segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um Amor e uma Cabana

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Já há bastante tempo que Gabriela estava acordada, embora permanecesse de olhos fechados para que Teo não se apercebesse do seu despertar e não recomeçasse naquilo que ele pensava, pobre coitado, serem armas infalíveis para levar uma mulher, naquele caso, ela, à loucura.
Apertões violentos, beijos demorados com muita saliva à mistura, mudanças bruscas ilustrando todas as posições possíveis do Kama Sutra, esgares e rugidos orgásmicos e, por fim, a cereja no topo “ Gostaste? Foi bom, não foi?”.
Aquilo já ela conhecia de casa, embora, para sermos justos, Sérgio fosse menos boçal mas mais violento levando, principalmente nos últimos tempos, as suas episódicas relações para a área do sadismo.
Os pensamentos fugiram para um campo que lhe era mais agradável…
A amizade, colorida como lhe chamam no Brasil, com Giselle, sua antiga companheira dos desfiles de Moda e que, agora sempre que podia, visitava no simpático Apê que esta mantinha em São Conrado, embora fosse natural de São Paulo, onde tinha a família.
Ainda há dois dias passara umas horas com a amiga que lhe tinham retemperado as forças e a vontade de viver e lutar contra as circunstâncias adversas que, no momento, se lhe atravessavam no caminho.

Conseguira despistar o tonto do Teo, que a seguia num táxi a cair de podre, e fora recebida pela amiga de braços abertos.
Tinham-se despido lentamente e depois mergulhado no pequeno jacuzzi colocado no deck de madeira que forrava a larga varanda sobre o areal da praia.
A humidade salgada que exalava das ondas contrastava com a tepidez da água, a que os óleos perfumados, davam um toque sensual.
Tinham-se ensaboado, com vagar, e, muito depois, amado sem sofreguidões, sem a necessidade de marcar territórios, sem se saber quem possuía ou era possuído.
Mais tarde, vestidas com roupões felpudos, a beberem um vinho branco chileno e a debicarem pedaços de queijo, tiveram ainda tempo para falarem de moda e de praia, dos últimos livros lidos e dos filmes vistos, dos problemas de cada uma e do projecto sonhado em comum – alugarem uma casa em Bali, onde a sua relação se iniciara durante uma sessão de fotos para o habitual calendário duma célebre marca italiana de pneus, e ficarem por lá, longe de tudo e de todos, até se fartarem…
Algum dia, realizariam esse desejo?

Foi, nesse momento, que eclodiram as tais pancadas na porta do quarto do motel, que tinham deixado Teo petrificado.
Ao ver que este não se mexia, aterrado, e que, de novo, se ouvia o estrondo na madeira, Gabriela envolveu-se num toalhão e abriu a porta que ligava para o vestíbulo.
Um gordalhufo, todo suado, com o uniforme do motel, olhava-a, mal conseguindo falar, tal era o nervoso:
“Moça…fuja depressa. Estão uns caras armados…na recepção…que dizem que vêm transformar vocês… em presunto!”.

2 comentários:

  1. Crimes, sadismo, droga, jogo, prostituição, violações, guerra, reformatórios, viagens, adultério, moda, homossexualidade, masculina e feminina...o que é que se pode pedir mais?

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  2. depois da descrição da cena com a Giselle, o gordalhufo suado?... é mesmo um sonho desfeito.

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