Pensei comprar-te um presente.
Porque hoje é Dia da Mãe e nestes dias solenes, como é o Natal, a Páscoa ou um Aniversário, é de bom tom oferecer prendas a algumas das pessoas mais chegadas.
E encontrar alguém mais chegado do que uma Mãe será difícil...
A primeira ideia que tive, nada original confessemos, foram as flores.
São femininas, atraentes, perfumadas.
Mas depois lembrei-me dos jardins onde brincaste comigo, dos passeios no campo, dos picnics à sombra das figueiras...
E achei que as flores seriam insuficintes.
Pensei de seguida, guloso como eu sou, em oferecer chocolates.
Embalagens perfeitas em forma de coração.
Um sabor profundo a desfazer-se na boca...
E vieram-me à memória os beijos doces com que me aconchegavas a roupa ao deitar.
Os chocolates seriam, apenas, uma pálida imitação.
Os livros, que sempre adoraste ler, embora a vista já vá pregando partidas, surgiram a seguir.
Mas, de repente, recordei as histórias espantosas que escutei da tua boca muito antes de saber juntar as letras.
O Gulliver e o Gato das Botas. A Ilha do Tesouro e o Peter Pan.
A eterna criança que teimava em não crescer. Como eu...
E não encontrei nenhum romance que te pudesse maravilhar por igual.
Os perfumes mais sofisticados, franceses em embalagem de cristal eram aromas comuns e vulgares lado a lado com a marmelada acabada de fazer e em que me pedias que rapasse os tachos ou com a roupa engomada, a cheirar a alfazema.
Os tecidos mais sedosos, em drapeados insólitos, não me fizeram esquecer o doce toque das tuas mãos a afagarem-me o cabelo revolto.
Os discos mais em voga, com vedetas mundiais a debitarem tops de sucesso, só serviram para fazer ecoar na minha memória as músicas que cantavas enquanto fazias as lides da casa.
E depois fui lembrando a tua presença constante, muitas vezes silenciosa, quando eu, ainda miúdo, te pedia ajuda e, mais tarde, quando a julgar-me já graúdo, fingia não precisar mas te sentia sempre presente, pronta a tudo dar, sem uma exigência, uma contrapartida...
Deste-me a Vida, o maior presente de todos.
Mas também Carinho, Ternura, Atenção, Apoio, Cumplicidade...
Tendo como resposta, muitas vezes, a minha (aparente) Indiferença, o meu Afastamento, a minha Frieza.
Por todas estas razões, e não apenas por ser Dia da Mãe encontrei, finalmente, o único presente digno de Ti.
Todo o meu Amor, não hoje mas sempre, sem limites ou condições.
Amo-te Mãe, obrigado por tudo.
domingo, 2 de maio de 2010
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Gostei do teu texto, do amor sem limeites ou condições, que na verdade é o que melhor caracteriza o amor de Mãe. Tomei a liberdade de colocar este texto que escrevi já há algum tempo:
ResponderExcluir"Contavas, com graça, os teus sonos irrequietos das noites dos primeiros tempos, quando ainda faltavam quatro horas para que também eu acordasse.
Lembro o cheiro da tua pele, a doçura dos teus abraços, a alegria transformada em sorriso com que os lábios beijavam todos os dias.
Como um ribeiro fresco arrefecias a minha vontade de tudo querer fazer ao mesmo tempo.
Lembro-me de ti nas minhas primeiras guerras vitoriosas, nos jogos em que ganhava sempre e só mais tarde descobri que estavam viciados por amor.
Vivo agora um rio vazio quando sinto a tua ausência, quando estás esquecida no teu mundo que já não é nosso, quando me atiras com palavras até então desconhecidas ou quando caminhas sem me querer ao teu lado.
Convivo mal com a bicicleta cor de sangue que me deste e ainda tenho, com o Taihti pintado por Gaugin ou Diego Rivera que tu sempre adoraste, com as fotografias de Marraquexe repletas de cores e cheiros diferentes que ambas fizemos.
Lembro-me de ti, Mãe, sempre, mas já não suporto a dor das recordações. Quero-te!
Procuro-te continuamente e perco as forças, perco o ânimo, pergunto-te, pergunto-me porque não estás?"
Conheci este senhor no Porto, em casa dele, éramos vizinhos... Difícil fazer melhor.
ResponderExcluirNo mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Simplesmente genial. É bom quando sabemos que Shakespeare não vive ainda, mas há pessoas que simplesmente sabem como traduzir sentimentos em palavras!Concordo com você quando diz "encontrar alguém mais chegado do que uma Mãe será difícil", talvez os filhos sejam quem mais pode se aproximar, mesmo assim não é fácil comparar.
ResponderExcluirJoão...
ResponderExcluirBonita homenagem, sobretudo vinda de quem gosta de esconder o que sente...
Noventa anos de Mãe são muitos anos!
Ainda quase crianças, conhecemos a mãe um do outro.
Da tua, guardo a imagem de serenidade, carinho e proteção; da minha, sei que guardas, pelo menos, a alegria e as gargalhadas sonoras, que herdei, mas que nem sempre consigo praticar...
A minha Mãe partiu cedo, aos sessenta e quatro anos.
Oxalá tenhas a tua, contigo, ainda por muito, muito tempo!
A minha a mesma coisa Natália, (27 Jan 1931 - 16 Mar 1995)
ResponderExcluir:-(
Recebido ontem, ainda estou para saber ao certo como diabo me meti com estes gajús do 'aussie' chapter da 'organização' .
João, esta foi fundo!!!!!!!!
ResponderExcluirE os comentadores seguiram-lhe o raciocínio!
Fantástico João, Parabéns pelo texto
ResponderExcluirLindo, lindo, lindo! Infelizmente às vezes existem coisas que ficam por dizer, e por essa mesma razão é que a relembro todos os dias que a Amo muito e a importância que tem na minha vida.
ResponderExcluirParabens João!