terça-feira, 13 de abril de 2010

Fatalismo ou Infantilismo?

É um assunto que, periodicamente, me ocorre...

Estará o nosso Destino escrito e traçado desde que fazemos o nosso sonoro aparecimento neste mundo ou, pelo contrário, seremos nós que o vamos moldando com as nossas opções, escolhas e decisões?
Embora não aprecie muito essa posição, neste caso fico-me pelo Nim.

O fatalismo árabe de que nós somos dignos herdeiros não tem em mim um grande admirador.
O 'tinha que ser', 'estava escrito', 'seja o que Deus quiser' não são frases que orientem a minha vida.
Mas, por outro lado, o termos a pretensão do comando e gestão total do nosso futuro é algo comprovadamente falso.

Pergunto-me o que seria a minha vida se em vez de ter apanhado determinado avião tivesse escolhido o seguinte?
Não teria viajado ao lado de determinada pessoa, não teria chegado numa ocasião mas sim noutra, não teria apanhado o mesmo taxi...
Muitas vezes, basta o optarmos por descer pelas escadas em vez de usar o elevador para que o nosso destino se altere por completo.
Chegamos à rua dois minutos mais cedo, ou mais tarde, e já não somos atropelados, já não compramos o bilhete de loteria que, afinal, estava premiado...
O Tordo, numa das suas magníficas canções, diz ' A entrevista que era boa não saiu e o meu futuro foi aquilo que se viu...'
Uma entrevista, uma apresentação, uma bala perdida, uma bebida a mais, uma queda, uma onda, um vaso que cai de uma varanda, um livro que nos desperta uma ideia, um espectáculo para o qual arranjámos bilhete à última hora, um assalto, uma dor súbita, um riso contagiante que nos faz virar a cabeça....
Pequenos gestos, situações, acasos, que podem alterar toda uma vida estruturada até aí em determinada direcção.

Há cerca de vinte anos conheci numa pequena ilha no meio do Atlântico, a Mulher da minha vida e que viria a ser a Mãe dos nossos três Filhos.
Uma análise fria à lei das probabilidades dir-me-ia que eram parcas as hipóteses de ter ido tratar da realização do Festival de Música dos Açores e, a partir daí, tudo se ter desenrolado.
E se não tivesse sido eu a ir? Ou, se fossem outras as pessoas que viesse a conhecer? Ou se...? Ou se...?

A sorte, o destino, a coincidência têm um papel muito importante nas nossas vidas.
A determinação, a persistência, a força de vontade não são menos fundamentais.
Saibamos juntar à nossa pequenez de grão de areia, poeira ínfima do Universo, toda a grandeza de, em muitos casos, podermos dizer a última palavra e alterarmos o que, eventualmente, alguém decidiu para as nossas vidas.

Deuses e simples mortais.
Senhores e escravos.
Personagens e autores.
Vítimas e carrascos.

Desta dualidade nasce o que nos torna únicos, irrepetíveis.
Uma maravilha da Liberdade...
...fatal como o Destino!

5 comentários:

  1. Este merece um comentário mais estendido, no entanto agora estou à rasquinha de tempo ("I'll be baque..."), para já deixo só o linque para a a musiquinha a que te referiste...

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  2. Tenho para mim que esta confissão que veio do fundo do coração não pode nem deve ser comentada mas tão sómente, bem apreciada !

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  3. Aí está a fantástica capacidade que o Galo tem de dizer escrevendo o que em muitos de nós está presente no subconsciente, mas incapaz de tomar esta forma soberba de expressão. Também pergunto o que seria se não te tivesse conhecido, se bem me lembro, numa daquelas noites míticas no Loucuras!?!

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  4. Continue a divagar textos soltos e comporte-se como souber.

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  5. Ok, de volta...

    É imposível comentar tudo sem me alongar em excesso, e há partes aí que são pessoais e não me dizem respeito...

    Eis o que me se saíu, e tentando ser o mais sintético possível, o que para mim não é fácil:

    O nosso destino não está traçado coisa nenhuma, conquanto a ideia do fatalismo árabe

    (e isso vem de muito para trás, da culturinha e dos califas abássidas e dos omíadas, das mil e uma noites, dos sufis e dos poetas persas como Omar Khayyám)

    essa ideia seja qualquer coisa entre o poético e o eternecedor...

    :-)

    Na realidade, o que se passa é um efeito estudadíssimo ('self-fulfilling prophecy' = profecia auto-induzida, o que significa básicamente que se acreditares com muita força numa m#$%6a qualquer, e se convenceres um nº suficiente de outros 'gandulos' a alinharem nisso, a dita 'coisa' transforma-se em algo capaz de acontecer...)


    Precisamente neste sentido é que "o comando e gestão total do nosso futuro" será algo a que é mais do que possível almejar (e, f#$k me, até se pode alcançar !) sendo que o problema aqui é de onde é que tu partes, e até que ponto é que és 'condicionável' por (preencher aqui__________).

    No resto, meu caro, és um homem livre, e eu cá tenho uma fézada que assim continuarás... e todos os outros de nós também.

    Sorry, too f"#$%&&g long

    :-))...

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