Correndo o risco das generalizações apressadas eu acho os Portugueses demasiado 'contidos'.
Nas classes ditas populares ainda se encontram resquícios de emoção, mas, à medida que a ascensão social ocorre, a frieza, a distância, o ar blasê apodera-se dos seus membros, como os sapatos vela, as camisas Ralph Lauren ou os blazers azuis.
Basta olharmos para os nossos 'hermanos' espanhóis ou para os nossos 'irmãos' brasileiros para nos apercebermos de que eles se encontram a anos luz de distância, na demonstração física dos afectos.
Eles festejam o reencontro do amigo, que deixaram meia hora atrás, tocam-se, manifestam o prazer de estar juntos.
Nós, pelo contrário, não vamos além dos apertos de mão vigorosos, embora os tipo 'mão de vaca, gelatinosos também abundem.
Quando, depois de dois anos em Moçambique, no 'teatro da guerra', eu desembarquei de novo em Lisboa, o meu Pai deu-me um toque ligeiro no ombro e perguntou 'Então, rapaz, correu tudo bem?'...
Se isto é válido para ambos os géneros, é mais acentuado ainda no masculino.
Os machos podem dar umas palmadas vigorosas nas costas do parceiro do squash, mostrar os dentes num sorriso aberto ao compincha do poker, mas emoções 'viste-las'...
Um homem não chora, frase com que os rapazes são mimoseados desde a nascença e que foi título de um livro do Sttau Monteiro, acompanha-nos como uma maldição...
A virilidade, bem intocável mas frágil, frágil, é posta em causa aos primeiros olhos húmidos, às primeiras lágrimas derramadas.
E só quem chorou, algures nas curvas da vida, lágrimas quentes de saudade, lágrimas geladas de revolta e raiva ou as mais doces, de alegria ou emoção, é que sabe que chorar lava a alma, abre-nos ao exterior, agudiza-nos a sensibilidade e os sentimentos.
Nunca transmiti aos meus Filhos que escondessem o que sentem, que sustivessem as lágrimas, que não transmitissem a alegria dos encontros através de beijos ou abraços.
Por enquanto essas manifestações não são taxadas, não pagam impostos, nem são proibidas, aproveitemo-las.
Sou, claramente, um homem de Amizades femininas.
Encontro nas Mulheres uma afinidade maior, uma cumplicidade, uma partilha, que poucas vezes tenho descoberto entre os representantes do meu 'grupo'.
Os poucos, mas bons, elementos masculinos que me acompanham desde sempre, têm todos as mesmas características - amantes de Mulheres ( e 'amantes' em todas as opções da palavra), pouco machões, dados à dialéctica e à discussão pelo prazer da palavra.
Recentemente, tenho tido a sorte de descobrir vários outros 'varões' que se enquadram nesse departamento mas, mesmo assim, apesar do prazer que sinto ao vê-los e que sei ser recíproco, evitamos ser demasiado expansivos, demasiado emotivos.
É altura de, sem histerismos fáceis ou pieguices bacocas, nos libertarmos da grilheta da 'contenção' e passarmos a transmitir ao 'outro', amante ou amigo, homem ou mulher, a intensidade do que sentimos no momento, através das palavras mas, igualmente, com o realce de um sorriso, de uma festa no rosto, de um abraço no momento certo...
...A Emoção é o sal da Vida.
terça-feira, 4 de maio de 2010
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É isso aí, João!
ResponderExcluirAbsolutamente real o que diz! Há pessoas que parece terem medo de se expor, que as considerem fúteis e fora dos "cânones". Sou expansiva e transmiti essa maneira de ser às minhas filhas. Alguns confundem esta autenticidade com atitude "levezinha"...
João,
ResponderExcluirUm abraço, um beijo, uma saudade!
O comentário do pirolito142 fez-me lembrar de Mia Couto e das suas "Histórias Abensonhadas". Se não leram, leiam!
ResponderExcluirMuitas vezes os portugueses confundem expressão e expansão dos afectos com o serem metediços, na vida dos outros. São contidos, mas parece estarem sempre à espera da altura certa para extravasarem da pior maneira. Como se diz na minha terra "não têm perto nem longe". Pode ser abusivo generalizar, mas é-nos difícil não cobrar qualquer coisinha depois de ter expressado um afectozinho. Beijos e abraços. E não cobro resposta.
ResponderExcluirEu gosto muito do uso brasileiro mas por cá isto é impossivel...elas desconfiavam logo e eles não apreciam...
ResponderExcluirDepois do que a Q. disse aqui (subscrevo integralmente) não tenho nada a acrescentar.
ResponderExcluir:-)