoreceu, o escândalo da Universidade Independente parece estar parado, o escândalo das casas projectadas na Guarda prometeu mais do que cumpriu, e confesso já ter esquecido o que estava em causa no escândalo Cova da Beira.
Julgo falar em nome de todos quando digo que precisamos urgentemente de um novo escândalo.

José Sócrates, certamente, não se importa: o primeiro-ministro parece ter tomado uma vacina contra os escândalos.
Não há suspeita de indecência escabrosa à qual ele seja vulnerável. Políticos menos resistentes já foram obrigados a demitir-se por causa de anedotas, de sisas que afinal tinham pago, de corninhos.
O primeiro-ministro transita de escândalo em escândalo como Tarzan de liana em liana.
Nenhum homem é uma ilha, diz o poeta, mas José Sócrates é um homem rodeado de escândalos por todos os lados.
Não há escândalo que consiga verdadeiramente furar a barreira de escândalos que o rodeia.
Aparece um escândalo novo e a opinião pública boceja: já vimos melhor. Surge uma suspeita inédita e o País encolhe os ombros: podia ser mais escandalosa.

Estar envolvido num escândalo é grave; estar metido em vários é uma garantia de segurança.
O povo conhece José Sócrates há já algum tempo e sabe que ele pode estar envolvido num escândalo, mas duvida que ele tenha a iniciativa, o desembaraço e a capacidade de trabalho para estar envolvido em tantos.
O problema da oposição é, justamente, de abundância: encontra-se perante os escândalos como o burro de Buridan em frente ao feno.
De todos os paradoxos filosóficos em que comparecem asnos, este é o meu preferido: o burro faminto tem diante de si dois montes de feno exactamente iguais.
Não havendo uma razão para optar por um em vez de outro, é incapaz de escolher e morre de fome.
No caso de Sócrates, os escândalos são os montes de feno e a oposição é o burro (há acasos felizes na vida de quem se entretém a compor símiles).
A única diferença é que o burro morre sossegado, enquanto os dirigentes dos partidos da oposição definham aniquilando-se mutuamente.

Mas ninguém espera que os militantes do PSD tenham o discernimento de um burro.

Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno (Visão)

3 comentários:

  1. Pah, RAP, despistaste-te.
    :-)

    Há um escândalozeco no Príncipe Real, mete árvores e tudo, há amigos meus "alugados" ao pseudo assunto, e toda a conversa em torno da coisa não vale um burro a morrer sossegado...

    :-((

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  2. Ah, e o poeta que citaste dir-te ia provávelmente que fosses 'catch a falling star'...

    :-)

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  3. Li, ontem, na Visão e hoje com prazer redobrado no Galo.

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