Vivemos tempos tristes e confusos.
A qualidade e a produtividade dos operários e outros trabalhadores portugueses sempre foram internacionalmente reconhecidas e enaltecidas.
A qualidade do trabalho produzido nos inúmeros países para onde os portugueses emigravam sempre manteve abertas as portas a novas vagas de emigrantes portugueses.
Não era sem algum orgulho que, nas férias de verão, eram acolhidos “franceses”, “americanos”, “brasileiros”, “angolanos” e “venezuelanos” de torna viagem, para só citar alguns, ostentando o sucesso que por lá tinham conquistado e que o torrão natal lhes negara.
Não se desmentirá o duvidoso gosto que muitas das casas por eles construídas testemunhavam, mas também não se pode desmentir a vontade de mostrar, no país de origem, aquilo de que eram capazes.
Os que cá ficaram dificilmente tinham possibilidades de ombrear com os “estrangeirados”: parecia que, não obstante o seu esforço, o trabalho por cá não rendia.
Nunca ouvi dizer a nenhum emigrante que em Portugal se trabalhava menos que nos outros países, mas sim que se trabalhava pior.
Internamente, nunca a produtividade foi nessa altura um problema que se levantasse, vá-se lá saber porquê…
Talvez porque aumentar a produtividade implicaria novas e melhores ajudas, em máquinas e organização, aos operários ou seja, investimento; no dizer de então, “gastar dinheiro”. Provavelmente por isso a produtividade não era um problema que se colocasse: os salários eram muito baixos e o lucro sobre o produto final compensava sempre.
E assim se ia vivendo. Depois, coincidindo com o 25 de Abril, veio o fim das grandes correntes emigratórias.
Alguns ficaram por lá (onde quer que esse “lá” fosse) porque já tinham lançado à nova terra filhos e raízes, outros voltaram transplantando indemnizações ou reformas mais generosas que as que por cá se viam (quando se viam…).
E o país recomeçou o desenvolvimento de que tinha sido arredado por 48 anos de obscurantismo e tacanhez, acabados em 13 anos de uma guerra que significou sangria de força, de inteligência e de recursos.
Portugal arriscou finalmente a democracia e o parlamentarismo verdadeiro e dotou-se de condições mínimas para reentrar no “concerto das nações”.
Cidades, vilas e aldeias iluminaram-se com a electricidade levada até onde ela antes não existia, a água foi canalizada até quem tinha sede e os telefones e a televisão ligaram ao Mundo quem antes dele estava isolado.
Portugal passou a ser um país mais moderno, solidário e sorridente, menos antiquado, solitário e macambúzio. Era a revolução.
Novas indústrias e novas tecnologias foram introduzidas por novas empresas estrangeiras, novos métodos de trabalho foram testados pela internacionalização do país e do capital.
Portugal entrou na competição pela incorporação de trabalho nacional em produtos de empresas multinacionais e para cá vieram muitas fábricas que o passaram a utilizar. Competitivamente. Nunca essas empresas se queixaram de falta de produtividade, nunca nenhuma deixou o país por falta de competitividade do trabalho nacional.
Hoje, vemo-nos a braços com “faltas de produtividade” e outros chavões que desmoralizam qualquer cristão e que nos prenunciam tempos ainda mais difíceis e penosos.
Quem então não promove a produtividade? Quem então não proporciona meios para que se atinja a competitividade pretendida? Que meios são necessários para se obter a produtividade de outros países?
Não creio que se possam culpar os trabalhadores que, desde sempre, se esforçaram por merecer o dinheiro que recebem.
Acho que deveremos procurar outras causas. A falta de motivação parece ser um dos grandes factores de desalento, tal como a falta de perspectivas de futuro.
Nas empresas, os métodos de organização do trabalho são por vezes empíricos e obsoletos.
Tal como a maquinaria utilizada.
Na verdade, a capacidade de produção do Mundo ultrapassa, numa parte substancial, a capacidade de consumo deste mesmo Mundo.
O resultado é que os produtos nem sempre encontram escoamento e, para se tornarem vendáveis, têm de ser concorrenciais e das duas, uma: ou têm características particulares, ou têm de ser mais baratos.
Por cá, apostou-se no que era mais efémero ou seja, no fazer mais barato á custa dos salários pagos e da falta de investimento em equipamento mais eficaz.
A entrada da China no Mundo do comércio anulou estas vantagens de “produtividade” e hoje só se safam os produtos que têm características particulares, porque contra eles não há concorrência.
É por isso que só os produtos que são únicos ou que têm imaginação incorporada singram na exportação.
Veja-se o Vinho do Porto ou alguns produtos ligados à computação e aos telefones celulares, por exemplo.
Mas para isso têm os patrões, os designers, numa palavra, quem exerce a “massa cinzenta”, que puxar por ela e integrá-la nos produtos a exportar, tornando-os únicos e/ou mais eficazes que os outros.
Não acredito que o fascismo, serôdio e letárgico, tenha anulado as capacidades de inovação e inventividade que os portugueses demonstraram ao longo dos séculos e em particular nas Descobertas: desde sempre que o mar estava aí para todos mas foram os portugueses que, arriscando, inovaram e deram “novos mundos ao Mundo”.
Ouvindo muitos, é certo (a célebre “Escola de Sagres, cheia de árabes, judeus, mouros e cristãos), mas decidindo pela sua própria cabeça, os portugueses estavam na frente.
Sabe-se que as Descobertas exigiram criatividade, inovação, capacidade de risco e coragem. Tudo coisas que os portugueses têm e sabem utilizar, assim o queiram os donos do dinheiro.
Mas isso exige esforço e demora algum tempo: exactamente o tempo que Portugal demorará a sair da crise.
Fernando Pinto
sexta-feira, 12 de março de 2010
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Isto é um país de sol, portanto o pessoal diverte-se, solta-se, encosta-se ao Estado, e claro tenta fazer o menos possível.
ResponderExcluirHá é claro o pequeno pormenor que por aqui os capitalistas não valem a ponta de um chavelho... mas isso é apenas um 'por menor'.
:-(