segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Make my Day

42
As expressões provocadas pela minha inesperada entrada em cena não podiam ser mais variadas.
Alegria indisfarçada da Deo, que estava um verdadeiro avião, temor nos venezuelanos, ódio no capanga brasileiro, ironia em Velic, desprezo do lado do Sérgio, curiosidade no detective português, partilhada também por um magricela de óculos Ray-Ban e uma soberana indiferença por parte da ex-modelo, ex-actriz ou lá o que era a dondoca Cassini...

Puxei de uma cadeira e sem pedir licença servi-me do tira gosto de queijo provolone que estava numas taças de vidro.
Depois de saborear o queijo de boa qualidade, gente fina é outra coisa, e prolongar o silêncio para lá do admissível, iniciei o discurso que preparara durante o percurso, olhando cada elemento do grupo, à vez, bem no fundo dos olhos.
"Vim aqui dizer que, apesar de ter sido obrigado a soltar estes dois cafajestes" e apontei os irmãos Chávez"só vou descansar quando tiver vocês todos, perdão, alguns de vocês, vendo o sol nascer quadrado."

O silêncio tornou-se de cortar à faca.
Se não estivessemos num local tão grã-fino ia-se poder ouvir um mosquito, só que no Copacabana Palace, mosquito, que é do povo, não tem entrada.
Servi-me da linguiça frita. Estava óptima.
"...nem que seja preciso levar este caso ao Ministro da Justiça ou ao próprio Presidente, só vou parar quando tiver acabado com a vossa raça de meliantes."

Sérgio Cassini, o mais inteligente e rápido nas decisões, de todo o grupo, resolveu adoptar outra estratégia." Mas seu inspector, está entre gente de bem"e para o empregado"Garçon, traz uma garrafa de Veuve Clicquot aqui para o Doutor..."
Em menos de um segundo tinha uma taça borbulhante, na minha mão.

O empresário do sub mundo baixou a voz "E para acompanhar a bebida o que lhe posso oferecer mais?"e com um sorriso matreiro que me tirou do sério" um carro zero quilómetros? Uma viagem à Europa?O inspector diz o valor e eu assino o cheque..."
O conteúdo da taça atingiu-o em cheio na cara.
Sérgio, num gesto automático, levou a mão ao coldre onde guardava a sua preciosa beretta.
Antes que pudesse concretizar o movimento, já eu lhe tinha encostado a minha arma à testa.
"Make my day!"a frase do velho Dirty Harry, sempre ecoara na minha cabeça.
Chegara, finalmente, a ocasião para a sua utilização.

Mas, agora, antes que toda aquela matilha de malfeitores caísse em si e tomasse alguma atitude mais irreflectida, era altura de fazer uma saída airosa pela direita alta.
Deo apoveitou a situação para dar um Alô geral e sair ao mesmo tempo que eu.

Já, no Calçadão, mostrou-me um papel que dizia, apenas:
"Vista Chinesa. 7 horas."
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4 comentários:

  1. Adorei o este nº 42, 'seu' J.V. !
    :-))

    prolongar o silêncio para lá do admissível...
    genial!!


    Copacabana Palace, mosquito, que é do povo, não tem entrada...
    Tem sim, mas é dumdumzado até à exaustão (do mosquito).

    ;-)

    Pormenor: eles não chamam 'linguiça' àquilo, tem outro nome (salsicha ? já não lembro).
    Em Minas vem com.... couve mineira, que havia de ser ??

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  2. "Make my day..."
    Com textos destes os meus dias já ficam, parcialmente, "Mades..."

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  3. Um autêntico guião de filme...

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  4. Cheguei tarde a casa.
    Cansada, com fome, a pedir sofá.
    Porém, tal como à PG - este "microconto" fez o meu dia...

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