terça-feira, 9 de março de 2010

XLIV - Catavento on the Rocks

A travessia do Douro, a bordo da potente lancha, fez-se em breves minutos.

O tempo suficiente para o Ti Jaquim enaltecer as características da embarcação que, segundo ele, era uma autêntica bomba com motor Volvo.
Uma Colunna 32.5, Sport Cruiser como me informou igualmente, enquanto guiava com desenvoltura, na direcção do pequeno porto que se situava na margem oposta.

Estranha personagem este Ti Jaquim…
No primeiro contacto que tivera com ele na véspera, aquando da nossa chegada à Herdade, ficara com a ideia, que agora via ser errada, que se tratava de um ancião meio rústico e de poucas palavras.
Apercebi-me, contudo, de que a sua idade real deveria rondar os cinquenta e picos anos, que se encontrava numa excelente forma física e que o discurso, em que imperava o forte sotaque nortenho, era articulado e demonstrava inteligência e conhecimentos.

Quando atracámos, embora ele desse mostras de vontade em acompanhar-nos, dissemos-lhe que permanecesse no barco, onde deixámos, igualmente, a atafulhada cesta de pic nic e todas as ferramentas, com excepção de um par de binóculos e de uma pá, que pus ao ombro, enquanto nos dirigíamos para os três carvalhos, distantes do cais uns duzentos metros.
“Se precisarmos de alguma coisa chamamo-lo,…Ti Jaquim!”
O ter visto a musculatura poderosa do caseiro em acção na condução do barco, e a tatuagem com ‘Guiné 72’, levou-me a pensar estar a falar com um antigo veterano da Guerra Colonial, o que já não encaixava na ideia habitual dos Tis Jaquins desta vida…

Como viria a saber, algumas horas depois, acertei em cheio neste meu raciocínio.
Oriundo de uma família modesta, da região onde nos encontrávamos, Joaquim Rega, assim se chamava o homem, oferecera-se, muito jovem, como voluntário para o Exército, forma de fugir à fome que grassava por aquelas terras, nessa época.
Aguerrido e corajoso fora parar às Operações Especiais e, depois de uma exigente recruta e especialidade, viajara para a Guiné, o cenário mais violento das várias frentes de Guerra Colonial que Portugal enfrentava no início dos anos 70.
Quatro anos passados no mato, tornaram-no um especialista em guerrilha e deram-lhe um amadurecimento que não o deixou voltar à terra natal, aquando da independência da ex-colónia.
Viajara, então, para a África do Sul, onde começara a trabalhar com o, então, jovem Comendador Salcedas como Chefe de Segurança do pequeno exército que este tinha para proteger as suas minas ao redor de Johanesburg.
E, desde aí, acompanhara o Comendador, nas suas diversas actividades, acabando por voltar à sua terra de origem…

A distância que nos separava das árvores foi percorrida rapidamente.
A enorme mansão da Herdade, do outro lado do rio, parecia agora uma casa de bonecas.
Com a ajuda dos binóculos, apercebi-me que Vanessa continuava no terraço da mesma e que a Dona Gertrudes se lhe tinha juntado.
Pareciam estar em desacordo, gesticulando como numa acesa discussão.
Teria alguma coisa a ver com a visita nocturna que Vanessa me fizera?
E essa iniciativa partira da rapariga ou fora-lhe imposta pelo Comendador?

Como se ia tornando habitual, Cristina ‘Foxy Lady’ despertou-me dos meus pensamentos…

“O Nuno já viu o que temos aqui?”

Olhei. No centro da pequena clareira formada pelos três carvalhos erguia-se uma rocha com uma forma estranha, no cimo da qual um cata-vento de ar envelhecido, indicava a direcção do vento

Rock and the Wind. Rocha e Vento.
Duas das outras pistas…

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