António está devastado.
Dois anos depois do nascimento da filha, perde a mulher depois de ter perdido a cabeça com a colega do emprego que também perdeu.
Não aguentou nem os desejos nem os caprichos de uma gravidez tão desejada como indesejada.
O casamento foi ficando duro até amolecer.
E foi tão fácil de acontecer, uma palavra não dita, uma palavra atirada aqui e ali num momento de tensão, gestos que deixam de fazer sentido.
O silêncio porque não vale a pena.
Ah! e a colega do emprego, fresca e compreensiva.
O trabalho na equipa, o copo de fim de tarde e o quarto de hotel que o cartão dourado desvendou.
Diz que foi inábil. Não compreende a ausência de perdão para um episódio sem importância.
O AMOR É perdão, afinal. Acha que deveria prevalecer o sentido de família, a protecção da criança.
Sabe que deu o passo mais em falso na sua vida.
Mas a vida tem de continuar, afirma com a calma de quem atira para trás das costas o casamento e o episódio sem importância.
Um dia, depois de mais uns episódios sem importância com uma vizinha, é convidado para a festa de aniversário de uma amiga de longa data.
Reencontrou amigos que não via há muito, trocou inevitáveis olhares com mulheres que via pela primeira vez. Sentiu-se bem em festa.
O champanhe borbulhava, sobretudo na sua cabeça e deu consigo a fixar o olhar numa bela mulher, sem coragem de a abordar embora ela lhe tivesse devolvido o olhar por uma vez.
Estava literalmente atordoado. A festa continuou sem que nada acontecesse.
Regressou a casa e sentiu-a vazia, tinha saudades da sua mulher.
Mas nessa noite sonhou com a bela mulher que encontrara na festa.
No dia seguinte a amiga telefonou-lhe e disse-lhe que havia alguém que na noite anterior teria querido conhecê-lo.
O coração bateu-lhe apressado enquanto anotava um número de telefone.
Marcou um encontro, um café no dia seguinte.
Compôs o seu ar blasé e ao mesmo tempo desprotegido que tanto encantava as mulheres. Chegou à hora marcada e sentou-se na esplanada.
Não esperou muito até ver chegar uma mulher longe de ser bela e que lhe atirou, enquanto se sentava: “Olá António, que bom teres ligado”.
Percebeu que a amiga lhe falara de outra pessoa.
Fez conversa de circunstância durante um tempo considerado amável e despediram-se com a promessa de que lhe voltaria a telefonar.
Regressou a casa e voltou a sentir saudades da sua mulher.
Semprepinta
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009
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Se onde está António a Semprepinta tivesse escrito Paula, ia achar que ela me conhecia.
ResponderExcluirNão sei se foi por isso, mas adorei...
Oh Semprepinta, tão bom, que inveja !
ResponderExcluir:-)
Muitos parabéns !!
Afinal o Amor É ou não é?
ResponderExcluirDe qualquer forma, a Semprepinta tem pinta!!
E escreveu uma bonita história homenageando o casamento estável.
Simples e concisa, sem maneirismos. Como eu gosto.
ResponderExcluirPor certo era eu que o moço ficou paquerando na Party...
ResponderExcluirA propósito de nada, ou talvez da 'diferença entre "true love" e "love at first sight", filme p'ra hoje à noite e só porque eu amo a
ResponderExcluirBarbara Hershey há muitos, muitos anos, e para o meu azar, ela nem sequer sabe disso... nem nunca vai saber.
:-)
Ah, se não estão numa de comédias românticas ou de noticiários do "tio Chico", ou do Monix, ou do... e se não se assustam com facilidade, podem sempre tentar espreitar o antes de antepenúltimo aqui do semi-ex-não-se-percebe bem namorado dela.
ResponderExcluirDeve ser um horror, mas nunca se sabe...
J., sorry for the off-topic.
:-)
Semprepinta...está tudo dito!
ResponderExcluirHistória muito bem construída, mas que, no meu entender, não tem nada a ver com qualquer homenagem ao casamento estável... desculpe lá, meu caríssimo Zé Manel!
Se eu bem conheço esta outra (mesma) Pinta, ela está é a dizer-nos que os homens (ele há honrosas excepções...) não sabem estar sózinhos, que têm que ter sempre uma mulher por perto, mesmo que seja a sua própria ex-mulher... que eles trocaram por uma outra qualquer mulher!!!
C. , que conversa é essa agora ?
ResponderExcluirComo se tu não soubesses que até há teses de doutoramento sobre o facto de algumas, (parece que muito numerosas nowadays) pessoas, homens, mulheres, indiferenciados, outros, fazerem a a escolha saber e de viver (não necessáriamente estar...) sózinhos...
:-)
Alvega...
ResponderExcluirEste António do "O Amor é...", da Semprepinta, não és tu!
E estás a ensinar o Padre Nosso a quêm?!
Eu só estava a falar do texto da Pinta (para abreviar o pseudónimo...)!
C. , a minha ideia nunca foi ensinar nenhum padre nosso (que aliás já não sei recitar...) a ninguém, muito menos a ti, mas parece-me que não mais do que por acaso, estamos a falar de coisas diferentes.
ResponderExcluirSou eu que devo estar demasiado velho e obtuso, my bad, sorry...