No Brasil quem manda engraxar os sapatos é Doutor, ou melhor, Dôtô...
Quem corta o cabelo na barbearia, idem, idem, aspas, aspas.
Em contrapartida, no México, Perú e demais países de língua hispânica, os Doutores dão lugar aos 'Licenciados'...
Muitas vezes nos cartões de visita a palavra Licenciado aparece com muito mais destaque que o próprio nome.
No outro extremo do fenómeno, nos States só os médicos recebem o tratamento de 'Doc'.
Todos os outros milhões de licenciados, doutorados e afins, são apenas o James, o Mr.Cook, e pouco mais.
Voltando ao Brasil, mais concretamente ao Rio, à sede da Soeicom ( empresa do Grupo Champallimaud) o, mais tarde assassinado por um empregado descontente, João Champallimaud, filho do dono do Grupo e administrador da empresa, perdia o apelido sonante e era somente o 'Dôtô' João. Ou então para os colaboradores mais íntimos o 'seu' João...
Chegados a Portugal deparamo-nos com o provincianismo do 'Doutor' e a ditadura do 'Apelido'.
Veja-se o caso do nosso PM, forjado e forçado 'Engenheiro'....
O Pedro, o Bernardo, o Ricardo são os Espírito Santos, outros são Mellos, ou Sotto Mayor ou Côrte-Real.
Ninguém perdoa ao Cavaco ser Silva, por isso ele vinga-se com o Professor Doutor, mas mesmo assim continuam a olhá-lo como um 'saloio'.
Apelidos com 'y' ou consoante dupla, são meio caminho na escalada social.
Nomes com ascendência estrangeira, seja polaca ou russa, italiana ou grega, são armas poderosas para o deslumbramento dos basbaques nacionais.
Sophia de Mello Breyner Anderson, independentemnte de todo o valor humano e poético que possuía, é o exemplo mais marcante do brilho que um nome pode conferir ao seu utilizador.
Esquecendo os personagens, se nos apresentam um Rebello de Souza, um Villaverde Cabral ou um Sotto Mayor Cardia, estamos mais preparados para ouvi-los do que se for o Manuel Santos, o Carlos Silva ou o José Pinto.
É hábito dizer-se "...é um Pereira Coutinho" independentemente do representante de tão ilustre família ser um alcoólico, um drogado ou, simplesmente, um indivíduo sem o mínimo interesse ou personalidade que, de diferente, tem apenas o apelido.
Que tal começarmos a olhar para as pessoas pondo de lado o acessório ( apelido, títulos, forma de vestir...) e concentrando-nos naquilo que eles têm realmente para nos oferecer - carácter, cultura, empatia, formação humana?
quarta-feira, 5 de maio de 2010
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Johnny, pequeno apport:
ResponderExcluirHavia um pequeno livrinho de capa côr-de-rosa (adorava saber onde anda o meu...) chamado salvo erro "Formas de Tratamento na Língua Portuguesa" onde o professor Lindley Cintra relacionava o número de antetítulos usados com o grau estratificação das sociedades... e a nossa é estratificada como o raio-que-nos-parta.
:-(
Seu José, eu, adora o uso anglo saxónico que infelizmente nunca chegou aqui ao cantinho nacional, sempre escondido e envergonhado.
ResponderExcluirMas paciência, cada terra com os seus costumes...
Em absoluta concordância com o espírito do ESCRITO, embora eu, ao atender uma chamada de uma call center, depois de confirmarem que se trata do fulano (nome completo, etc.) me passem a tratar por senhor João.
ResponderExcluirAí, vou ao teto e riposto:
- Ah, quer falar com o meu jardineiro! Pois, hoje não é o dia de ele vir!
E desligo.
PONTO FINAL !
O GALO DE BARCELOS AO PODER, JÁ !
Abraços afectuosos.
É!
ResponderExcluirNem tanto ao mar...
Quando me ligam de um call center, normalmente sou a "senhora Maria"...