quarta-feira, 24 de março de 2010

LV - De volta a Penates

Aproveitei o voo para Lisboa para tentar organizar os meus pensamentos.

Tantas pistas, tantas mortes violentas, tantas situações que pareciam indicar uma realidade mas que no final, como que por artes de magia, indiciavam precisamente o contrário, estavam a deixar-me confuso.

E depois a forte pancada que, poucas horas atrás, me atingira com estrondo não ajudava mesmo nada a concentração de que, no momento, tanto precisava.

Mas recuemos até ao momento da descoberta do cadáver da pobre Vanessa.

A partir desse momento, senti da parte do Comendador Salcedas uma premência em pôr-me a andar dali para fora.
Chamou-me à parte e sentamo-nos em dois cadeirões de couro envelhecido num recanto do seu escritório mobilado com pesados móveis de mogno rodeados por óleos de pintores de renome.
Com palavras breves, o que era estranho nele, elogiou-me o trabalho, obrigou-me a receber um chorudo cheque como compensação pelos danos físicos e morais sofridos e chamou o motorista com ordens a que me levasse até ao Porto, ao Aeroporto Sá Carneiro, onde um bilhete de avião estaria à minha espera.

Às minhas tentativas de tentar perceber o que se passara, onde estariam a governante e a minha amiga Cristina, sentia que já a podia chamar assim, respondeu com um lacónico “ Elas hão-de aparecer…”

Quando entrei para o carro que me levaria de volta à capital nortenha, reparei que o automóvel da ‘Foxy Lady’ não se encontrava estacionado no local onde esta o deixara. Significaria isso que ela o tinha utilizado numa fuga precipitada ou que alguém o levara dali para fora ?
E se Vanessa fora assassinada, quem roubara da garagem o carro de colecção do Salcedas?

Foram essas e muitas outras perguntas que ocuparam a minha cabeça durante a curta viagem aérea que me fez regressar à minha cidade de origem.
Nem a forte turbulência que se fez sentir à chegada, me conseguiu distrair daquela saga de violência e incongruências em que me vira envolvido.

Não me senti com coragem e ânimo para ir para casa sózinho.
Dei a morada da Flor do Bairro onde fiz uma entrada triunfal saudada com exclamações de alegria por parte de quase todos os presentes.
Depois de tudo o que me acontecera, era bom ver caras conhecidas, sentir o cheiro habitual à carne assada da Dona Rosa e, até, ouvir as graçolas sempre repetitivas do meu amigo Cabeleira:
“É pá, vens cá com umas olheiras! Isso é que foi trabalhar no turno da noite…”

E a Dona Rosa, pressurosa “ Doutor Nuno, posso trazer um Caldinho Verde? É acabado de fazer…” Inclinando-se para passar um pano pelo tampo da mesa, murmurou-me ao ouvido “ …a Rosinha tem andado muito preocupada consigo!”

Um comentário:

  1. O desaparecimento da Cristina está a preocupar-me. E essa Rosinha o que vai querer?

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