quarta-feira, 7 de abril de 2010

LXIII - Isto aproxima-se do fim

Uma hora depois, encontrava-me sentado numa mesa da Flor do Bairro, numa sala que a Dona Rosa reservava para os clientes 'especiais'.

Cristina 'Foxy Lady' e o nosso 'salvador', o tal Miguel Gavião, eram os outros dois comparsas que me faziam companhia, tendo decidido finalmente contar a história de fio a pavio sem meias verdades nem mentiras completas.
A forma ternurenta como se olhavam, o tom carinhoso que a 'minha' Cristina utilizava para falar com o calmeirão que não encontrava lugar para esticar as compridas pernas , mostrava bem que aqueles dois formavam uma dupla em mais do que um campo e, certamente, em várias praias...

Fiquei surpreendido por estar a encarar este desaire amoroso com tanto fair play. Talvez o facto de, logo após a nossa entrada no café, me ter cruzado com a cada vez mais apetecível Rosinha e esta me ter murmurado " Quando é que posso ir a sua casa, para me ajudar...no trabalho da faculdade?"tivesse contribuído para este momento zen em que me encontrava.
Por outro lado, só o ter-me apercebido que afinal entre a Mercedes luso espanhola e a bem portuguesa Cristina não existia nenhum romance, deixara-me igualmente satisfeito, até porque o Miguel parecia ser um gajo porreiro.

Mas recuemos ao momento da entrada triunfal deste no apartamento da Cristina ( ...de ambos?).
Com a megera fanática estirada no chão, Cristina levantou-se e, num ápice, regressou à sala com dois cintos dos roupões horrorosos que utilizara antes para compor o seu personagem da ' Laura Palma'.
"Já não vou precisar de usar mais estas tretas, portanto há que dar-lhes alguma utilização".

Em menos de um fósforo, com a ajuda do Gavião que soergueu do chão, com aparente facilidade, o corpo adormecido, manietou de pés e mãos a indefesa criatura que ficou com o triste aspecto de um chouriço de fumeiro.
Depois de guardar, no bolso do casaco, a Walter caída, Miguel dirigiu-se com a desenvoltura de quem conhecia os cantos à casa até a um bar disfarçado, em que eu ainda não reparara, e serviu três doses generosas de bourbon que distribuiu pela Cristina, por mim e por si próprio.
" À nossa, bem o merecemos!".
Embora não aprecie bourbon e não tenha por hábito beber tão cedo, o sentir a bebida agreste e quente a queimar-me a garganta provocou-me um arrepio revigorante.
E, mesmo contrariado, até começava a simpatizar com aquele homem de farta cabeleira grisalha penteada para trás que, sob uma aparência calma e tranquila, escondia um bom sentido de humor e uma cortesia própria dos cidadãos do mundo.

A partir desse momento, tudo se desenrolou como se estivessemos a ver um filme em velocidade acelerada.
Telefonemas para cá e para lá. Um carro da PJ, da Interpol ou lá do que fosse, sem qualquer insígnia ou indicação que chegou à rua em poucos minutos, três agentes monossilábicos que, mostrando grande deferência pelo Gavião, algemaram a entretanto desperta Mercedes Trujillo Hernandez e a levaram até à viatura com grande discrição mas não sem conseguirem deixar de chamar a atenção de algumas pessoas entre as quais o marido da Dona Rosa que passava na rua com um cesto cheio de compras.

Por isso é que quando Cristina manifestou o desejo de irmos até à Flor do Bairro para sairmos daquele ambiente caseiro onde uma desgraça quase ocorrera e eu aceitara a sugestão de imediato, fomos bombardeados com perguntas de várias proveniências mal transpusemos a porta do estabelecimento da Dona Rosa.
Esta perguntara-me ansiosa " Quem era aquela, menino Nuno...uma das suas namoradas, não?".
O Telmo fora ainda mais directo, olhando de soslaio para os meus acompanhantes " Agora deste em ter amigos burgueses?"disse retirando-se para o balcão para dividir mais uma bejeca com o Cabeleira que me piscou um olho cheio de segundas intenções.

Foi então, como já disse acima ( mas nunca é demais repetir) que a capitosa Rosinha me salvou a manhã ao sussurrar " Quando é que posso ir a sua casa para me ajudar...no trabalho da faculdade?"

E, agora, ali estava eu sentado à espera da explicação de toda esta embrulhada...

3 comentários:

  1. Se não estiveres interessado, eu disponho de 'Rosas' para a troca...

    :-p

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  2. Na lapela do Nuno fica melhor a Rosinha

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  3. É.
    Para felicidade da Dona Rosa, o Nuno ainda vai ficar é com a Rosinha...
    Grande filme!

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