quarta-feira, 10 de março de 2010

XLV - Isto já são pistas a mais

Não estava à espera que a descoberta do local fosse tão fácil e imediata.

Imaginara-me a cavar durante horas, até a pá bater em qualquer coisa metálica que depois se viria a verificar ser uma arca, carregada de jóias e lingotes de ouro…

Sem sombra de dúvida que lera demasiados livros de aventuras na minha, cada vez mais afastada juventude e mesmo, mais recentemente, os Indiana Jones e similares, tinham ajudado a criar estereótipos que subiam agora à superfície. Olhei para cima.

A rocha com o formato de menir erguia-se a uns três metros de altura e no topo estava cravado um galo em ferro, que girava num eixo central, de onde saíam quatro braços, cada um dos quais indicando um ponto cardeal.

“ E como é que vamos chegar lá a cima?” a pergunta foi feita pela Cristina, mas poderia ter sido feita por mim, que pensava, nesse momento, exactamente o mesmo. Durante alguns minutos, procurámos em redor tentando encontrar pedras ou algo semelhante que pudéssemos utilizar na escalada, mas sem sucesso…Acabei por desistir e optar por outra solução.

“ No barco deve haver alguma escada ou escadote…” avancei eu, num tiro no escuro” vou até lá e estarei de volta em menos de 10 minutos…”

A resposta da Cristina foi sacar de novo cigarro e encostar-se na rocha, de olhos perdidos no infinito. Considerei que aquela expressão corporal significava o seu acordo à minha proposta e, assim, deixei-a sozinha e dirigi-me com passada enérgica até ao cais.

O barco mantinha-se no mesmo local mas do ‘Ti Jaquim’ nem traço…Possivelmente, aproveitara para dar um giro. Não me preocupei, demasiado.

Também a busca da eventual escada resultou em nada. Sentindo-me, de certa forma, frustrado, regressei para junto da minha companheira de ‘caça ao tesouro’ que me olhou de alto a baixo.

“ Quanto é que o Nuno mede?”

O insólito da pergunta fez-me sorrir ”Porquê? Vai oferecer-me um sobretudo?” A expressão da minha interlocutora alterou-me, de imediato, o registo jocoso ” Cerca de um metro e oitenta e cinco. Porquê?”

“ Retirando o tamanho da sua cabeça e somando o meu metro e sessenta, deve dar…” e perante a minha passividade” …baixe-se um pouco para eu poder subir para os seus ombros…”

Pode ser fixação minha. Talvez seja eu quem tenha os níveis de testerona desregulados, mas penso que a forma como Cristina se roçou por mim para alcançar os meus ombros, o modo como passou as pernas pela minha cara antes de fixar os pés solidamente para eu a fazer subir, tudo foi lento em demasia, calculado e muito, mas mesmo muito, perturbador…

A minha preocupação, no momento, não era qualquer tesouro escondido ou mistério por resolver. Não passava de um predador, com um único objectivo. Deitar aquela fêmea, de que podia sentir o aroma ( …e, não, não era a pêssego!) sobre os torrões daquela terra vinícola e amá-la, como deveria ter feito logo no primeiro dia.

O equívoco da noite passada, as horas de amor que com ela julgara ter passado, a humilhação matinal quando me apercebera do engano, a adrenalina da interpretação das diversas pistas, o sol forte apesar do vento frio, tudo se conjugava para que me sentisse atordoado de desejo, prestes a qualquer atitude mais violenta, o que não era, de todo, o meu estilo...

“ Esta asa do galo tem uma palavra gravada…VEST !”

Vest…mas o que é que isto quereria dizer?

Mas já Cristina rodava o galináceo de ferro enferrujado e me transmitia a outra sigla? Palavra? Código? “ …deste lado está escrito VASE !!!”

A tentativa de descida foi, ainda, mais estimulante. Apertei Cristina pelas ancas para a fazer deslizar e senti o peso dos seios sobre o meu peito…As bocas aproximaram-se. De tão apertados, não conseguia distinguir o pulsar de cada um...

Foi nessa altura que um qualquer movimento em falso, nos fez estatelar na terra fria e húmida.

O momento mágico passara. Olhei aquela mulher cosmopolita e elegante, toda enlameada como também eu estaria, por certo…Soltámos, em simultâneo, uma gargalhada aberta que ajudou a dispersar os últimos átomos de erotismo que tivessem permanecido no ar.

E, então, começámos a ouvir o ruído de um helicóptero, que se aproximava…

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