quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Telefonema inesperado

34

A massagista filipina tinha cabelo negro, escorrido, e formas
voluptuosas, apertadas numa bata minúscula, sobre o corpo moreno.
Sérgio Cassini gostava que as mulheres que o rodeavam no seu
dia-a-dia, e eram muitas, adoptassem aquele look vulgar e apimentado.
Enquanto deitado na base de bambu, junto à piscina interior
aquecida, sentia as mãos experientes passar-lhe
óleo perfumado por todo o corpo, gostava de entrever
o rego dos seios, as coxas, ou sentir a temperatura do corpo
da asiática, quando esta o roçava,
num qualquer movimento mais alongado.
Naquele dia, a jovem Concepción tentava agradar ao patrão,
passando-lhe as mãos lentamente no baixo ventre
e encostando-se-lhe sempre que possível.
Mas os pensamentos de Sérgio andavam por longe…
Qual a razão que o levara a escolher uma mulher metida a besta,
uma patricinha sem pimenta, quando bastava estalar os dedos
para ter uma dúzia de belas morenas, de curvas e moral
generosas, dispostas a tudo para lhe fazerem um chamego.
O seu temperamento sanguíneo fez-lhe subir a raiva à cabeça…
Se a Gabriela estivesse perto de si…mas,
por onde andaria essa piranha?
Ligara várias vezes durante a noite para o apartamento dela
e não obtivera qualquer resposta.
Pelas quatro da manhã, mandara os capangas
deitar a porta a baixo, mas não estava lá ninguém.
Outra qualquer pessoa teria pedido à recepção
para que abrissem o quarto com a chave mestra,
mas Sérgio não era um Cliente qualquer…
Quando queria algo ou alguma coisa, tinha que ser no momento.
Absorto nestes pensamentos não ouviu o zumbido do seu celular,
que fremia na mesa onde se juntavam o cronómetro suíço
e a carteira italiana de pele de crocodilo.
Foi a solícita filipina que lhe entregou o aparelho,
brindando-o com um sorriso insinuante.
“Allô? Fala…”
Durante alguns segundos escutou o outro lado,
uma ruga de preocupação, a formar-se no meio da testa.
Mas, cedo, cortou o monólogo “Ouça seu bunda mole, seu viadão
feito policial, quero esses meus amigos…amigos, não,
empresários internacionais e associados,
na rua, em menos de meia hora !”
E, perante as reticências, do outro lado “Corta essa…o que pago
a você dá para botar vaselina em todos esses tiras
de meia tigela que trabalham em seu departamento”.
Nova, e breve, interrupção “ Esse é honesto? Não me faz rir,
policial brasileiro honesto
é o mesmo que moça de programa virgem !”
E, antes de desligar o celular “ Em meia hora
quero esses tais de Chavez aqui no hotel, Seabra
…e sem papo furado !”
Depois já mais calmo, relaxado pelas mãos experientes
de Concepción, interrogou-se:
“ Mas o que fazem os dois Chavez, logo os dois, aqui no Brasil,
sem me terem avisado de que vinham, nem da sua chegada ?!???”

7 comentários:

  1. Já alguém lhe chamou "história sem fim" e com razão.
    Quando tudo aponta numa direcção, surgem novas situações...
    Está óptimo!!!

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  2. Um dos melhores episódios.

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  3. Eu também voto no "sem fim"...mas sem descrições de "morenas de formas voluptuosas apertadas em batas..."

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  4. A Moira de Trabalho é que pôs o dedo na ferida...para quê as batas? Cinto de ligas e sapato agulha era suficiente!

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  5. Galo, você prometeu não contar pra galera minhas aventuras como massagista, valeu?

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  6. Quero encomendar um exemplar assinado...

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