quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Teo enche a cara e pega um porre

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A notícia da morte de Deolinda Simões foi abertura do Jornal Nacional.
Não por se tratar de um assassinato.
No Rio ocorrem dezenas de crimes violentos por dia e, por isso, já não são novidade, a não ser quando a vítima, o assassino ou o método utilizado saem da vulgaridade.
Era o caso.
Uma detective portuguesa, mulata e bonita, um serial killer perseguido pela polícia de vários países e um empurrão de um dos pontos turísticos da cidade.
Uma pessoa cair, melhor dizendo, ser projectada lá do alto, voar dezenas de metros em queda livre e parar, bem lá em baixo, completamente desmembrada, é insólito até mesmo no Rio, onde o mais insólito se torna, rapidamente, corriqueiro.
Uma verdadeira tripla.

Teo tinha sabido da triste notícia algum tempo antes,
graças a um telefonema de Marcos Tupinambá.
Quando mostrou vontade de se dirigir à morgue, necrotério segundo o policial brasileiro, este afirmou peremptório que o cadáver de Deo não era a coisa mais linda de se ver, que seria melhor guardar da ajudante a imagem da moça bonita, sorridente e prestável que ela era até algumas horas antes.
Teodorico Santana acedeu, contrafeito, mas reconheceu que o brasileiro tinha razão.
Não queria guardar ad eternum, a recordação de um monte de membros destorcidos ou de uma cabeça partida em bocados…

Subiu até ao bar do hotel , no topo do edifício, com uma varanda de onde se avistavam as praias desde o Leme até ao Arpoador.
A altura a que se encontrava, reforçou-lhe a angústia de imaginar a sua velha, ou melhor dizendo, nova, amiga, cúmplice de tantas horas, ombro para tantas dores de corno, a cair desamparada no abismo.

Os três primeiros whiskies bebeu-os de um só trago.
Depois perdeu-lhes a conta e começou a ver tudo enevoado.
A viagem que, de início, lhe parecia vir a trazer grandes proveitos, financeiros, amorosos e profissionais, estava a revelar-se um autêntico fracasso.
Depois do adiantamento inicial, ocorrido ainda em Lisboa, nunca mais recebera um euro, nem sequer um real, e as despesas tinham disparado em flecha.
A nível amoroso, após o clímax ocorrido , na véspera, no motel, Gabriela Torres mal lhe digira palavra e sempre que o fizera fora, apenas, para o manter no seu lugar.
Por fim, a nível profissional, o caso estava a revelar-se um fracasso, ainda maior.
Os assassínios continuavam a suceder-se e pistas, nada…
O perfil dos homens do grupo da Gabriela fazia, de todos eles, excelentes suspeitos, mas isso não era o suficiente.

E, agora, a morte da compatriota tinha sido a machadada final…
Teo sentia-se entontecido, sem grande discernimento, mas uma ideia começou a formar-se, ganhou consistência e veio rebentar à superfície, por entre os vapores etílicos.

Tinha que vingar a morte de Deolinda.
...Tinha que deitar a mão ao autor d’”Os Crimes do Galo”

4 comentários:

  1. Estou inconsolável. A Deo foi-se mesmo. Acho que anda aí mão de gaja...Gabriela? ponha-me o Teo a tratar do assunto.Please...

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  2. " O perfil dos homens do grupo...faziam de todos eles, excelentes suspeitos"! Onde é que eu já li isto?????

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  3. Genial, com ou sem Deo...

    ...(...) é insólito até mesmo no Rio, onde o mais insólito se torna, rapidamente, corriqueiro ... (...)

    Fantástico, J.V. !!

    P.S.
    O Leme era a minha praia no Rio, muito melhor que a Barra...

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  4. Ah e em relação com o títulinho...

    No meu tempo, encher a cara e pegar um porre significavam uma e a mesma coisa...

    Redundância J.V. ?
    Ou Teo está completamente pôdre ??

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