segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A atenção é o Dólar - Miguel Esteves Cardoso

Ontem vi que O Amor É Fodido
está disponível para download,
a custo zero,
num blogue associado
a uma grande universidade brasileira.
Os meus livros sempre andaram por aí, na Internet.
Mas nunca tão descaradamente.

Ontem vi que O Amor É Fodido está disponível para download, a custo zero, num blogue associado a uma grande universidade brasileira.
Os meus livros sempre andaram por aí, na Internet. Mas nunca tão descaradamente.
Não só não me importo como acho uma honra ser, como se diz, pirateado.
Não é só pelo facto de eu próprio ser um pirata. É porque o mundo mudou.
A moeda mudou. Dantes a moeda era a posse.
A propriedade nunca esteve em causa. Comprava-se uma cópia de um disco para poder ouvi-lo. Comprava-se um bilhete de acesso àquele livro ou àquele filme.
Agora a moeda é a atenção. As pessoas só têm um xis número de minutos para dedicar às coisas que outras pessoas fazem para entretê-las.
Há milhões de bandas e coisas para ler e ver, de graça - e gratas pelo tempo que lhes concedamos.
Compram-se menos discos mas vendem-se mais bilhetes para concertos.
As pessoas pagam pela atenção de cá virem, de se mostrarem, de nos ouvirem, de respirarem o mesmo ar e de partilharem a vergonha de dizerem "Olá Portugal" ou "Boa noite, Matosinhos!"
Tudo isto está certo; tudo isto é esperto; tudo isto é facto.
Já (quase) ninguém paga para ter acesso a uma coisa já feita.
Querem vê-la a ser feita - ou, pelo menos, reproduzida.
Entretanto, aqueles que se fazem escassos e não se prestam a aparecer para serem apalpados têm de agradecer a atenção que nos pagam os que nos lêem e ouvem e vêem de borla.
Pagam-nos em tempo e em preferência.
É uma moeda valiosa, a atenção.

Miguel Esteves Cardoso

5 comentários:

  1. É exactamente como dixes Miguel...

    Contribuiçãozinha, vinda do outro lado do 'charco':

    Sempre precisei
    De um pouco de atenção
    Acho que não sei quem sou
    Só sei do que não gosto[...]


    Renato Russo (27.03.1960 - 11.10.1996)


    (...)...Quem tem a viola
    p'rá se acompanhar
    não vive sózinho
    naõ pode penar
    tem som de rio numa corda de varal,
    tem no ar um acorde final...(...)

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  2. Citei de cor, enganei-me....

    Aqui fica a lírica tal como foi escrita:

    ==============================================

    Quem tem a viola
    Prá se acompanhar
    Não vive sozinho
    Nem pode penar
    Tem som de rio
    Numa corda de metal
    Tem o mar num acorde final

    Quem tem a viola
    Prá se acompanhar
    Não vive sozinho
    Nem pode penar
    Tem tom de roupa
    Quando seca no varal
    Luz do Sol
    Quando cai no cristal

    Faz o luar brilhar
    E um coração vazio
    Voa vadio
    Feito uma pipa no ar


    ==============================================

    E a lírica não é do Renato, mas sim do Zé Renato, do Cláudio Nucci e do Xico Chaves.




    Mad cow is hitting me...

    :-(

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  3. Belo texto do MEC a provar que não há Vaca Louca que o ataque...

    ...nem a si Alvega.

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  4. Já agora,
    "O Amor é f$%&#o" p'ra grande orgulho do Miguel, está disponibilizado pela U.S.P. (a melhor univ. da América Latina e arredores, nem pensem que podem lá entrar se não tiverem médias semi-decentes...)

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