Sempre imaginou que um dia escreveria uma história em que fosse preciso anunciar “esta é uma história real, embora os nomes das pessoas e dos lugares tenham sido ficcionados”.
Porém, desta vez, embora a história fosse real, os nomes nela contidos também o eram.
Começou a visitar o Galo e rapidamente se tornou obrigatório fazê-lo todos os dias, só mesmo quando era de todo impossibilitada pelo trabalho, não o fazia.
Era uma companhia para aliviar momentos de maior tensão, era um divertimento, era energia, era o apelo de algumas polémicas, era o grupo que se tinha formado quase que seguindo as etapas de constituição de uma equipa: “Form, Storm, Norm, Perform, Transform”.
Lembrava-se bem da fase de tempestade e agora sentia que o grupo estava quase apto a transformar-se, mais maduro, a aceitar as diferenças de cada um.
Em casa passou a relatar com regularidade alguns episódios e acontecia muitas vezes, quando o seu homem lhe dava alguma notícia fresca, dizer-lhe “sim, vi hoje no Galo”.
Quando passava muito tempo sem referir as suas visitas, era ele que lhe perguntava: “tens ido ao Galo?”, ou “como vai o Galo?”.
Muitas vezes também lhe enviava directamente posts do blogue.
Um dia deu consigo a reflectir se não estava a insistir demasiado com o Galo na relação e como é que ele encararia esta cumplicidade, mas ao mesmo tempo sabia que isso estava na partilha que havia entre eles.
E foi precisamente nesse dia que, pela manhã, a habitual mensagem que recebia dele por email, dizia:
“ Como se escrevesse um poema pinto a mulher
Que irrompe da plumagem azulácea do galo”
(Al Berto)
Emocionada, pensou, O AMOR É isto mesmo.
Maria
terça-feira, 10 de novembro de 2009
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Muito interesante Maria.Bem imaginado.Afinal, uma ode ao nosso Galo !
ResponderExcluirExcelente, Maria!
ResponderExcluirPor momentos acreditei que o Galo ia provocar uma crise de ciúmes em casa...E será que não?
Gostava de ter escrito este texto.
ResponderExcluirEntendo-o, sem leituras demasiado básicas.
Parabéns, Maria...simplesmente!
Maria...
ResponderExcluirÉ o que se chama "com uma cajadada, matar dois coelhos"...
Muito bem esgalhado!
Parabéns Maria, texto gostoso !
ResponderExcluirAqui te deixo o meu preferido desse poeta que citaste, e que para lá do talento era uma pessoa muito interessante:
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Há-de flutuar uma cidade
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Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade,