quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mais um escândalo para a colecção - Ricardo Araújo Pereira

Quem dera ao PSD que cada novo líder
revigorasse o partido
como cada novo escândalo
parece fazer rejuvenescer José Sócrates.

Dois acontecimentos recentes prometem devolver à vida política portuguesa uma certa dignidade que lhe vinha faltando: o PSD tem um novo líder e José Sócrates tem um novo escândalo.
Estão reunidas condições para que os dois maiores partidos portugueses ganhem um novo alento.
Os socialistas talvez tenham mais sorte que os sociais-democratas.
Quem dera ao PSD que cada novo líder revigorasse o partido como cada novo escândalo parece fazer rejuvenescer José Sócrates.

Este último tem aspectos encantadores, como o facto de, segundo o primeiro-ministro, os projectos daqueles edifícios terem sido elaborados a título gracioso.
Sendo, ao que parece, ilegal, é ainda assim um trabalho que recomenda José Sócrates para o cargo de primeiro-ministro: eis um homem que se empenha em resolver gratuitamente o problema da habitação.
Mas já custa a perceber que o engenheiro que ajudou a fazer aquelas casas tenha posteriormente sido, sem remorsos, ministro do Ambiente.

Parafraseando um pensamento célebre de José Sócrates, está para nascer o primeiro-ministro que consiga desenvencilhar-se de mais sarilhos do que este.
Ficamos com a sensação de que, se Sócrates viajasse no avião do Presidente da Polónia, sairia do meio da fuselagem fumegante a sacudir a fuligem do fato e a redigir um comunicado jocoso dirigido aos jornais, em que negava que o avião tivesse caído.
E a fumar, provavelmente, uma vez que não costuma dispensar o cigarro a bordo de aeronaves.

Tendo em conta a quantidade (e a qualidade, não sejamos injustos) dos escândalos, parece impossível que não tenha havido ainda um empresário disposto a explorar a afeição dos consumidores pelo coleccionismo que transformasse os escândalos do décimo sétimo e do décimo oitavo governos constitucionais numa caderneta de cromos.
A inexistência de um álbum que reúna todos os imbróglios aos quais o nome de José Sócrates aparece associado é uma das marcas da debilidade criativa da nossa iniciativa privada.
A caderneta teria uma secção sobre o escândalo Freeport, com as fotos de Charles Smith, do primo que está na China e do tio que vive em Portugal; outra secção dedicada ao escândalo da Universidade Independente, com um daqueles cromos panorâmicos da fachada da universidade, uma fotografia do professor de Inglês Técnico e um cromo do diploma com data de domingo; ainda outra página sobre o escândalo PT/TVI, com cromos de Rui Pedro Soares, Armando Vara e, evidentemente, Luís Figo - que, numa demonstração de grandeza apreciável, faria o pleno das cadernetas de cromos.
E assim sucessivamente.
Escândalos de Portugal - Uma Caderneta de Cromos.
O Planeta Agostini que fale comigo, a ver se não enriquecemos todos.

Ricardo Araújo Pereira in A Boca do Inferno ( Visão)

2 comentários:

  1. Modern cynicism, as a product of mass society, is a distrust toward professed ethical and social values, especially when there are high expectations concerning society, institutions and authorities which are unfulfilled.
    Cynicism can manifest itself as a result of frustration, disillusionment, and distrust perceived as due to organizations, authorities and other aspects of society, and thus is roughly equivalent to a substantive form of the English word "jaded".


    ("jaded" quer dizer cansado, gasto, batido, fatigado, dependendo do contexto...)



    A versão em pt-br (ou 'pob' = portuguese of brazil', se preferirem...) está aqui, mas é muito menos esclarecedora...

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  2. Moderno cinismo?
    O cinismo é de todas as épocas e para desancar o pinóquio serve muito bem !
    Eu prefiro o linguajar directo tal como de uso no boxe...porque não há forma de chegar o imprescindivel KO....para tal pessoa que a História um dia ainda vai retratar como o "cangalheiro" do País.

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