sexta-feira, 26 de março de 2010

"Há só uma Terra!" ou a teoria da borboleta! - Fernando Pinto

Já aqui disse e repeti que a crise só será ultrapassada quando nós, todos nós, mudarmos de hábitos, de tipo e de ideal de vida.
Se não o exprimi com estas palavras, foi com outras que queriam dizer exactamente o mesmo. Tudo isso implica responsabilizar não só o Governo, como parece ser tão do nosso agrado, mas responsabilizar todos e cada um de nós, Governo incluído.
O que quer ainda dizer que não é só o Governo que tem de mudar; nós também.
E as mudanças podem e devem ser grandes, mas também podem ser pequenas porque, não nos iludamos, é o nosso estilo de vida, incluindo o sistema de gestão e utilização de recursos, que é insustentável.

“Há só uma Terra!” é uma frase em que, de tão repetida, deixámos de pensar.
Repetimo-la como se fosse uma evidência (que é), que outros (e não nós) ainda não tivessem compreendido, mas a verdade é que nós já nos esquecemos do seu verdadeiro conteúdo: tornou-se uma frase feita.
E a realidade é precisamente essa: há mesmo só um planeta Terra e é ele que tem de dar para todos.
Compete-nos a nós trabalhar nesse sentido e com essa consciência, alterando o que houver que alterar.
É impossível que todos possamos ser “Carlos Slim”, o mexicano que é, este ano, o homem mais rico do planeta Terra, mas tal não significa que todos tenhamos de morrer à fome, de ser escravizados ou de ter uma existência abjecta, como têm milhões de seres humanos um pouco por todo o planeta Terra.
Será algures no meio, que deverá estar a virtude.
Há que gerir recursos em nome do planeta, de todos nós e de todos os seres vivos (animais e plantas) que a ele têm tanto direito quanto nós.
Nascemos neste e planeta e dele somos um produto, tanto quanto um embondeiro de África ou um pinguim da Antárctida.
Antes do aparecimento da Humanidade já o Planeta Terra existia e seguramente depois do seu desaparecimento, continuará a existir.
Compete-nos a nós tornar a nossa existência o mais agradável e harmoniosa possível, mas isso não pode ser feito hipotecando o futuro dos habitantes da Terra, dos filhos dos nossos filhos ou, a continuarmos nesta espiral frenética, já dos nossos filhos.
Tornemos a nossa existência no Planeta Terra uma verdade tão duradoura e equilibrada quanto possível.
“Pois”, parece-me que estou a ouvir dizer “isso é tudo muito bonito, mas como?”
Imaginemos, por exemplo, que os horários das lojas, das fábricas, dos departamentos de Estado, das câmaras, se desfasavam.
Não precisava ser um grande desfasamento.
Bastava que os horários de entrada fossem, por exemplo, entre as 8 e as 10 da manhã, com os consequentes desfasamentos da saída do almoço e da tarde. Seria a grande confusão? Parece-me que não.
Era tudo uma questão de se saber a que horas funcionavam uns e outros e ter horários de sobreposição para que pudessem comunicar.
Que se ganhava com isso? Provavelmente, menores engarrafamentos em estradas e ruas, e maiores desdobramentos em autocarros, metros, comboios, eléctricos, trolleys, etc.
De alguma forma, racionalizava-se a utilização dos transportes facilitando a circulação de pessoas, e deixava de ser tão premente a utilização de carros privados.

Desconcentrando a utilização de transportes públicos pela sua dispersão no tempo, abria-se a possibilidade da redução do número de veículos, que assim também circulariam melhor e portanto com menores consumos.
Passaríamos ainda a ter “picos” de consumo de energia menores porque mais alargados no tempo, o que implicaria uma melhor rentabilização da rede eléctrica, cuja ampliação ou reforço passaria a ser menos premente.
Utilizando a imaginação e a teoria do caos (aquela do bater das asas da borboleta num lado do Mundo), poder-se-á chegar a hipóteses fantásticas. Imaginemos também que o preço dos produtos variava com a sua distância desde o local de produção até ao local de venda ou consumo, assim como se existisse um “imposto de poluição de transporte”.
Tal implicaria que se transformaria num luxo consumir alho chinês (coisa muito mais frequente que o que você pensa) e que as produções hortícolas nacionais seriam muito mais frequentes nos nossos supermercados.
Quem ganharia? Todos! A agricultura nacional (de qualquer país) passaria a ser mais forte e menos vulnerável às produções agrícolas externas, ajudando ainda à diminuição do desemprego; o terreno agrícola seria revalorizado; a construção tenderia a ocupar os terrenos menos produtivos, equilibrando o mercado.

Cada tema em que se pega é um mundo de falta de senso e portanto de possibilidades de se poderem optimizar as actuais formas de utilização desses mesmos meios e de se equacionem novas formas de vida mais amigas do ambiente e do Homem.
Só como ironia e provocação, lembremo-nos que, em muitas cidades, as pessoas correm para os ginásios, stressadas e velozes nos seus carros poluentes, que estacionam em parques sobrelotados (que logo depois se esvaziam por períodos mais longos que os de utilização), para praticar corrida em passadeiras rolantes eléctricas…
Então uma corridinha num parque urbano, entre árvores e arbustos, não seria muito mais retemperadora e ecológica?
Isto para já não falar da diferença de custo de cada uma das actividades.

O disparate é livre, tal como a imaginação: imagine você também como pode optimizar os seus actos mais gastadores e inimigos do ambiente, porque a imaginação tem asas.

Fernando Pinto

2 comentários:

  1. Já se fala disto desde pelo menos 1972 ou mesmo antes, mas ninguém liga...

    O meu trabalho de Economia II foi sobre isso, nos idos de setenta...

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  2. Still riding my bike, every single day... : )

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