quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Galo ganha Asas


44

Marcos Tupinambá estivera em desacordo com a ideia de Deo, desde o primeiro minuto.
Mal lera no papel” Vista Chinesa.7 horas”, ainda junto à porta do Copacabana Palace, sentira que aquela estória iria acabar mal.
A explicação da moça, por quem se sentia cada vez mais atraído, não o ajudara a ficar mais descansado.
Uma ténue suspeita, sem nomes nem factos a alicerçarem-na, um misterioso encontro, num local muito difícil de vigiar…

Mas a patrícia era teimosa, havia que reconhecê-lo, e valente, não hesitando em dizer-lhe que com, ou sem, a sua aprovação ela iria estar a tempo e horas no local do encontro, mesmo que para tal fosse necessário pegar um táxi.
Perante essa decisão, e porque já percebera ser-lhe muito complicado negar algum pedido que viesse daquele lado, Marcos limitou-se a gerir a crise e tentar diminuir os seus efeitos que poderiam vir a ser, como se comprovou, devastadores.
O microfone, que a convencera a deixar-lhe prender no peito, fizera-o entrever uns seios morenos com toque aveludado, o que não contribuíra em nada para a necessária frieza de raciocínio e manutenção do seu nível, geralmente alto, de profissionalismo.

Depois de deixar a jovem na Vista Chinesa, Tupinambá escondera a viatura num trilho estreito, longe da vista de eventuais curiosos.
As árvores frondosas eram a camuflagem perfeita e dispôs-se a esperar.
Habituado a muitas horas de vigília, perseguindo suspeitos, tinha trazido um termos com café, um sanduíche de bauru e um gibi com as últimas tiras da Rêbordosa.
Instalou-se confortável, deu duas dentadas na sandes e engoliu um gole de café.
Praparava-se para iniciar a leitura dos quadrinhos do Angeli, quando escutou no transmissor a voz de Deo.
“1,2,3, experiência…1,2…”
Sorriu, para consigo mesmo, mas essa alegria foi sol de pouca dura.
Logo de seguida, ouviu-se o som de um forte embate e o inconfundível grito de um corpo em queda.
E, depois o silêncio…

Sem saber bem como, Marcos percorreu as poucas centenas de metros que o separavam da Vista Chinesa.
Uma coisa era certa, embora de momento isso não lhe servisse de consolação.
O assassino não poderia escapar.
O trilho que acabara de percorrer, era o único acesso para chegar lá ao topo.
A outra possibilidade …era pelo ar.

Quando chegou à Vista Chinesa esta estava vazia.
Nem Deo, nem sombras do assassino…
Depois, ouvindo ao longe um ruído, olhou o céu sem nuvens.
Lá à frente, mergulhando em direcção a São Conrado, um asa delta de forte colorido, afastava-se numa planagem perfeita.

O assassino fugira pelos céus da Guanabara…

5 comentários:

  1. Baralhei. Digam-me que não foi a Deo que se foi! aliás, não houve sonal deixado... O que se passou?

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  2. E eu só quero saber onde diabo é a Vista Chinesa, passei-lhe completamente ao lado...

    (portanto nunca teria encontrado Deo, Cassini, o bósnio e o inspector Tupinambá ... )

    Parabéns pelo nº 44 J.V., a coisa num arrefenta não...

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  3. Penso que a Quimera terá perdido o "capítulo" anterior, vai ter que voltar atrás.
    Isto aqui não é como as novelas, em que se estiver uma semana sem seguir o enredo, não perde nada...
    Esta do assassino fugir em asa delta foi o máximo, nem o 007!!!

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  4. A Vista Chinesa é um miradouro da Floresta da Tijuca ( e, em simultâneo, da parte superior do Jardim Botânico) que, juntamente com a Mesa do Imperador e a Cascatinha, forma a trilogia de pontos mais visitados da zona.

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  5. Raios me partam, eu morava na Gavea a poucos metros daquela enorme cervejaria chamada Sagres, e ia comer a uma tasquinha ali proximo, onde tambem ia o pessoal da Globo.
    O Jardim Botanico era logo ao lado, palmeiras imperiais enormes na parte de baixo.... falhei completamente a Vista Chinesa, thanks J.V.

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